• Carregando...
As mulheres, suas lutas e desafios diante dos ODS
| Foto:

Ela era poderosa, em todos os sentidos. Era também inteligente, livre e determinada. Era a segunda pessoa em autoridade em uma grande multinacional. Sabia ser dura, mas também comandava festas como ninguém.  Sua independência era tida como virtude. Cometeu, porém, um erro de avaliação, talvez por achar que poderia ser coerente: ousou dizer “não” a um pedido suspeito do Presidente em uma reunião do Conselho Administrativo com parceiros internacionais. Logo depois, foi destituída de suas funções e banida.

A essencialidade da obediência feminina na cultura machista do Conselho foi depois confirmada em um memorando interno, que circulou entre os executivos: “todo homem deve saber governar sua casa.” Todos anotaram o recado.

Escolheram sua substituta após um longo e complicado processo. De “excelente aparência” e inteligente, era perfeita como ‘cartão de visitas’ da empresa. Ao contrário de sua antecessora, demonstrava total submissão e aceitava cumprir seu papel sem questionamentos. Possuía excelente capacidade de articulação e tornou-se bem quista pelos funcionários. Por outro lado, ela não queria que ninguém soubesse de sua origem humilde, seu sofrimento e o quanto havia lutado para chegar a esta posição. Sua docilidade e compreensão de que “não deveria agir sem ser chamada” tornaram-na a queridinha dos superiores. No íntimo, parecia também desprezar sua precursora achando-a arrogante.

Uma crise, porém, viria a mudar todas as coisas. É impossível subir tanto sem também conquistar inimigos. Em determinado momento, ela percebeu que os riscos institucionais gerados por um forte diretor corrupto ameaçavam sua sobrevivência e a de pessoas ligadas à sua história. O conflito cresceu em seu íntimo, assim como os riscos externos aumentavam dia a dia.

Como mulher e como líder, precisou se reinventar. Somou ao seu temperamento e caráter o perfil de sua antecessora e conseguiu evitar uma tragédia. Assumiu e revelou sua história, entendendo que sua missão era maior que sua posição. Ao contrário do que temia, no final sua integridade acabou revertendo toda situação. Ela soube ser ousada no momento certo, usando estratégia, coragem e muita sabedoria. A conspiração do diretor veio à tona diante de todos e o mal se voltou contra o malfeitor.

Os detalhes dramáticos desta história se encontram em duas narrativas históricas: no Tanakh (a “bíblia” judaica), e na Bíblia Cristã. Com liberdade criativa, descrevemos a história de duas rainhas: Vasti e Ester. Ester foi uma menina órfã de guerra, criada pelos tios, exilada em um país distante do seu e tornada escrava. Acabou no harém do Rei da Pérsia, finalmente ascendendo à posição de Rainha. Nesta posição acabou tornando-se um ícone na defesa de direitos dos mais pobres, excluídos e em processo de extermínio: seu povo.

Atualmente, a posição de trabalho, lutas e liderança das mulheres é igual em todos os setores. Porém, na maioria das vezes quando exercem as mesmas funções e responsabilidades dos homens, são discriminadas por questões de gênero. Suas lutas por espaço e reconhecimento ainda encontram resistências mesmo em ambientes onde tradicionalmente deveriam ser respeitadas: no Terceiro Setor.

Como força de trabalho, basta considerar um indicador muito prático: a faixa salarial das mulheres é sempre menor que a dos homens, considerada a mesma função. Em nenhum lugar do mundo as mulheres ganham mais do que os homens. As diferenças oscilam de 40% a 05% a menos, levando em conta o pior e o melhor cenário entre países da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, entidade que congrega 35 países que aceitam a democracia representativa e a economia de mercado. No Brasil, a média reconhecida para esta diferença está em 15%. O fato de existirem exceções apenas reforça esta regra.

Nos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030, encontra-se o Objetivo 05.c: Adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas em todos os níveis. Este objetivo demonstra que mesmo 2.200 anos após a narrativa de Vasti e Ester, os problemas persistem. É uma luta constante, polêmica, mas que precisa ser reconhecida e relembrada, todos os dias, por todas as pessoas. Meninas e mulheres ainda sofrem discriminações diariamente em todo mundo, de diferentes formas. O Terceiro Setor deve ser exemplo na sua defesa de direitos.

A história de Ester pode servir de inspiração. Como mulher, venceu resistências culturais externas e conflitos internos, saindo de uma posição de subserviência para assumir seu protagonismo na história. Ela se reinventou e superou com sensibilidade e coragem cada desafio, tirando o melhor de cada um dos papeis que desempenhou.

Em sua origem, o nome ‘Ester’ remete a um arbusto típico e muito resistente do Oriente Médio conhecido como Mirta. Esta planta possui uma flor parecida com uma estrela que, quando esmagada, exala um agradável e suave aroma.

Parabéns às mulheres que nos inspiram e conspiram para uma sociedade mais justa: nosso reconhecimento e respeito a todas vocês!

 

*Artigo escrito por Gustavo Adolpho Leal Brandão, Consultor Especializado pela UFRJ para o Terceiro Setor, Certificado pelo PMD PRO – Project Management for Development, Empresário, Consultor na Una Consultoria Social, Coach e Consultor em Compliance pela Mentoris Ltda.

**Quer saber mais sobre cidadania, educação, cultura, responsabilidade social, sustentabilidade e terceiro setor? Acesse nosso site! Acompanhe o Instituto GRPCOM também no Facebook: InstitutoGrpcom, Twitter: @InstitutoGRPCOM e Instagram: instagram.com/institutogrpcom

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]