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O Princípio de Pareto e o desafio da eficiência
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No verão de 1896, na Suíça, Vilfredo Pareto foi fazer seu costumeiro passeio matinal na horta de sua casa.  Como engenheiro e economista na universidade de Lausanne, observava cuidadosamente sua produção. Era o tempo das ervilhas.

Passeando entre as fileiras de sua plantação, coletou várias vagens e voltou para casa. Sentou-se à mesa da cozinha e começou a descascar uma a uma, fazendo meticulosamente suas anotações. Era assim todos os dias.

Ele foi abrindo as vagens e colocando as respectivas ervilhas ao seu lado, formando assim duas colunas: uma de vagens, outra de ervilhas. Ao final de 15 vagens, conseguiu 45 ervilhas. Quando estava pronto para fazer suas anotações, percebeu naquele momento uma coisa estranha: três vagens haviam rendido 36 ervilhas. As demais 12 renderam apenas nove! Isso dava muitos espaços vazios na maioria das vagens. Resolveu checar suas anotações anteriores.

Para sua surpresa, a proporção se mantinha. Folheando suas anotações, percebeu sempre que 1/5 das vagens continha 4/5 das ervilhas. Como se fosse um sino na cabeça, lembrou-se de uma notícia lida no jornal há dois dias. Pegou a notícia e releu:

“– Os ricos ficam cada vez mais ricos: Cerca de 80% das terras italianas pertencem a uma elite minoritária.” Perplexo, Pareto foi lendo: minoritária quanto? Vinte por cento. Um Quinto.

Seus olhos se arregalavam enquanto insights percorriam sua cabeça. Ervilhas. Produtividade. Riqueza. Trabalho. Saúde. Investimentos. Natureza, resultados, economia, recursos, tudo ia se encaixando.

O Princípio 80/20

Pareto acabou demonstrando o famoso princípio 80/20: 80% da riqueza é produzida por 20% da população. Ou, 80% dos resultados podem ser atribuídos a 20% dos esforços. E esta fórmula passou a ser aplicada e comprovada de maneira geral em diversas áreas além da economia, em variados contextos:

80% das consequências derivam de 20% das causas.

80% dos resultados vêm de 20% dos esforços e tempo gasto.

80% do lucro das companhias derivam de 20% dos produtos e consumidores.

Pense agora na sua Organização: será que poderíamos também afirmar que 20% de nossos esforços/clientes seriam responsáveis por 80% de nossos resultados? De acordo com Pareto, sim. Faça um teste e diga o que você encontrou.

Pareto e o Marco Regulatório

Em 2011 o governo suspendeu o repasse para as ONGs com quem tinha convênios. Motivo? De 70 a 80% dos recursos públicos eram gastos indevidamente pelas entidades que recebiam verbas federais, conforme o relatório de tomadas de contas especiais da Controladoria Geral da União (CGU). Desperdício era o nome da farra administrativa e financeira.

A partir deste contexto de fiscalização e desconfiança nasceu o Marco Regulatório: havia desperdício, ineficiência, má administração e mesmo crimes sendo cometidos com o dinheiro público e mesmo com doações privadas. Seguindo o princípio de Pareto, 80% (ou mais) das entidades tinham sérios problemas no uso de recursos, infraestrutura inadequada ou irregular, desperdício, além de muitas vezes serem usadas para empregar “amigos.”

Contando as ervilhas de cada setor

Pense novamente em sua organização e seus departamentos: administrativo, financeiro, operacional, marketing, comercial, e assim por diante. Faça a seguinte pergunta: estamos realmente entregando o máximo com os recursos disponibilizados? Tenho pessoas comprometidas com o resultado da minha causa? Onde posso detectar eventuais desperdícios e eventualmente promover a eficiência, a inovação e a transparência?

O Princípio de Pareto é um alerta para as organizações. Hoje dispomos cada vez mais de recursos e tecnologia para uma devolutiva social de qualidade. Devemos nos preocupar não apenas com os resultados, mas também em como os entregamos. Ser ético é ser também eficiente no uso de recursos.

A experiência de Pareto e a nossa história apontam ambas na mesma direção: a ineficiência é clássica e matematicamente verificável. Resta a cada gestor verificar onde existem eventuais problemas e apontar suas saídas. Podemos sempre melhorar.

Como disse Steve Jobs: foque em 20% das operações que produzem os melhores resultados. Livre-se dos 80% que consomem tempo e recursos desnecessários. Na grande maioria das vezes, menos é mais.

 

Gustavo Adolpho Leal Brandão é Especialista pela UFRJ em Gestão do Terceiro Setor, Certificado pelo PMD PRO – Project Management for Development, Empresário em Educação e Desenvolvimento na Mentoris Educação e Desenvolvimento, Coach e Consultor em Compliance. é parceiro do Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.

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