Um dos aspectos mais discutidos da sustentabilidade é o uso de recursos finitos. Apesar de não receber muita atenção, indiscutivelmente o que temos absoluta certeza é que o tempo também é finito. Não digo o tempo do ponto de vista da física ou da filosofia, mas sim o tempo que cada um possui. Sabemos que, cedo ou tarde, esse recurso vai acabar.
Por sorte nossa, a expressão “Tempo é dinheiro” ainda é apenas uma metáfora. O filme “O Preço do Amanhã”, ficção científica de 2011, leva o ditado popular ao pé da letra, mostrando uma sociedade onde o tempo é a moeda, e onde os ricos podem viver para sempre e os pobres morrem por acabarem sem tempo. Um detalhe curioso da história é que os pobres estão sempre correndo e fazendo tudo apressadamente, pois a cada minuto que passa do seu limitado e curto tempo, eles estão um minuto mais próximo da morte. Já os ricos, se dão ao luxo de fazer tudo lentamente, mas não assumem risco algum, pois temem que algum acidente lhes tire a vida que poderia ser eterna. Nesta metáfora, o filme questiona as duas formas de desperdiçarmos nossa vida: correndo e fazendo de tudo apenas para garantir nosso dia de amanhã, ou não fazendo nada e deixando de viver o que poderia ser vivido com medo de perdermos algo.
O filme explora o valor do tempo, mas o mercado já sabe o quanto esse recurso é valioso. É só prestarmos um pouco de atenção ao nosso redor para percebermos que nosso mundo é construído para maximizar o uso do tempo. Carros nos levam mais rápido até onde queremos ir, elevadores nos levam por diversos lances de escada em segundos, aviões rasgam o céu para pouparmos o tempo da viagem por terra, e a evidência mais sutil e profunda são nossos computadores, que ficam cada vez mais rápidos a cada dia, mesmo que seja para usarmos o Word cinco segundos mais rápido do que o modelo anterior.
Pode-se até dizer que estamos obcecados em maximizar o nosso tempo, em fazer o máximo no mínimo de tempo possível. No ambiente de negócios a aceleração também chegou, e já faz tempo. A vida de muitos trabalhadores é uma sequência interminável de urgências, com prazos cada vez menores, e um número cada vez maior de tarefas para serem cumpridas em um prazo de 8 horas.
Toda essa eficiência no uso do tempo tem uma consequência paradoxal: não temos tempo para refletir o uso do nosso tempo, e por isso acabamos por não valorizá-lo. Faça um rápido exercício, tente lembrar como você percebia o tempo quando tinha 8 anos… Os anos pareciam longos, e você se lembra de vários detalhes também, certo? Agora tente lembrar o seu último mês… Parece que passou voando? Não se lembra de muitos detalhes, só dos fatos que realmente marcaram? E no ano passado? Provavelmente vai parecer que 2012 foi o ano mais rápido da sua vida, certo? Isso é natural e acontece por dois motivos: um é nossa percepção temporal e outro é nossa atenção. Quanto tínhamos 8 anos, 1 ano representava 1/8 da nossa vida. Quanto mais velhos vamos ficando, essa fração começa a ficar cada vez menor, 1/30 para alguém de 30 anos, 1/50 para alguém de 50 e assim por diante. E, como a física já comprovou, o tempo realmente é relativo, e nosso cérebro percebe que 1/8 é maior que 1/50.
O outro motivo é que para nosso cérebro trabalhar rapidamente, deve automatizar os processos. Pensar leva algum tempo, então para fazer algo rápido a maneira é não pensar. Um exemplo fácil de perceber isso é aprender a dirigir, no começo é bastante difícil coordenar os movimentos. Mas com a prática o cérebro vai automatizando esses processos e quando percebemos, já nem pensamos em trocar a marcha, e já está trocada. No entanto, quanto mais processos automáticos nosso cérebro faz, menos nossa memória grava. Isso nos dá a impressão de que longos períodos que ficamos fazendo coisas automáticas, na memória ficam apenas alguns minutos.
Mas então, qual a relação entre sustentabilidade e o tempo?
Quando analisamos a sustentabilidade do ponto de vista do filme, o tempo é um recurso vital para o pilar social. Então podemos questionar se essa não está nos fazendo desperdiçar o nosso recurso mais precioso. Como estamos usando este nosso preciso recurso particular? Melhor usarmos com sabedoria, afinal, ninguém sabe o quanto tempo tem ainda no seu estoque.
*Artigo escrito por André F. Bongestabs, articulador no SESI-PR, parceiro do Instituto GRPCOM
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