Gerenciar uma organização do terceiro setor pode apresentar uma série de desafios, como exigências e burocracias frente a fontes financiadoras, diversos encargos e ações designadas pelo poder público. Isso tudo somado a dificuldade em atrair recursos financeiros. Muitos desses desafios são exclusivos desse setor, por que, então, não se é exigido para o terceiro setor a mesma qualificação e capacitação dos seus gestores como nos demais? Para que a saúde financeira seja mantida e a organização cresça de forma sustentável e estável, conhecimentos de gestão se tornam imprescindíveis.
Ao longo da minha experiência trabalhando na ASID (Ação Social para Igualdade das Diferenças), fornecendo assessoria em gestão para organizações filantrópicas que trabalham com pessoas com deficiência, pude perceber o grande gargalo de desenvolvimento da maioria das organizações: as pessoas designadas dificilmente possuem o conhecimento teórico ou prático necessário da parte administrativa/contábil da função que executam. Estas, na maioria pedagogos, psicólogos, assistentes sociais ou até mesmo pais de alunos, por amor à educação especial e por vontade de trazer melhores condições de vida para as pessoas com deficiência, acabam assumindo esses cargos. Essa conjuntura não é exclusiva da causa da pessoa com deficiência: o terceiro setor, como um todo, apresenta uma situação semelhante.
A partir dessa problemática, podemos virar a chave da situação e encontrar uma solução. Os diretores e responsáveis pelas instituições, de forma geral, são extremamente motivados a fazer acontecer e superar os desafios existentes. Se a motivação já existe, o que os falta agora é o conhecimento. Partindo desse princípio, novos negócios sociais vêm surgindo para mudar a realidade, como a ASID, que auxilia provendo um diagnóstico geral da instituição, seguido de um projeto de consultoria para o desenvolvimento de atividades. Outro exemplo é o Instituto Legado, que oferece um programa de capacitações, imersões, assessorias, eventos de rede, e até mesmo investimento social, anualmente para um número definido de instituições.
Pude presenciar, com a aplicação da metodologia da ASID, a diferença que essa capacitação pode trazer para as instituições. Apenas com a aplicação de conceitos básicos de gestão, como implementação de fluxo de caixa, análise de previsto x realizado, criação de um planejamento estratégico, entre outras atitudes consideradas simples para quem possui experiência administrativa, os resultados alcançados por muitas instituições já foram significativos, pois, a partir disso, tornou-se possível criar um planejamento de gastos e dívidas, mapear necessidades de captação de recursos e estabelecer uma cultura organizacional clara entre todos os funcionários.
O ponto principal de desenvolvimento para o terceiro setor é a mudança de postura adotada por quem trabalha nele. Uma organização filantrópica é também uma “empresa”, que deve ser administrada como tal, que não distribui lucros, mas precisa ter uma receita maior que a despesa para continuar funcionando e até mesmo atender cada vez mais pessoas. Enquanto essa postura não for percebida e adotada por instituições, que insistirem em permanecer no amadorismo, tão comumente associado a elas, não veremos mudanças reais nas áreas deficitárias da nossa sociedade. Fica um convite, vamos juntos gerar cada vez mais impacto social?
*Artigo escrito por Kaio Jara Faria. Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná, realizou parte da graduação em Civil Engineering with Business Management na University of Birmingham. Atua na área de consultoria de projetos na ASID Brasil (Ação Social para Igualdade das Diferenças), ONG que trabalha para aprimorar a gestão das escolas gratuitas de educação especial, resultando na abertura de vagas e melhoria da qualidade de ensino. A ASID colabora voluntariamente com o Instituto GRPCOM no blog Giro Sustentável.
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