Na década de 60, um homem que pensava que o Brasil poderia se tornar potência na aviação, juntou um grupo de pessoas para colocar o projeto no papel. Na época, isso era praticamente impossível, pois o país passava por um período crítico na economia. Mas, para Ozires Silva, a ideia poderia alavancar a imagem brasileira no cenário mundial.
Se naquela época era difícil empreender, hoje há outro cenário. A cada dia novas ideias surgem em diversos lugares do mundo. Mesmo assim, muitas dessas iniciativas ficam apenas no papel por falta de incentivo financeiro, do governo, da empresa e até mesmo dos colegas próximos.
E para o futuro, qual a previsão? O que se espera das empresas privadas e governamentais? O brasileiro é um povo empreendedor? Vejam essas e outras respostas de Ozires Silva, um dos fundadores da Embraer e ex-presidente da Petrobras, falando sobre o futuro do empreendedorismo:
Quais as perspectivas de futuro na área de empreendedorismo?
O empreendedorismo apresenta na atualidade a iniciativa de primeira prioridade, entre as tantas que justificam aspirações, e mesmo esperanças, do desenvolvimento econômico das nações. Os consumidores definitivamente são movidos pela inovação de produtos e serviços, que na atualidade são oferecidos em variedade e quantidade realmente expressivas no comércio exterior internacional. Os países tradicionalmente desenvolvidos têm aplicado muitos recursos, públicos e privados, para incentivar a criatividade colocando os inventores e pesquisadores, em empresas e universidades interessados em avançar sobre o desconhecido, buscando novas soluções para novos e velhos problemas. Do mesmo modo, os países emergentes, com destaque para a Coréia do Sul e China, estão crescentemente melhorando suas alternativas de exportação de bens de valor agregado cada vez maior e, sobretudo, mais complexos e capazes de responder com eficiência às aspirações dos consumidores mundiais. Deste modo, se muitos se surpreendem com o que vem acontecendo nesse quadro de mudanças de ofertas, podem ter a certeza de que tais processos de criação e de inovação tendem a se acentuar para o futuro!
O que falta para que ideias cada vez mais inovadoras sejam efetivamente utilizadas?
Dentro de suas possibilidades internas os países buscam soluções para que as ideias, cada vez mais inovadoras, realmente se transformem em produtos que gerem receitas de venda, emprego etc. Ou seja, possam ser as alternativas que levem ao crescimento e progresso, gerando empregos e rendas crescentes. Uma das iniciativas é o estímulo ao desenvolvimento de tecnologias a partir da criatividade geral. Mas, como se estabelece no mercado mundial, inovação é uma criação que se transformou em produto, isto é, foi fabricado, distribuido, vendido e utilizado livremente. O Brasil, por exemplo, já absorveu a ideia de que é necessário contribuir para o desenvolvimento de tecnologias, mas certamente nos faltam mecanismos financeiros, como os de “venture capital” ou capital de risco, aplicados com intensidade crescente nas regiões e nações que estão prosperando.
O brasileiro é um povo muito criativo, essa criativdade é usada de maneira errada? Ela não poderia ser canalizada para ideias inovadoras que mudariam seus próprios futuros?
Sem dúvida, o povo brasileiro é criativo. Não diria que essa criatividade seja utilizada de forma errada. O problema é que desenvolvemos, ao longo dos anos, uma burocracia pesada, cheia de limitações e de demoras que não deveriam existir. O curioso é que todos, autoridades e população, reconhecem a deficiência de tantas comprovações e tantos carimbos que são necessários para se investir em algo novo. Os propósitos dessa burocracia por vezes são necessários, mas precisariam ser filtrados em relação a sua eficácia ou sua inadequação, pois mesmo as decisões públicas, tanto quanto as de produção, encerram riscos que precisam ser superados. Isso demanda atitudes e crenças diferentes dessas que têm impregnado o crescimento do nosso país, não temos tido lideranças que assumam os riscos e suprimam o que seja necessário para tornar os horizontes mais claros, minimizando os riscos naturais e normais que precisam ser enfrentados para se chegar ao que seja novo!
*Artigo escrito pela equipe do ISAE/FGV, instituição parceira do Instituto GRPCOM.
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