Um cenário propício para aplicar a responsabilidade social corporativa como via ao desenvolvimento sustentável.
A crise mundial, originada nos Estados Unidos em 2008, levou consigo um efeito dominó nas economias de outros países, um tsunami financeiro que desequilibrou Estados considerados como altamente desenvolvidos. Após seis anos, sem uma saída definitiva da recessão e consequente degradação progressiva de suas correspondentes populações, diagnósticos e teses colocam em dúvida sistemas econômicos, políticos, de consumo e produção, que fizeram da economia o principal eixo articulador e construtor de sociedades.
Mas, e o Brasil? Mergulhado em pleno processo de industrialização. Qual caminho quer seguir no seu desenvolvimento depois dos resultados trazidos pelos sistemas neoliberais?
Sociedade em desenvolvimento
Há poucos meses, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apresentou dados relevantes sobre a evolução da realidade dos municípios brasileiros. No decorrer das duas últimas décadas, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) cresceu favoravelmente, situando 74% dos municípios nas faixas de “alto” e “médio” IDH. Contudo, alerta também que, 25,2% das cidades (muitas delas localizadas nas regiões do Norte e Nordeste do país) encontram-se, ainda, nas faixas de “baixo” e “muito baixo” desenvolvimento.
Todavia, o novo Índice de Progresso Social lançado em 2013, iniciativa internacional que mediu o desempenho de 50 países nas dimensões sociais e ambientais, o Brasil conseguiu se posicionar como o BRIC S (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) mais “avançado socialmente”. Mas, apesar do seu progresso na redução da pobreza, na desigualdade social e de um ótimo posicionamento na inclusão das minorias, o estudo conclui que o país precisa tratar com urgência questões vinculadas à segurança pública, necessidades básicas, qualidade da saúde, equidade de gênero e acesso ao ensino superior.
Meio ambiente único e necessário
O Brasil é qualificado como um país rico em patrimônio natural. Conta com 13,2% da biota global em seu território (cabe citar que, as regiões de Centro-Oeste e Nordeste foram pouco estudadas) e possui diversidade de ecossistemas, os quais, além de proporcionarem riquezas em matéria-prima e alimentação (minerais, petróleo, pesca, etc.), contribuem extremamente para o equilíbrio da vida (repito, vida) no planeta terra, o que o situa em uma posição de alta responsabilidade na gestão de sua diversidade biológica. Especialmente na proteção de ecossistemas de alto valor natural que se encontram ameaçados pelo avanço de negócios agropecuários (Amazonas Legal e Pantanal).
Economia pujante
Em pleno processo de industrialização, agrupado nos países emergentes, considerado a sétima maior economia do mundo, segundo o Fundo Monetário Internacional e com crescimento em investimentos. É evidente que o Brasil se destaca frente à atual crise global. Porém, imerso em um modelo industrial, assim como os países que levaram seus sistemas à falência, está por ver se será capaz de sustentar o crescimento econômico, junto ao progresso tecnológico, à conservação ambiental e à inclusão social.
Cabe ressaltar que, terceiras vias aos sistemas econômicos tradicionais são sugeridas por novos olhares, mas infelizmente, no desespero de pegar a onda do crescimento, pouco é escutada pelos países emergentes.
Alternativa econômica
O economista austríaco, Christian Felber, ao apresentar uma alternativa, tanto ao capitalismo de mercado como à economia planificada, enxerga as empresas como players fundamentais na construção de sociedades solidárias, democráticas, com justiça social, dignidade humana e respeito com o meio ambiente. As corporações são percebidas como órgãos inerentes à comunidade. Devem incorporar a responsabilidade socioambiental como principal eixo articulador de sua estrutura, de suas operações e do seu modelo de negócios, influenciando desta forma, e extremamente, a comunidade e seus territórios (sejam de âmbito local, regional ou global) em seu processo de desenvolvimento. Felber indica também que, o benefício financeiro, normalmente o objetivo da empresa, converte-se no meio para um novo fim sugerido: o bem comum.
Oportunidade para um novo modelo de progresso
O Brasil, por si só, convida (ou desafia) a inovar para o seu desenvolvimento sustentável: uma economia vigorosa, mas, ainda, baseada nos sistemas de mercado industrializados, municípios na corrida para o progresso (mas com graves desigualdades sociais) e um rico e vital patrimônio natural em permanente ameaça. Esse panorama, e com a referência do erro de países imersos na crise, leva o Brasil a uma oportunidade única e histórica de delinear um novo paradigma de desenvolvimento.
Agora é a chance de empreender negócios conduzidos por líderes que analisaram o passado, compreendem o presente e vislumbram um futuro promissor. Negócios que possibilitem a convivência com a biodiversidade, que contribuam para o bem comum das sociedades e forneçam melhor qualidade de vida às pessoas.
Artigo escrito por Albert Estiarte, especialista em projetos de desenvolvimento comunitário. Formado em Inclusão Social e Dinamização Sociocultural e especializado em Gestão de Empresas Culturais pela Universitat Internacional de Catalunya. Atualmente atua no ISAE/FGV, instituição parceira do Instituto GRPCOM.
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