Refletir sobre a tendência de alinhamento entre o investimento social privado e os negócios. Este foi o propósito do encontro promovido pela Rede de Investidores Sociais do Paraná (RIS) na última sexta-feira (7), no auditório do Grupo Boticário, em Curitiba. O evento foi organizado pelo grupo de qualificação técnica da Rede de Investidores Sociais de Curitiba (RIS). Atualmente, a RIS conta com 39 organizações, entre empresas, institutos, e fundações empresariais que realizam investimentos sociais¹ em prol da comunidade. O evento contou com a participação de 150 representantes de empresas, Institutos e Fundações, organizações sociais, empresas, acadêmicos, bem como empreendedores sociais de Curitiba e Região.
O alinhamento observado desde pelo menos 2009, tem proporcionado maior aproximação e diálogo entre os movimentos de sustentabilidade e responsabilidade social da atuação dos institutos e fundações. E essa aproximação pode gerar oportunidades de fortalecimento mútuo, mas, também desafios e tensões. A pergunta central é: uma marca a serviço de uma causa ou uma causa a serviço de uma marca?
O evento contou com a fala de abertura do Alexandre Amorin, da OSC ASID Brasil. Alexandre trouxe uma análise dos professores de Harvard, Michael Porter e Mark Kramer, que demonstra que o maior volume de recursos financeiros está em poder das empresas e não dos governos ou das Ongs. São 22 trilhões de dólares em poder das empresas, 3 trilhões em poder dos governos e 1 trilhão em poder das Ongs. Sendo assim, para resolver problemas sociais complexos é preciso buscar uma abordagem mais integrada entre os diferentes setores.
Na sequência, para ampliar as reflexões e debates sobre o tema, o evento contou com a palestra de Rafael Oliva, consultor em planejamento estratégico e autor do livro “Alinhamento entre o Investimento Social Privado e o Negócio”, publicado em 2016 pelo Grupo de Institutos Fundações e Empresas – GIFE. A proposta foi apresentar o resultado da pesquisa de campo que gerou a publicação.
Rafael apresentou as quatro diferentes abordagens de alinhamento: o alinhamento incremental, a influência social, o valor compartilhado e a inteligência social de negócios. Cada uma delas possui características próprias e, por essa razão, influenciam diretamente no formato de atuação dos Institutos e das Fundações. O consultor também abordou os riscos, as oportunidades e as tendências para o futuro. “O assunto está posto. Percebemos que o alinhamento faz parte do próprio amadurecimento do processo de operacionalização do Investimento Social Privado. Isso não significa que todas as empresas e seus respectivos Institutos e Fundações irão promover esse alinhamento. Se por um lado pode haver muita oportunidade na potencialização dos recursos técnicos e financeiros ofertados pelas empresas para as ações sociais, por outro, se essa tendência vier a ganhar força, precisaremos estar atentos ao impacto nas ações filantrópicas, pois há uma possibilidade de estas virem a sofrer com as reduções de apoio. Em especial, determinadas áreas menos privilegiadas pelos investidores, como por exemplo, no campo dos direitos humanos, ”, avalia.
O encontro também foi uma oportunidade para os participantes conhecerem os cases de organizações que atuam no Paraná e que já estão experimentando esse alinhamento. Instituto Positivo, Instituto Renault e Votorantim Cimentos contaram suas experiências, que serviram como pano de fundo para um diálogo com a plateia, mediado por Ana Gabriela Borges, Superintendente do Instituto GRPCOM.
Para a representante da Fundação Grupo Boticário e umas das coordenadoras da RIS, Cibele Demetrio Zdradek, o evento é mais uma oportunidade de trazer um tema bastante atual e que vem chamando a atenção tanto dos investidores sociais quanto das organizações sociais. Ao estimularmos a reflexão e o diálogo sobre essa tendência, entendemos que estamos abrindo espaço para promover ponderações importantes acerca do compromisso social que todas as nossas organizações possuem.
A participação do terceiro setor
Cerca de metade dos ouvintes da Roda de Conversa atua no Terceiro Setor. Boa parte reconhece a importância de encontros como esse para entender as mudanças no campo do investimento social. Para Tania Cardoso, coordenadora da Associação dos Voluntários Amigos (AVA), o maior ganho é o conhecimento. “As palestras e os cases enriquecem e ampliam o olhar das ONGs e entidades de terceiro setor. Saímos com uma clareza maior sobre alinhamento e isso potencializa as nossas de chances de buscar recursos e parcerias acertadas”, avalia a coordenadora que tem 30 anos de experiência em voluntariado.
Já para a gerente do Instituto Bom Aluno do Brasil, Maria Isabel Dittert, o tema foi acertado e trouxe uma visão atual do funcionamento do mercado. “As mudanças sociais são rápidas e para alinhar os projetos das organizações sociais aos negócios, conversas desta natureza são essenciais”.
O coordenador da Instituição Gente de Bem, Luciano Diniz considera vital “saber quais as necessidades do investidor para buscar e agregar valor para todos: instituição, beneficiário e investidor”.
Por fim, segundo os palestrantes o alinhamento não se configura como moda e sim como uma tendência, em que ainda não são claros todos os seus desdobramentos. No atual momento, ao observar os cases concretos de alinhamento ao redor do Brasil, é possível perceber que o investimento social tem ganhado diferentes formas e processos de operacionalização. Nesse contexto, o mais relevante é, independente do processo adotado, que os compromissos sociais de superação dos desafios da sociedade sejam, cada vez mais, uma prioridade para todos os setores.
¹ Investimento social privado: é o uso voluntário e planejado de recursos privados em projetos de interesse público (Gife).
*Artigo escrito pela equipe da RIS – Rede de Investidores Sociais de Curitiba. O Instituto GRPCOM é membro da RIS.
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