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Baixa Gastronomia em Curitiba, na visão de um visitante

Guilherme Caldas

Acredito que, nestes quase dois anos de BG (contando o lançamento do Mapa da Baixa Gastronomia), poucas pessoas entenderam tão bem o nosso ponto de vista quanto o Hipolito de la Rosa, que morou em Curitiba por cinco meses como intercambista e que, neste tempo, foi usuário assíduo do mapa e leitor do blog.

Uma coisa que torna a Baixa Gastronomia divertida é que podemos fazer dela um pretexto para descobrir botecos, restaurantes e bares e, assim, conhecer mais nossa cidade. Melhor ainda se servir para, finalmente, botarmos os pés naquele lugar que já está lá há anos, por onde passamos todos os dias e nunca lembramos de parar, entrar e conhecer.

No caso do Hipolito, uma pessoa chegando de outro país, a Baixa Gastronomia foi uma ferramenta que o ajudou a se ambientar e ir, no pouco tempo em que ficou aqui, além daquela Curitiba de propaganda e de cartão postal.

Qualquer cidade fica muito mais interessante para o viajante quando este está acompanhado dos “locais” e é uma grande satisfação saber que nosso mapa e nosso blog fizeram um pouco deste papel durante a estada de Hipolito em Curitiba.

Claro que nada disso de Baixa Gastronomia seria tão abrangente e interessante sem a participação de tanta gente que sempre contribui com as dicas enviadas para este blog (por e-mail ou via comentários) ou para a página e, antes dela, para o grupo da Baixa Gastronomia e para o mapa que está na origem desse brincadeira toda. Por isso, considere, leitor e entusiasta da ogrice culinária, que os agradecimentos que o Hipolito endereçam a nós são, também, para vocês.

Tomara que algum dia saia mesmo aquela lista de Sevilla que ele prometeu fazer.

Com vocês, as dicas do Hipolito de la Rosa para Curitiba.

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Olá Guilherme e Rafael!

Parabéns e obrigado pela BG!

Sou estudante intercambista aqui em Curitiba desde o inverno. O [Mapa da] BG foi o guia que usei pra conhecer a cidade. É claro, interessante, didático, engraçado e gostoso! Nada a ver com os habituais guias turísticos, com fotografia espetacular mas que não fazem jus à realidade da cidade: cartão postal mais bonito do que aquilo que o olho vê e bem mais chato do que o que queremos curtir. Eu curti, comi, bebi e bati papo, com o meu português bem básico (portunhol), ou com sorrisos e gesticulação, durante os cinco meses em que morei na cidade.

A verdade é que eu já fiz um guia (cultural, mas também gastronômico) em Sevilha, cidade onde moro na Espanha. Só que lá eu não tive coragem (e ainda não tenho) de revelar para as pessoas as jóias que vou achando no meu caminho diletante. Fico com medo de que aconteça o que já está acontecendo no Mercado Municipal de Curitiba, mudanças similares que possam ocorrer devido à “morte por êxito”. Agora que estamos indo embora, eu gostaria de devolver o favor ao seu guia, com algumas dicas de lugares que a gente achou e curtiu.

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No limite do Jardim Botânico, na metade norte da cidade, no final da Brasilio Itiberê, tem o Restaurante Capanema, no número 230 da Rua São Januário. Cadeiras de plástico e uma cerquinha para apoiar o cigarro ou a cerveja gelada dos que ficam pra fora são só as primeiras boas indicações. Os três, quatro ou cinco táxis lá estacionados, com os motoristas jantando no interior são a confirmação. O frango a passarinho (com muito alho, por favor!), um triunfo… e o problema. A gente nunca pediu mais outra coisa!

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Num dia de passeio pela Tiradentes, falando dos problemas do tráfego em Curitiba (e, como não, dos inúmeros acidentes), a gente viu uma fila enorme na esquina com a Cruz Machado. “Mira, ni el transporte público funciona bien” falei pra a minha namorada, achando que era a fila do ônibus.

O ônibus não é tão importante como o pão! Pergunta para um avô, na Europa, e ele vai achar que o pão é o mais importante. Eles já passaram por guerras e sabem disso muito bem (A juventude hoje se acostumou com o Big Mac e com os refrigerantes e olha que po**a ficou a economia da Europa!).

E é por isso, e não aguardando o Ligeirinho, que um monte de experts curitibanos aguardavam na fila da Mercearia Vianna. Bolos, lingüiças e queijo coalho como antigamente, e um pão quadrado, com ou sem sementes, que fica mais gostoso no dia seguinte. E melhor ainda no dia a seguir. E, depois… mais nada. Porque acabou.

Pão simples, nutritivo e cheiroso, sem o ar dos pãezinhos-balão nem o luxo (inútil) dos “pães especiais” das boutiques. Pão que alegra o café da manhã ou o jantar tardio após as caminhadas… entre botecos. E além disso, não é só o melhor, mas também o mais barato. Dá pra querer mais?

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“Pão e vinho”, falamos na Espanha. Aqui é “pastel e cerveja”, acho. Falando de garrafas e bons preços, a luta ficaria pela cerveja mais geladinha e mais barata. Mas não, essa não é a única luta que a gente gosta. Cerveja gelada, bom preço… e com ambiente aconchegante. A vida em Curitiba foi bem mais agradável graças aos garçons do BEC Bar, boteco universitário (ou lanchonete, o gringo aqui ainda não aprendeu as diferenças), junto à Reitoria da Federal, na Rua Doutor Faivre, entre a Marechal Deodoro e a XV de Novembro.

Uns caras legais, que sabem quando dar papo ao cliente, quando servir mais uma, e quando mudar a música ou continuar com Motörhead, sempre com um sorriso na cara. Aberto para a rua (pra que paredes?), bom horário (noturno) pra quem trabalha por perto mas gosta de uma cerveja antes de dormir, rock’n’roll e pop na jukebox e bons amigos atrás do balcão (obrigado Japa e Punk!).

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E, só para terminar, continuando com a idéia de que o que se oferece é tão importante como o jeito de quem trabalha no estabelecimento, gostaria de falar do Baba Salim, junto ao Teatro Guaíra e recomendado por vocês no Mapa da Baixa Gastronomia. A comida é boa, o horário também e o preço não é dos mais caros. Mas o garçom é o que a gente em Sevilha chama de sieso. Nada pessoal mas, por favor, poderia ao menos olhar pra gente quando fazemos o pedido? Ainda que seja pra pedir só uma esfiha e uma Antartica – e não pra pedir a sua mão em casamento?

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Aproveitem as dicas, se ainda não conheciam (e também se já conheciam). Foi bom ficar em Curitiba, e bem melhor conhecendo a Baixa Gastronomia. Quando a Urbs conseguir fazer um mapa de ônibus da cidade que dê para entender, e quando acabar a Copa, as Olimpíadas e tudo de ruim que o Brasil vai receber nos próximos anos, volto e repito a rota da BG atualizada com novas descobertas.

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Guilherme Caldas

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