O Cotidiano é um simpático restaurante de comida caseira encravado entre a República Argentina e a via rápida Centro-Portão, no Água Verde. Há 20 anos no bairro, serve um farto e saboroso buffet, durante e semana e, aos sábados, uma das melhores feijoadas da região.
Se você quiser provar, corra. O Cotidiano está com os dias contados. Culpa da especulação imobiliária que tomou Curitiba de assalto há coisa de alguns anos.
Ivan e Simone, casal de proprietários do Cotidiano, alugam o prédio onde está o restaurante de uma tradicional família do bairro, dona de quase todo o quarteirão. Há cerca de um ano, surgiram boatos de que o terreno seria vendido a uma construtora.
Meses atrás, o contrato de aluguel não foi renovado e, há pouco tempo, a sentença final – representantes de uma incorporadora procuraram os donos do restaurante para comunicar que tinham 90 dias para deixar o imóvel.
A ordem de despejo veio acompanhada de uma ação judicial em que a incorporadora pede a saída imediata do restaurante e de alguns vizinhos – uma agência de publicidade, uma escola de dança, uma banca de jornais e até uma igreja.
Reunidos, os inquilinos procuraram um advogado. Com a ação tramitando na Justiça, descobriram que a incorporadora sequer tem o registro legal do terreno – a escritura ainda está em nome dos antigos proprietários. Mas tem pressa. É o progréssio, o progréssio, cantam os entusiasmados!
Os donos do Cotidiano, que construíram vidas, fizeram amigos e clientes naquele imóvel da Professor Guido Straube, não têm esperanças de permanecer no local. Sabem que, na briga entre Davi e Golias dos dias atuais, não têm nenhuma chance contra o poder e o apetite gigantescos das construtoras.
O que Ivan, Simone o resto da família e os inquilinos que ainda estão nos imóveis querem é, ao menos, uma indenização que os ajude a recomeçar a vida. Afinal, se o dono tem todo o direito de vender o terreno quando e para quem quiser, também é verdade que a clientela conquistada e o ponto comercial que souberam construir têm seu valor. Nesse caso, aliás, são tudo o que têm os donos do Cotidiano.
“Temos pesquisado imóveis para o novo ponto. Mas, do jeito que estão custando os aluguéis, não conseguiremos ficar no Água Verde. Aliás, os preços estão altos até em bairros da periferia”, lamenta o casal. Mas, se forem pra longe dali, darão adeus à freguesia que cativaram oferecendo, durante anos, comida boa a preço justo.
O drama vivido pelos donos do Cotidiano e seus vizinhos não é, certamente, inédito na cidade. Muita gente que criou-se em bairros que hoje despertam a cobiça das construtoras está sendo expulsa do lugar em que nasceu e cresceu por não ter dinheiro para fazer frente ao absurdo aumento nos preços dos imóveis e aluguéis na cidade.
Isso deixa algumas perguntas que, embora óbvias, permanecem sem resposta: além das construtoras e incorporadoras, quem mais ganha com a especulação imobiliária? De que adianta uma cidade com centenas de imóveis novos se eles custam muito mais do que pode pagar sua população? Desejamos viver numa cidade em que o interesse econômico expulsa os moradores para cada vez mais longe dos bairros centrais?
Convidamos nossos poucos (mas bravos) leitores a pensar nisso. E, também, a fazer uma visita ao Cotidiano, a quem somos, desde sempre, solidários.
Serviço
Rua Professor Guido Straube, 8, Água Verde, (41) 3019-2019 (veja no Mapa da Baixa Gastronomia).
Aceita cartões.
Siga-nos no twitter ou junte-se a nós no Facebook!
Gostou? Não gostou? Tem uma sugestão de lugar? mande um email pra gente.
E aproveite pra conhecer o Mapa da Baixa Gastronomia.
Oposição diminui ênfase no STF e retoma pautas usuais do Congresso
Pesquisa mostra consolidação da direita nos estados e indefinição no antagonismo a Lula em 2026
Reforma tributária: Relator corta desconto a saneamento e inclui refrigerantes no “imposto do pecado”
Vínculo empregatício com APPs deixaria 905 mil sem trabalho e tiraria R$ 33 bi do PIB, diz estudo