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Em Curitiba, na virada dos anos 80 para os 90, não tinha meio-termo. Ou você era do rock, ou era playboy. Pelo menos era como eu via as coisas, com toda a clareza que meus 15, 16 anos permitiam.

E ser do rock era algo que podia incluir uma vasta variedade de estilos. Punks, góticos, headbangers, rockers se misturavam bastante, o que fazia sentido numa cidade em que se podia contar, literalmente, nos dedos de uma mão os lugares frequentáveis para quem quisesse escapar das patricinhas com topete, dos playbas e daquela musiquinha de FM que empesteava qualquer lugar mais ou menos badalado.

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Numa época sem internet, You Tube, Grooveshark e outras comodidades do século 21, nem sempre era fácil buscar algo fora do circuito Batel, bailinhos do Clube Curitibano e rádios Caiobá (ainda na fase pré-sertanojo). Talvez seja por isso que eu me lembro tão bem da primeira vez em que fui a um bar chamado Novak, que ficava no Largo da Ordem (atualização: o nome da banda era Gipsy Dream). Foi apenas o primeiro dos muitos ambientes escuros, cheios de gente usando roupa preta, rebites e botas que eu frequentaria nos anos seguintes. Ali também foi a primeira vez em que ouvi falar dos shows de rock do Bosque do Papa, que aconteciam nas tardes de domingo.

Eles já aconteciam há pelo menos uma década. O próprio bar é anterior ao tombamento do bosque, que foi parte dos festejos pela visita do papa João Paulo II à cidade, em 1980.

Se tinham duas coisas que, para mim, não combinavam era Rock’n’Roll e Bosque do Papa. Muito menos numa tarde de domingo. Demorei um pouco até começar a frequentar, mas depois me tornei assíduo. Menos por conta do som que rolava, muito mais por conta dos amigos que encontrava e fazia ali e, claro, das garotas que acabava conhecendo e que eram tão diferentes daquelas meninas do Colégio Sion.

Led Zeppelin, Doors, Black Sabbath, Jethro Tull formavam o repertório das bandas que se apresentavam. Para ser honesto, esse som não era cem por cento a minha praia. Depois até passei a ouvir algumas destas bandas mas, na época, o que me fazia a cabeça era My Bloody Valentine, Sonic Youth, Pixies, tudo soando como novidade em 1989. Seja como for, dá pra dizer que meu gosto musical foi formado por vertentes bastante distintas o que, imagino, é algo sempre positivo. E que devo parte disso aos shows do Bosque.

Ainda hoje várias bandas que conheci naquela época fazem parte da minha trilha sonora particular, outras ficaram pelo caminho. E mesmo as que ficaram pelo caminho podem, quem sabe um dia, voltar a ser parte de alguma playlist, mesmo que apenas mental.

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O tempo passou e, hoje em dia, o que me atraía ao Bar do Bosque era muito mais a porção generosa de batata frita que eles servem do que a expectativa de ouvir algum cover de Smoke on the Water. Aqueles shows, para mim, tinham ficado pra trás. Eram parte de um passado que até alguns meses atrás eu poderia rever de vez em quando, ainda que apenas na qualidade de visitante.

Mas esta possibilidade fica, definitivamente, descartada a partir de agora. O supermercado situado no mesmo terreno do Bar do Bosque iniciou as obras que transformarão o local onde aconteciam os shows em novas vagas de estacionamento.

Já fazia algum tempo que as bandas não se apresentavam. Aunício Bittencourt, atual proprietário do bar, contou que, em outubro do ano passado, uma autuação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente fez com que os shows fossem suspensos.

O que poderia ter sido uma situação temporária, mais ou menos como a que levou à interdição da Pedreira Paulo Leminski, torna-se agora permanente. Quem viu os shows, viu. Quem não viu, daqui pra frente só vai ficar sabendo deles pelas histórias de quem esteve lá, seja tocando, assistindo ou apenas passando de bike, pela ciclovia que passa ali na frente. Já era.

Mesmo com a mistura de estilos que caracterizou minha juventude roqueira, quando penso nos shows do Bosque do Papa, sempre me vêm à mente Deep Purple, Alice Cooper, Creedence… enfim, velharias. Umas boas, outras nem tanto. De moderno, só Guns’n’Roses e olhe lá.

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Mas, pensando no final definitivo dos shows do Bosque, só consigo pensar neste som do Greenhornes com participação da Holly Golightly.

Sem os shows do Bosque, Curitiba fica uma cidade um pouco mais coxinha.

(quem quiser, pode assistir um video bem mais legal aqui)

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E, já que eu lembrei de Guns’n’Roses, aqui vai mais uma.

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