As medidas de isolamento social estão desacelerando o coronavírus no Brasil, ao mesmo tempo em que esfriam a economia. Provavelmente vamos ver variações da quarentena de São Paulo, com restrições mais duras, em outros estados, conforme a epidemia se dissemina.
Este é um cenário no qual fica quase impossível prever quando a vida vai voltar ao normal. Mesmo em países que foram bem sucedidos na contenção da primeira onda da covid-19, continua havendo restrições à movimentação de pessoas e algumas atividades econômicas.
É pouco provável que o Brasil consiga evitar um surto como fez a Coreia porque não temos aqui o sistema de monitoramento que o país asiático montou nas últimas décadas. Mas é o que precisamos para as atividades do dia a dia serem mais ou menos normalizadas.
Havia duas opções disponíveis para o Brasil: não fazer nada e lidar com milhares de mortes, ou adotar o distanciamento como condição para se evitar uma catástrofe humanitária. Conforme o tempo passa, porém, o país precisará criar uma terceira alternativa, que podemos chamar de opção coreana.
O investimento para criar um protocolo claro e completo para monitorar o coronavírus vale a pena por duas razões. A primeira é que só teremos segurança maior quando houver uma vacina. São 12 a 18 meses de pesquisas e testes durante os quais é impossível manter o isolamento social sem que seus custos psicológicos e econômicos se tornem insustentáveis.
A outra razão é que o custo para mobilizar fábricas e prestadores de serviços que apoiarão nossas vidas durante a espera ajuda a segurar a atividade econômica.
O prêmio Nobel de economia Paul Romer escreveu recentemente um artigo provocativo no The New York Times em que defende a estruturação rápida de um novo modelo sanitário nos Estados Unidos. Ele argumenta que é possível mobilizar pesquisadores e empresas para que haja testes de coronavírus em volumes e preços adequados para que milhões de pessoas sejam testadas todas as semanas.
Os testes precisariam ser complementados pelo fornecimento de equipamentos de proteção para toda a população, em especial trabalhadores dos serviços de saúde e de áreas nas quais se lida com o público.
Na edição desta semana, a The Economist diz que paralisar economias por muito tempo pode levar a uma decadência econômica por falta de investimentos, inovação e capacitação. Tanto Romer quanto a revista concordam que no longo prazo o custo de fechar negócios pode ser maior do que os benefícios.
Isso não significa que o isolamento pedido por autoridades no mundo todo seja errado, mas que os governos precisam coordenar esforços para minimizar o contágio pelo coronavírus no retorno ordenado ao trabalho, e também rapidamente pedir o isolamento quando necessário. Até que exista uma vacina, vamos ver focos da virose pipocando em diferentes lugares.
Governos podem financiar a transformação de fábricas para que elas façam máscaras e roupas protetivas. Também pode garantir que haverá testes para todos e que eles serão corretamente analisados, talvez com um sistema de georreferenciamento como o usado em Cingapura. Alojamentos para isolamento podem ser custeados para quem mora com pessoas em risco.
O setor privado no Brasil parece ter entendido essa necessidade. Há vários caso de fábricas de vestuário que estão treinando a mão de obra para fazer máscaras e roupas de proteção. Fábricas de bebidas estão já produzindo álcool gel, enquanto metalúrgicas preparam projetos para fazer hospitais de campanha. Com coordenação, esse movimento aceleraria a adaptação para a espera de uma vacina.
O Brasil ainda está no início da luta contra o coronavírus. Serão dois ou três meses muito difíceis. Ainda estamos começando a construção da logística necessária para tratar as pessoas e já temos problemas básicos, como falta de materiais e exames parados em laboratórios por falta de capacidade de processamento. É preciso mais para salvar vidas e, ao mesmo tempo, evitar uma recessão sem fim.
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