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Preços dos combustíveis foram os que mais subiram em 2021.
Preços dos combustíveis foram os que mais subiram em 2021.| Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Dos fatores econômicos com maior peso na política, inflação e emprego vão ser os que mais vão aparecer nos debates rumo às eleições deste ano. Dos dois, o mais abrange é a inflação, da qual ninguém escapa. Por isso, vale a análise de como ela deve se desenrolar nos próximos meses.

A pizzaria da esquina aqui de casa subiu os preços em 10% na virada de ano. Repassou a inflação de 2021, em um comportamento normal para a maioria dos negócios no país. Como dizem os economistas, a inflação está "rodando" em 10% ao ano. Os agentes de mercado estimam que em dezembro de 2022 ela vai girar perto de 5% ao ano. A expectativa é que a pizza vai subir a metade no começo de 2023.

Para o mundo político, interessam duas coisas: se realmente o cenário de desinflação vai ocorrer sem sobressaltos e quanto disso será percebido pela população.

O consenso atual do mercado indica que a inflação vai ceder por causa de uma combinação de juros elevados, que reduzem a demanda e têm o efeito de segurar a cotação do dólar, retorno das cadeias de suprimento afetadas pela covid e uma menor pressão dos custos de energia.

De fato, metade da inflação de 2021 é explicada pela alta dos combustíveis e pelo custo extra na conta de luz provocado pela estiagem. Se o preço do petróleo se estabilizar, os combustíveis deixarão de pressionar a inflação. No mercado de energia elétrica, já se prevê uma amenização das bandeiras tarifárias ao longo do ano por causa das chuvas mais intensas.

Os juros altos também farão seu trabalho de reduzir a demanda. O ano de 2022 vai ser de crescimento muito fraco, na casa de 0,5%. Isso vai se refletir uma contenção de preços de bens duráveis, principalmente.

O resumo do quadro inflacionário é que estamos no meio de um ciclo que foi mais longo e mais duro do que se previa. O Banco Central ainda está subindo os juros, que vão ficar elevados até o fim do ano. E a desinflação deverá ser perceptível no segundo semestre.

É aqui que entram as considerações importantes a respeito do "fim do ciclo". No início do ano passado, os analistas mais pessimistas previam inflação de 6%. Alguns defendiam que o BC precisava levar os juros para 8% ou 9%. Acabamos com inflação e juros de dois dígitos - não era fácil perceber como a economia global sofreria na retomada do consumo.

O que pode dar errado em 2022 é uma combinação de petróleo caro e uma nova desvalorização cambial. O mercado de petróleo ainda está "apertado", com o retorno da demanda pós-pandemia. Um aumento adicional na cotação por um período prolongado pode alongar o ciclo inflacionário no Brasil.

O câmbio é um problema mais relacionado ao que pode ser uma "tempestade perfeita", de elevação dos juros nos Estados Unidos e eleições no Brasil. O aperto monetário americano já está precificado, mas pode haver solavancos se a inflação por lá não ceder e os juros subirem mais. E, ao mesmo tempo, teremos um debate eleitoral quente, com muitas dúvidas sobre o futuro da condução da política econômica no Brasil. O nosso histórico é de dólar mais caro em momentos assim.

Essa combinação lembra um pouco a eleição de 2002. Juros altos nos Estados Unidos, eleições no Brasil com Lula na frente de José Serra levaram a um repique do dólar que fez a inflação disparar. O desajuste só foi controlado com uma combinação de juros muito altos e reforço no superávit primário.

A sensação de que a economia não está bem, portanto, vai durar pelo menos mais alguns meses, até que a desinflação seja percebida de fato. A população vai às urnas com algum sentimento de perda provocado pelo ciclo inflacionário, que pode não ser tão grande se as previsões do mercado estiverem corretas.

Temos um histórico de inércia que sempre torna muito custoso levar a inflação para a meta, ao mesmo tempo em que é difícil ver algum fator "baixista" além da normalização das cadeias globais de produção. Ou seja, as premissas do mercado são de que não haverá surpresas negativas.

Se em 2002 a inflação ajudou Lula, a deterioração da economia quase derrotou Dilma Rousseff em 2014. E neste momento é um fator a favor de Lula novamente. O presidente Jair Bolsonaro precisa torcer para que as previsões do mercado desta vez se concretizem.

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