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Guido Orgis

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Bancões em baixa e Nubank com 20 milhões de clientes. O sistema financeiro está mudando

Itaú Banco do Brasil Caixa Santander Bradesco (Foto: Gazeta do Povo)

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O Ibovespa, principal índice da bolsa, começou bem o ano, com alta acumulada de 2,78% até a última segunda-feira (20). Seria natural que as ações dos bancos brilhassem nesse momento de retomada da economia, mas elas estão apanhando bem no começo do ano. Os quatro bancões com ações na B3 estão em baixa, de -3,13% para o Santander a -7,7% para o Itaú (dados até o fechamento do dia 20).

Na segunda, o Nubank anunciou que chegou a 20 milhões de clientes. E o volume não é só do cartão de crédito que alçou a empresa à condição de maior fintech do país. A empresa tem 12 milhões de usuários de cartões e 17 milhões de usuários de sua conta digital. O Nubank concorre com os bancões sem precisar ter agências bancárias e não está sozinho.

Se de um lado novas empresas financeiras estão sendo bem-sucedidas em roubar clientes dos grandes bancos, de outro o Banco Central demonstrou que vai apoiar esse movimento. A agenda de modernização do setor financeiro está sendo tocada de maneira bastante rápida pelo BC e agora parece estar caindo a ficha de quem tem ações dos bancos.

No início deste ano, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, fez uma apresentação completa dessa agenda para a imprensa. É impressionante o número de resoluções, circulares e consultas públicas publicadas e abertas pela autoridade monetária com o objetivo de melhorar a alocação de recursos no setor financeiro, dar mais poder ao consumidor e aumentar a competição.

É uma mudança de postura que começou na gestão de Ilan Goldfajn à frente do BC e ganhou velocidade em 2019. O ponto mais noticiado dessa agenda foi a imposição de um teto de 8% para a taxa de juros do cheque especial e que revela uma visão de regulação que entende o que são falhas de mercado. No caso do cheque, a justificativa do BC mostra que esse é um produto com assimetria - seus clientes têm poucas condições de tomar uma decisão com informação adequada - e o teto de juros obrigará os bancos a mudarem sua abordagem.

Mas esse nem é o ponto que chama mais a atenção na Agenda BC#. Ela traz, por exemplo, uma consulta pública em andamento para regular o que o mercado chama de "sandbox", um modelo que permite o teste controlado de soluções financeiras inovadoras fora da regulação tradicional. É um caminho que vai permitir a aceleração da inovação.

Houve também uma série de medidas para estimular o crédito cooperativo. Esse é um modelo de negócios que vem crescendo no país, com alguns sistemas cooperativos grandes o bastante para competirem no varejo com os bancos. A nova regulação dá mais fôlego para cooperativas captarem recursos e terem maior participação em mercados como crédito rural e imobiliário.

O BC também quer regulamentar uma forma nova de captação de recursos (as letras financeiras de liquidez), que vão reduzir a necessidade de retenção de compulsórios. É um fator que pode reduzir juros e aumentar a competitividade de instituições menores. Isso é complementado por outras ações para aumentar a competição no mercado - da possibilidade de pagamento via boletos para bancos digitais à regulação de caixas eletrônicos, passando pela maior facilidade para se fazer a portabilidade de um crédito imobliário.

A agenda do BC, portanto, tem o potencial de mudar ainda mais o jogo para os bancões. Isso não significa que eles vão passar a perder dinheiro, mas que terão de se adaptar a um cenário de maior competição e inovação. Os cinco maiores bancos do país ainda têm uma fatia enorme do mercado de crédito (cerca de 75%) e esse é um segmento em que é mais duro para fintechs crescerem. A pressão maior hoje está na prestação de serviços (como contas, cartões, pagamentos) e só com o tempo chegará para o coração do trabalho bancário de gerir volumes imensos de crédito.

Se a bolsa de valores é um termômetro do que está acontecendo com o setor financeiro, podemos esperar um poder maior para o consumidor no médio prazo. Seria parecido com o que aconteceu com o segmento de pagamentos por cartão, quando a abertura do mercado deu início à guerra das maquininhas - o duopólio de Cielo e Rede acabou. Agora, estamos na guerra do cartão e das contas digitais. E logo chegará a dos empréstimos.

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