As análises econômicas mais recentes de países que estão alguns dias à frente do Brasil na crise do coronavírus indicam que temos pouco tempo para entrar em "modo de guerra". O termo parece apocalíptico, mas não é exagero diante de algumas projeções.
O banco Goldman Sachs espera uma contração na economia americana de 6% no primeiro trimestre e de 24% no segundo trimestre. A recuperação viria nos dois trimestres seguintes (12% e 10%), deixando um saldo negativo de 3,8% no ano. Isso em um país onde está saindo um pacote de ajuda de mais de US$ 1 trilhão e onde o banco central zerou os juros e está colocando dinheiro na veia do mercado.
O JP Morgan é mais otimista. Trabalha com contração de 4% no primeiro trimestre e 14% no segundo. Para a Zona do Euro, a expectativa é de -15% e -22%. A projeção de crescimento zero feita para o Brasil pela equipe econômica é uma fantasia. Contendo-se ou não o vírus.
A única vantagem do Brasil é que estamos 17 dias atrás dos Estados Unidos na crise do coronavírus - essa é a diferença entre as datas em que foram anunciadas a primeira morte nos EUA e a primeira morte no Brasil. Há duas lições que podemos aprender: é preciso correr para aprovar recursos para dar apoio à economia em níveis muito superiores ao que já se fez em tempos de paz; é preciso canalizar todo o dinheiro necessário para a saúde.
Mesmo em países desenvolvidos os relatos sobre a falta de testes, leitos e materiais para tratar a crise de saúde são assustadores. Médicos em alguns hospitais americanos relatam a falta de máscaras, para ficar no exemplo mais prosaico. A Itália e a Espanha enfrentam um efeito colateral da falta de proteção aos trabalhadores de saúde: entre 8% e 11% dos infectados são médicos, enfermeiros, técnicos e outros funcionários de hospitais e clínicas. Em todos os casos mais agudos, faltam respiradores.
O Brasil tomou somente agora a decisão de comprar um volume decente de testes para o coronavírus. Por ora os hospitais ainda trabalham com testes contados, direcionados apenas a quem está com sintomas mais graves. Aqui, parece ter havido um ruído na gestão da crise - a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia indicado a realização de testes em grande escala, mas o Brasil demorou para agir.
Os países que testaram e isolaram doentes, mesmo com sintomas leves, são os que tiveram a melhor contenção da primeira onda do coronavírus. Eles entenderam que os efeitos econômicos seriam de qualquer forma inevitáveis e pelo menos reduziram os efeitos sobre a saúde da população. E esse sucesso não é exceção de países orientais. Na Europa, a Alemanha vem conseguindo manter uma taxa de mortalidade baixa se comparada a vizinhos de bloco.
Entender que entramos em um momento diverso de tudo que já aconteceu ajuda a dimensionar as decisões que o Brasil precisa fazer nesta semana. Além de reduzir a circulação nas cidades já atingidas e entre esses centros e as regiões ainda sem casos, o país precisa dar um suporte enorme para minimizar a queda da atividade.
Até o momento, as iniciativas do governo estão na direção certa. Há algum dinheiro extra para saques do FGTS, complementos para famílias de baixa renda, prazo para o pagamento de dívidas (como fez o BNDES) e mais crédito. Isso provavelmente não será suficiente. O governo fez bem ao anunciar um pacote de apoio a estados e municípios e provavelmente terá de colocar mais recursos para a manutenção de empregos. Nem tudo poderá ser feito via empréstimos de bancos públicos. Não podemos ter alergia à ideia de o Tesouro pagar salários de trabalhadores por dois ou três meses.
A outra ponta ainda a ser tratada é a mobilização para lidar com a crise de saúde. A compra de kits para testes é um sinal de que a estratégia de contenção ficou mais ampla. Ela precisa ser acompanhada da compra emergencial dos equipamentos para laboratórios e hospitais.
A fabricação de respiradores, máscaras e equipamentos de proteção precisa ser contratada em volumes e prazos de entregas típicos de momentos de guerra. Montadoras de veículos, por exemplo, já foram acionadas na Alemanha e Reino Unido para fabricar respiradores.
Também é preciso mobilizar espaços e profissionais para tratar os possíveis doentes. Hospitais de campanha como o que está em construção no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, precisarão ser acionados em várias grandes cidades.
Recursos como esse precisam ser mobilizados rapidamente, independentemente do número de casos confirmados hoje - isso porque a falta de testes impede um dimensionamento correto do início da propagação da doença. Os R$ 5 bilhões anunciados pelo governo até agora aumentam apenas marginalmente o orçamento federal para a saúde, de R$ 130 bilhões.
O Brasil não pode cair em dois erros. O primeiro é acreditar que não sofrerá o que Itália e Espanha estão sofrendo. Embora tenhamos imposto algumas medidas mais rapidamente do que outros países, estamos longe de ter o monitoramento criado na Coreia. O segundo é esperar demais para dar suporte aos empregos atingidos - ideia que quase descarrilou com a MP publicada no fim de semana e que permitia a suspensão de contratos de trabalho sem qualquer compensação.
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