Nota de 200 reais| Foto: Raphael Ribeiro/BCB
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O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu acelerar o ritmo da alta dos juros para segurar a inflação - a taxa básica subiu de 4,25% para 5,25% ao ano. A justificativa do BC é que os riscos ao cumprimento da meta de inflação no ano que vem cresceram e será preciso jogar os juros para um nível contracionista.

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O mercado já refaz as contas e vê a taxa básica, a Selic, em 7,5% ou até 8% ao ano no fim de 2021. E provavelmente os juros ficarão elevados durante boa parte de 2022. O Brasil conseguiu uma proeza econômica: subir rapidamente os juros com a economia ainda muito longe do crescimento potencial.

Logo antes da pandemia, o BC estava reduzindo levemente os juros porque tínhamos um cenário de inflação sob controle e crescimento baixo. Um estímulo adicional estava em andamento. Com a pandemia, a parada súbita da economia levou o BC a acelerar os cortes. Pouco mais de um ano depois, o país deu alguns passos atrás e, mesmo com a atividade em recuperação, precisamos de juros que vão segurar a atividade econômica. A nota de 200 reais no bolso do crescimento durou pouco.

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A inflação pós-covid é um fenômeno global, mas atingiu o Brasil de forma muito mais dura do que países desenvolvidos e a maioria dos emergentes. Isso porque o desarranjo da economia brasileira tem suas próprias incertezas, uma fiscal e outra política (e que, na prática, são mais ou menos a mesma coisa em ano eleitoral).

Para completar, o BC brasileiro e os agentes de mercado parecem ter ficado "atrás da curva". As expectativas sobre inflação não anteciparam corretamente a aceleração dos índices de preço e, pelo que pode se entender da decisão desta quarta-feira (04), a curva de juros poderia ter subido antes.

Existem só dois fatores do ciclo inflacionário que o BC influencia diretamente, juros e câmbio. Os dois são complementares, já que juros mais altos tendem a atrair capital estrangeiro e segurar a cotação do dólar. Isso significa que, ao optar por juros negativos durante o último ano, o BC correu um maior risco cambial. Como a recessão foi muito profunda, esperava-se que a pressão do câmbio não se transferisse rapidamente para os preços ao consumidor.

Esse é um ponto que o Brasil vai precisar estudar a fundo para recessões futuras. Uma alternativa que poderia ter sido adotada durante a recessão é uma combinação de juros baixos e intervenção mais ativa no câmbio para que ele não descolasse muito do preço de equilíbrio - estimado em R$ 4,50 por dólar atualmente.

Intervenções mais fortes no câmbio nunca são bem vistas por economistas de mercado, mas a depreciação do real em momentos de crise sempre será um limitador da política monetária. No ponto em que a valorização do dólar começa a influenciar as expectativas de preços, o BC sempre terá de elevar os juros. Fica a pergunta para se estudar: o cenário seria diferente com uma atuação mais forte sobre o câmbio?

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É claro que o câmbio não é um fator isolado. O mundo inteiro tem enfrentado a valorização das commodities e gargalos de suprimentos, como a falta de semicondutores que está parando fábricas de carros. Infelizmente, o ciclo das commodities, que ajuda o Brasil a exportar mais, reforça o impacto da desvalorização cambial nos preços ao consumidor.

Seria de se esperar que, com essa valorização de produtos como minério de ferro, celulose, grãos e carnes, o Brasil ganhasse mais dólares com exportações e isso segurasse o câmbio. Aqui começam a entrar os fatores políticos. O grande estresse institucional aumenta a incerteza dos investidores e faz com que o risco-país seja maior do que se esperaria. Complementando a pergunta anterior: se intervisse no câmbio, o BC estaria dando mais cancha para o populismo econômico?

Além disso, o Brasil optou por um grande estímulo fiscal em 2020-2021, via auxílio emergencial e linhas de apoio a empresas. Não há dúvidas de que o apoio às pessoas mais atingidas pela recessão limitou a retração da economia e deu condições para que muita gente atravessasse o período da pandemia. Mas o tamanho do estímulo possivelmente antecipou a recuperação dos preços. E o governo promete mais para 2022.

Essa combinação de fatores está levando o BC a colocar os juros em um nível no qual eles seguram o crescimento. A retomada pós-pandemia não será em um ritmo muito forte - o crescimento a partir do ano que vem deve cair para a faixa dos 2% ao ano e pode ficar abaixo disso a depender do efeito dos juros mais altos e do estresse eleitoral que ainda está por vir.

A economia está bastante mais bagunçada do que antes da pandemia. O setor de serviços ainda não voltou completamente ao normal, há gargalos de fornecimento de insumos, o dólar continua alto, a confiança na política fiscal foi erodida e o espírito das reformas em Brasília ficou menos liberal - incluindo aqui mudanças nos tributos, no funcionalismo e no sistema político. Os juros altos são o termômetro dessa febre.

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