A massa disforme de partidos chamada de “centrão” está prestes a anunciar seu apoio à candidatura do tucano Geraldo Alckmin. A notícia foi bem recebida pelo mercado: a bolsa abriu em alta e o dólar está caindo em reação à notícia de que o candidato do PSDB garantiu apoio para ter mais tempo de TV e suporte nos municípios comandados por esses partidos. Então, o novo fôlego para a candidatura tucana é boa notícia para a economia, certo?
A reação do mercado não é um bom termômetro do significado econômico do apoio do centrão a Alckmin. O bloco é composto por partidos que são a nata do fisiologismo, como PP, PR, DEM, SD e PRB. Faltou só o MDB, que foi isolado para não contaminar os planos do centrão com a impopularidade do presidente Michel Temer. Caberá ao ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles carregar esse fardo com dinheiro do próprio bolso.
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Assessorado por economistas reformistas de primeira linha, com destaque para Pérsio Arida, Alckmin de fato deve trazer para as eleições uma pauta com algum potencial de melhora econômica de longo prazo. Estão nas entrevistas de Arida a responsabilidade fiscal (com flexibilização do orçamento), as reformas da Previdência e tributária e a aceleração da abertura comercial.
Essa pauta lembra muito a Ponte Para o Futuro, documento apresentado pelo MDB pouco tempo antes do impeachment de Dilma Rousseff. Como sabemos, a pauta andou mais ou menos, com a equipe econômica enfrentando até hoje dificuldades enormes para colocar a política fiscal nos trilhos. Por trás do fracasso da ponte emedebista está o mesmo centrão que agora vai apoiar Alckmin. Foram esses partidos que esvaziaram os jantares de Temer para discutir a reforma da Previdência. São esses partidos da base do governo que apoiam as pautas-bomba de agora.
A conversa do PSDB com o centrão já dá mostras de como não é o programa para a economia a cola que os une. Uma das moedas de troca na mesa de negociações é a volta do imposto sindical, uma reivindicação dos sindicatos ligados ao Solidariedade. Alckmin também parece disposto a ceder a presidência do Senado, e a presidência da Câmara pode ficar de novo com Rodrigo Maia.
O apoio do centrão à candidatura de Alckmin é, por enquanto, apenas garantia de que suas chances melhoraram um tanto. Mal colocado nas pesquisas eleitorais, o tucano precisa chegar no bolo de candidatos com chances de ir ao segundo turno até o fim de agosto. O tempo da campanha será curto e nada garante que mais tempo de TV vai resolver a falta de apelo popular do PSDB. O grande trunfo do apoio em massa desses partidos é que, ao garantirem a preservação de seus interesses regionais no pacto com os tucanos, darão força a Alckmin no interior e junto a um público com o qual ele hoje não conversa.
Passando para o segundo turno, Alckmin passaria a favorito, com o possível apoio em massa de todos os partidos do centro à direita em uma disputa contra o deputado federal Jair Bolsonaro ou Marina Silva. Nesse cenário, ele estaria desde já construindo um governo com uma nova cara: um em que os partidos do centrão passam de adendo para o centro do poder.
Nem Fernando Henrique Cardoso, nem Lula, nem Dilma em seu primeiro governo estiveram em situação semelhante. Eles trabalharam com a realidade do presidencialismo de coalizão dando nacos de seus governos e negociando no balcão de sempre, é claro. Mas o que parece agora é que nem o balcão será mais necessário porque os clientes poderão buscar a cerveja direto na geladeira, para fazer uma analogia. Alckmin terá trabalho, caso eleito, para que seu governo não seja uma extensão do que vimos nos últimos dois anos sob Temer, o presidente que se rendeu ao centrão em troca de sua salvação.
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