O dia 9 de março de 2020 teve o maior pânico do século na B3, a bolsa de São Paulo. A queda de 12,3% no índice Ibovespa foi a pior desde 1998, tempos de crise russa e que antecederam a maxidesvalorização do real do início de 1999. Foi um recuo mais agudo do que nos dias mais tensos da crise hipotecária americana, tempo em que vários bancos quebraram, ou quase, ao redor do mundo rico.
Provavelmente também será lembrado como o dia seguinte ao choque ao contrário do petróleo. Se nos anos 70 o choque veio da alta de preços, neste 2020 o problema foi a queda. Parece bizarro o mundo entrar em pânico com a perspectiva de a energia ficar mais barata, mas o mercado tem dessas coisas. É possível perder nas duas pontas.
Esta segunda-feira seria ruim de qualquer maneira, já que no fim de semana a terceira maior economia da Europa anunciou o isolamento de 16 milhões de pessoas. A Itália resolveu buscar uma solução mais forte ao contágio do coronavírus e fechou cidades no entorno de seu maior centro financeiro e industrial (medida estendida a todo o país nesta segunda). Enquanto isso, na China, a vida não voltou ao normal e ninguém aposta em uma retomada forte de sua economia.
O choque do petróleo é uma das tantas consequências imprevisíveis da crise provocada pelo coronavírus. A doença detonou uma reação por parte do governo chinês que derrubou a perspectiva de crescimento para este ano. Conforme o vírus se espalha, seu efeito econômico chega a outras regiões do globo. O mercado precificou esse movimento, por exemplo, em valores menores para commodities, como o petróleo.
Daí para a briga entre Arábia Saudita e Rússia, bastaram algumas semanas. Algo tão inesperado que provocou uma reação em cadeia no mundo todo. Os preços mais baixos do petróleo significam que milhares de empresas ligadas a esse setor terão de lidar com receitas menores. Bancos expostos a essas empresas poderão sofrer. Os sauditas podem ter calculado mal. Ou queriam isso mesmo. As análises não são conclusivas.
Estamos falando agora de uma incerteza maior. Até sexta-feira (6), o risco financeiro não estava no centro do debate econômico. Os setores mais afetados até então, como turismo e aviação, vão causar problemas, mas não têm a mesma envergadura que o de petróleo. Há muito mais gente exposta ao preço do óleo e isso explica a reação desta segunda.
O cenário agora é de crescimento mais baixo por causa de uma virose que vem sendo mal controlada em alguns países - Itália em primeiro lugar, mas a situação nos Estados Unidos parece estar se complicando rapidamente. Haverá oferta menor de produtos exportados pela China pelo menos até meados do segundo trimestre. Agora, podemos somar a Itália, que é parte das cadeias produtivas bastante integradas do continente europeu. Consumidores em regiões com surtos da doença vão se recolher.
E a isso se soma empresas petrolíferas refazendo as contas para lidar com uma demanda menor e um preço do petróleo muito mais baixo do que se imaginava até sexta. É bastante incerteza para investidores terem bases firmes para dizer o quanto vales empresas e papéis de dívida. E quando não sabem como dar preço, os investidores correm para o dólar (a cotação por aqui está rapidamente chegando perto de R$ 5).
Aqui entra a dificuldade que o Banco Central terá para lidar com a situação. Claramente a economia brasileira não está isolada dos problemas globais. São três pontos principais de contato entre o Brasil e a crise internacional: cadeias produtivas integradas (automóveis, eletrônicos), commodities (minério de ferro e petróleo, em especial) e o fluxo de pessoas (turismo e viagens). Se o coronavírus também não for contido aqui, haverá a depressão no consumo nas regiões mais afetadas.
A princípio, o caminho para o BC seria seguir com o corte nos juros, como ele antecipou em comunicado há alguns dias. O problema é que o mercado entendeu que não há espaço para isso por causa do câmbio. Se quiser cortar juros hoje, o BC poderá estar comprando juros longos mais altos (coisa já antecipada no mercado). Ao mesmo tempo, muita gente vê como inútil uma intervenção mais pesada no câmbio para permitir a redução dos juros de longo prazo.
O Banco Central está nas cordas, olhando para a necessidade da economia real (inflação corrente baixa e crescimento derretendo por mais um ano), ao mesmo tempo em que precisa lidar com o câmbio saindo bem da área de conforto. Pode ser arriscado e, ao mesmo tempo certo, baixar os juros. A próxima reunião do Copom acaba na quarta, dia 18. Será um desafio inédito na gestão de Roberto Campos Neto.
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