Depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir nesta semana levar adiante seu pedido de aumento de 16%, o governo voltou a fazer cálculos para o orçamento de 2019. A conta não está fechando porque o gasto com o funcionalismo continua crescendo mais do que a economia, comendo uma fatia maior do gasto permitido dentro do teto criado em 2016.
Por coincidência, o Fundo Monetário Internacional (FMI) soltou na última semana seu relatório periódico sobre o Brasil, no qual indica que o país precisa fazer mais esforço em seu ajuste fiscal para voltar a ter superávits primários pelo menos em 2022, para em seguida começar a reduzir sua dívida pública. E uma das indicações do Fundo é que o país reduza de forma consistente o gasto com o funcionalismo. Uma das possibilidades aventadas pelo FMI é o congelamento dos vencimentos e contratações no setor público por cinco anos.
O Brasil parece não querer encarar o fato de que precisa tanto da reforma do funcionalismo quanto da reforma da Previdência. Os números apresentados pelo FMI nessa área são ruins: país gasta 13% do PIB com o funcionalismo, incluindo as contribuições sociais feitas pelos governos. Entram todas as esferas nesse valor. Países desenvolvidos gastam em média 10% do PIB. Emergentes gastam 9% do PIB. Nossos vizinhos da América Latina gastam 8%.
LEIA TAMBÉM: Aumentar o salário dos juízes ou manter bolsas de estudo?
A maior parte da conta é paga por estados e municípios (75% do total), onde há a concentração do serviço final ao cidadão, como saúde e educação. A esfera federal gasta os outros 25%. O FMI ressalta que o salário médio no setor público é 50% maior do que no setor privado. É uma estatística conhecida e que tem um detalhe importante: a diferença não existe em nível municipal (na média, claro), apenas nos estados e, especialmente, na União.
A recomendação do Fundo é que o Brasil reduza o peso do funcionalismo em um ponto percentual do PIB. É algo quase impossível de se fazer sem um grande atrito com as categorias organizadas do funcionalismo. Segundo o FMI, se o país congelasse todos os salários e parasse os concursos, cortaria 0,5% do PIB em cinco anos. Nesse período, só seriam mantidas as promoções por senioridade e mérito.
O FMI diz que o país terá de fazer no médio prazo uma reforma das carreiras no setor público, cortando promoções automáticas, refazendo as tabelas salariais e reclassificando as tarefas – muita gente pouco qualificada em funções administrativas ganha mais do que profissionais com grande responsabilidade e necessidade de capacitação, para citar um aspecto que está no relatório do Fundo.
Enquanto isso, o STF demonstra que não há compreensão alguma sobre essa situação dentro do próprio setor público. E é por isso que de 2000 a 2016 o gasto com pessoal cresceu em um ritmo de 4% ao ano acima da inflação. E vai continuar crescendo.
Segundo uma fonte citada pelo jornalista Ribamar Oliveira no Valor, o governo já calcula que o gasto da União com servidores vai passar de 4,36% do PIB neste ano para 4,43% do PIB no ano que vem, contando inativos. O aumento do custo da folha para o ano que vem previsto inicialmente pelo orçamento era de R$ 26 bilhões. Devem-se somar outros R$ 4 bilhões disparados no gatilho acionado pelos seis ministros do STF que votaram a favor do reajuste.
A forma como os salários dos funcionários públicos está amarrada precisa também ser enfrentada em uma reforma. O aumento do STF vai beneficiar juízes em todas as esferas. Os salários do presidente da República e ministros também podem subir com essa decisão. E, na sequência, dos Executivos de todos os estados. Fora os milhares de funcionários que já têm remuneração acima do teto e só não ganham mais por causa do “abate-teto”. Procuradores já entraram na fila também.
Não é possível para o país sustentar o crescimento do gasto com o funcionalismo acima do PIB por muito tempo. Diante disso, o congelamento é uma medida drástica? Talvez. Mas o país vai precisar de uma proposta que rompa com a ideia de que há recursos infinitos para custear a folha do setor o público, com a imposição de salários ajustados à realidade do mercado e menores barreiras para demissões.
Lula seguirá o caminho de Dilma? O que há de similar e diferente nos dois governos
Com fim do prazo de defesa de Bolsonaro, como vai andar processo do suposto golpe no STF? Acompanhe o Entrelinhas
“Derrotamos o bolsonarismo” e outras frases que colocam em dúvida a isenção dos ministros do STF
Declaração de falsidade de documento da Operação Zelotes pode gerar pedidos de anulação
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF