O ataque a instalações petrolíferas na Arábia Saudita no último fim de semana é um evento que pode provocar danos colaterais. Do ponto de vista econômico, seria uma crise pequena diante do que o mundo atravessou na década de 70. Mas com desdobramentos geopolíticos imprevisíveis que são, eles sim, uma preocupação de primeira grandeza.
O corte na produção de petróleo saudita corresponde a cerca de 5% do total global. É um volume que voltará ao mercado em um prazo ainda a ser confirmado, mas que pode ser compensado por outras fontes. A geografia da produção global de óleo mudou muito dos anos 70 para cá. Fontes novas de energia fóssil nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, dão mais segurança ao mercado. Ao mesmo tempo, a economia ficou mais eficiente no consumo de energia, o que diminui o impacto de uma alta de preço do barril.
A reação de curto prazo do mercado de petróleo foi uma alta de quase 20%, amenizada para pouco mais de 10% ao longo desta segunda-feira (16). É uma correção forte, mas insuficiente até mesmo para fazer o barril chegar ao maior preço dos últimos 12 meses - a cotação do óleo tipo brent fechou o dia perto de US$ 68, longe ainda do pico de US$ 87 no último ano. Se olharmos para um prazo mais longo, estamos ainda muito distantes do cenário vivido em 2008, quando o preço chegou perto dos US$ 150.
Se o evento do fim de semana tivesse somente esta reação isolada do mercado, seria rapidamente contornado. Seu efeito sobre o crescimento econômico global seria muito pequeno e não seria suficiente para mudar o rumo de afrouxamento das políticas monetárias. No Brasil, o maior receio maior seria um aumento agudo no preço dos transportes, o que poderia pressionar a inflação e fazer o Banco Central não ir muito longo no atual ciclo de redução dos juros.
Como nada no Oriente Médio é simples, o ataque contra as instalações sauditas eleva o grau de incerteza sobre as relações entre Estados Unidos e Irã. Muitos especialistas na região têm colocado que não interessa a nenhum dos três atores (americanos, sauditas e iranianos) um conflito aberto. Na interpretação mais benigna, o ataque do fim de semana faria os Estados Unidos aceitarem uma conversa mais profunda para avaliar a retirada de sanções contra o Irã.
A escalada recente no tom entre esses atores traz muita incerteza para essa interpretação. Ao mesmo tempo, o ataque concretizou um fato novo: tecnologias relativamente baratas e com operação simples como drones são capazes de tirar do ar uma fatia enorme da produção mundial de petróleo. Isso é muito diferente do ataque a navios-tanques, como os registrados recentemente na região. Novos ataques podem transformar rapidamente uma minicrise em uma crise longa e dolorosa.
Para o Brasil, a preocupação de curto prazo é com o ciclo de corte de juros. O Copom se reúne nesta semana e é esperado um corte de mais 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, com a Selic chegando a 5,5% ao ano. Muita gente no mercado já espera que ela feche o ano um pouco abaixo de 5%, movimento necessário para a sustentação da perspectiva de crescimento em 2020. Uma pausa antecipada poderia dificultar ainda mais a percepção de retomada.
No médio prazo, essa incerteza tem o aspecto positivo de valorizar as reservas do pré-sal que o governo pretende leiloar entre o fim deste ano e o início do ano que vem. O impacto final de um preço maior do petróleo pode ser uma redução, mesmo que pontual, no déficit primário de 2019 ou 2020. Estar longe do Oriente Médio é uma vantagem para o investimento nos campos brasileiros de petróleo.
Esse fator, no entanto, provavelmente não compensaria a combinação de inflação e juros maiores que cortaria a perspectiva de crescimento no longo prazo.
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