Quando o dólar começou a chegar perto dos R$ 4, o Banco Central mostrou sua artilharia para conter o preço da moeda americana. Colocou mais alguns bilhões em contratos de swap cambial (que não é a venda de dólares, mas um contrato que remunera a outra parte com a variação cambial), voltou a fazer empréstimos em dólar e não descarta vender reservas para normalizar o mercado. Mesmo com tudo isso, tem gente apostando contra o real. Tanto que a cotação já voltou para R$ 3,87 nesta quarta (27).
Se tem muita gente comprando contratos para ganhar dinheiro com a alta do dólar, é de se presumir que haja alguma tese por trás do movimento. Alguns analistas já colocam que a combinação de aperto nos juros dos Estados Unidos, a guerra comercial entre americanos e chineses (a ver) e as eleições aqui dentro poderiam juntas criar uma espécie de onda gigante que deslocaria o câmbio para R$ 5.
E o que o Banco Central poderia fazer contra essa onda? Ele tem armas nucleares ou um canivete? Aí as opiniões divergem. Para muitos economistas, as reservas de US$ 380 bilhões são suficientes para debelar qualquer pânico. Mas o BC teria de estar preparado para agir rápido e com força, combinando uma elevação dos juros e a venda de dinheiro no mercado à vista.
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O instrumento do swap cambial tem limitações que pudemos observar na última onda de desvalorização do real, logo antes do impeachment. Na época, início de 2016, o BC tinha um estoque de mais de US$ 100 bilhões em swaps e isso não estava contendo o dólar. Na verdade, esses contratos seguraram o câmbio só nas primeiras semanas após o início da política de leilões ser anunciada. Depois foi como se o mercado tivesse criado anticorpos. E isso vai acontecer agora, fazendo com que o BC tenha de ir além. Se será suficiente, dependerá de outras coisas.
Os fatores fundamentais por trás da pressão sobre o câmbio podem continuar piorando pelos próximos três ou quatro meses. A economia dos EUA está superaquecida e o povo do mercado ainda está calculando quanto isso vai custar em inflação e juros nos próximos anos, o que vai levar o dólar para cima no mundo todo. A guerra comercial com a China também faz o dólar se valorizar, já que deixa investidores menos dispostos a correrem riscos.
No Brasil, as eleições ainda abertas permitem qualquer tipo de especulação. Embora as equipes econômicas dos principais candidatos comecem a falar em reformas, seus discursos ainda não são incisivos e claros o suficiente. Fora o fato sempre presente de que uma melhora fiscal vai depender do Congresso.
É por isso que o real está entre as moedas de países emergentes que mais apanham neste ano. O problema aqui é que a perspectiva ainda é de crescimento da dívida pública. O governo que assumir em 2019 terá pela frente pelo menos mais dois anos de orçamento bastante deficitário e provavelmente terá de negociar com o Congresso alguma flexibilização na emenda do teto de gastos. Aumentos de impostos ainda não podem ser descartados, algo que sempre indispõe o governo com o Congresso.
Reformas mais profundas, como a da Previdência e a do funcionalismo, ajudariam a mudar esse cenário. Antes disso, precisamos de um plano para no mínimo estabilizar o gasto público em relação ao PIB. Os discursos, por ora, são lacônicos demais para o tamanho do problema.
Não é devaneio, portanto, falar de dólar a R$ 5. O banco Itaú divulgou nesta semana um relatório em que avalia essa possibilidade. Prevê o câmbio se estabilizando em R$ 4,75 em um cenário sem reformas e com “seca” de recursos no mercado internacional. É algo que pode não acontecer, mas isso não dependeria apenas do BC, já que ele não influencia a política monetária nos Estados Unidos nem a política fiscal no Brasil. No pior cenário, poderemos descobrir que o BC tem mesmo só um canivete na mão.
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