A divulgação mais ordenada dos dados sobre empréstimos feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) trouxe também uma atualização de sua posição acionária em outras empresas. Através do banco e de seu braço de participações, o governo é um grande empresário sócio de 101 companhias.
Virar sócio de uma empresa é mais do que dar um empréstimo com juros camaradas. É colocar capital no negócio e depender de seus resultados. Para quem recebe o aporte, o dinheiro entra no caixa sem juros e se torna parte do que a empresa tem como “lastro” para buscar empréstimos quando pretende crescer. E o capital evapora em caso de falência.
Em alguns casos, o BNDES entra como sócio de um negócio por considerar estratégico apoiar esse segmento. Foi assim com algumas empresas de tecnologia e com a malfadada política de campeãs nacionais. Em outras situações, o banco entrou com dinheiro para viabilizar privatizações. No setor de telefonia, por exemplo, o banco ainda é sócio das teles privatizadas nos anos 90. Há ainda a “sociedade hospitalar”, na qual o BNDES entrou para ajudar empresas quebradas.
O portfólio do BNDES é um resumo do que acontece quando o governo quer virar empresário. Ele escolhe negócios ruins, que passam por maus bocados e têm retorno duvidoso. Entra em projetos inexplicáveis do ponto de vista social. Vira alvo de investigação. Ajuda grupos claramente ligados aos políticos.
O símbolo maior desse diagnóstico é a JBS, empresa que foi alvo da política de campeãs nacionais, recebeu bilhões em empréstimos e tem o BNDES como sócio, com 21,3% de participação na companhia. Hoje sabemos como o jogo sujo da JBS em campanhas eleitorais abriu portas em Brasília e os investimentos na empresa estão sob investigação.
Outro caso do gênero é a Oi. O banco tem 1,63% da companhia, que também tentou transformar em campeã nacional. A Oi passou por fusões, a última delas com a Portugal Telecom, um processo até hoje mal explicado e que empurrou a companhia hiperendividada para a recuperação judicial.
A Oi não é a única empresa que tem o BNDES como sócio e que passou pela beira da falência. Está na lista do banco a Indústria e Comércio Chapecó, que já foi uma das maiores produtoras de carne suína e de frango do país. Apesar do apoio do banco e de um acordo de investimento com o grupo argentino Macri, da família do atual presidente da Argentina Mauricio Macri, a empresa não resistiu. Sua falência foi decretada em 2005 e deixou para o banco uma disputa judicial com os argentinos.
Há mais casos que mostram a capacidade do setor público em encontrar bons negócios. O BNDES, através de seu braço de participações, investiu na Bombril, que passou por um imbróglio no início dos anos 2000 envolvendo a italiana Cirio. Endividada, a empresa entrou em recuperação e demorou anos para voltar a dar lucro. Caso semelhante é o da Kepler Weber, uma fabricante de silos que se endividou em meados dos anos 2000 e passou por um processo de recuperação judicial.
Eventualmente, o banco até admite que errou. Em 2013, um chefe de departamento do BNDES afirmou que houve uma falha de diagnóstico no investimento feito na LBR – Lácteos Brasil. O banco era sócio do laticínio Bom Gosto e colocou mais R$ 700 milhões para criar a LBR a partir da fusão com a Leitebom. O projeto criaria a maior empresa do setor. Mas ela foi um fiasco, entrou em recuperação em 2013 e teve de vender ativos em 2014.
A lista tem ainda negócios que precisam ser melhor explicados, como a participação em uma empresa de pescados (contrato que chegou a ser investigado pelo Ministério Púbico Federal), construtoras investigadas na Lava Jato (Odebrecht está na lista, infelizmente) e várias companhias que estão para lá da segunda linha.
A lição vinda dessa lista é que são raras as vezes em que realmente o governo deve se tornar sócio de uma empresa. Às vezes, é o único caminho para uma companhia estruturalmente importante para a economia atravessar uma crise – como no caso do apoio dado pelo governo americano à GM e à Chrysler durante a crise de 2008. Pode ser interessante uma participação pequena em empresas nascentes, como na área de semicondutores e tecnologia da informação. Mesmo assim, na maioria das vezes há saídas alternativas, como o financiamento de projetos específicos, algo que o governo já faz através da Finep.
Se a onda de privatizações do novo governo realmente for adiante, há um bom trabalho a ser feito na carteira do BNDES. Podem começar se livrando da Arapuã (hoje chamada de Kosmos), passando pela JBS, até chegar à Petrobras (da qual o banco tem 15,24%).
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