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Foto: Evandro Éboli/Gazeta do Povo
Foto: Evandro Éboli/Gazeta do Povo| Foto:

O mercado financeiro acordou de mau humor nesta terça-feira (11) depois de ver os números da última pesquisa Datafolha*. O dólar subiu e a bolsa caiu, o contrário do que aconteceu depois da facada que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) levou em Juiz de Fora (MG) na quinta-feira (6). Ao que parece, a pesquisa não refletiu a esperança de mais definição no cenário eleitoral.

Uso a reação do mercado só como um sintoma do grau de indefinição dessas eleições. O episódio do ataque contra Bolsonaro não foi capaz de mudar de forma definitiva a corrida presidencial – aliás, a novidade mais notável foi a queda de Marina Silva para o miolo do pelotão que briga para ir ao segundo turno. E também reforçou suas fraquezas, que neste momento tornam a definição de seu concorrente no segundo turno mais importante até do que seu próprio desempenho.

A campanha de Bolsonaro esbarrou na falta de dinheiro e tempo de TV, algo que neste momento não o impede de ir ao segundo turno, mas pode ser um limitador para seu crescimento. Ela também tem de enfrentar a alta taxa de rejeição, de 43%, a maior entre todos os candidatos, segundo o Datafolha, e a dificuldade em conversar com o centro do especto político.

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Esse último ponto fica evidente nas simulações de segundo turno feitas pelo Datafolha. O melhor cenário para Bolsonaro é contra o petista Fernando Haddad (PT), o menos conhecido dos postulantes ao segundo turno. A candidatura bolsonarista é para poucos a segunda melhor opção, ou a menos pior entre as quatro outras alternativas com chances de ir ao segundo turno.

A dificuldade em migrar para o centro poderia ainda ser superada em um segundo turno, com um discurso que o tornasse mais previsível aos olhos do eleitorado. Mas esse não seria o único problema retórico para o candidato arrumar. Ao ter admitido publicamente que não entende de economia, Bolsonaro abriu um flanco que o expõe em debates e entrevistas. E, em momento de economia andando de lado e com desemprego na casa dos 12%, titubear nesse assunto custa caro a uma candidatura.

A proposta econômica é bancada pelo economista Paulo Guedes, que reciclou seu programa apresentado em 1989 na candidatura de Afif Domingos. Ela traz alguns pontos saudáveis no longo prazo, como uma maior abertura da economia e menor papel do Estado como vetor do crescimento. Ao mesmo tempo, padece de alguma atualização – como o fato de que a abertura comercial terá de ser acompanhada de políticas públicas para acomodar seus efeitos negativos em setores “perdedores” da economia, algo ignorado em economias desenvolvidas e que levou à angústia por trás do Brexit no Reino Unido e da eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. E de alguma dose de realismo – caso claro da proposta de zerar o déficit primário no primeiro ano de governo.

Bolsonaro está na disputa com gente que tem lábia para falar de economia. Como bem colocou o colunista da Gazeta Pedro Menezes, Ciro Gomes (PDT) se aproveita do pouco conhecimento da população para vender toda sorte de ideia mirabolante para tirar o país da estagnação – do perdão de dívidas ao estatismo à la Dilma Rousseff. Marina Silva (Rede) também tem a cartada de bons assessores e o compromisso com a estabilidade econômica, marca do discurso de Geraldo Alckmin (PSDB). E chegando agora à corrida, Haddad tem a seu favor a memória do boom econômico luliano.

O ponto aqui é que a candidatura de Bolsonaro tem fragilidades que vão além da campanha da esquerda quer pretende rotulá-lo como “ilegítimo” por causa de declarações que deu no passado. Esse é, provavelmente, o menor de seus problemas. Seu desafio real é superar uma rejeição que ele mesmo criou.

* Pesquisa Datafolha com 8.433 eleitores feita em 313 municípios entre os dias 20 e 21 de agosto de 2018. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. Levantamento registrado na Justiça Eleitoral sob o protocolo BR 04023/2018.

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