Parecia que o debate eleitoral neste ano tendia a correr em torno de temas não econômicos, em especial a segurança pública. Um sinal disso foi a forma torta com que o presidente Michel Temer enterrou a reforma da Previdência com o anúncio da intervenção militar no Rio de Janeiro. Mas o clima econômico virou junto com a incapacidade do Congresso de votar medidas que melhorassem a perspectiva de médio prazo para o Brasil e agora já colhemos uma piora sensível no mercado de trabalho.
No começo do ano, eu mesmo errei ao dizer que a economia não decidiria a eleição deste ano. O que se esperava em janeiro era que o país entraria no segundo semestre crescendo a um ritmo de 2,5%, 3%, o que faria com que a taxa de desemprego embicasse para baixo definitivamente. A percepção era de que chegaríamos em outubro com a economia sendo um problema menor do que um ano atrás e com o foco do debate em outros assuntos. Afinal, o governo de plantão não teria condições de colher os frutos dessa melhora e os outros candidatos não teriam muito a prometer.
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A situação mudou muito. Primeiro, o Congresso não terminou a votação de nenhum ajuste importante no primeiro semestre, fora a reoneração da folha de pagamentos aprovada sob pressão da crise dos transportes. Além disso, há uma tendência de piora fiscal com o andamento de pautas-bomba que aumentam o gasto público com benefícios setoriais. A greve dos caminhoneiros piorou o clima e se uniu à incerteza eleitoral para azedar a percepção geral entre empresários e consumidores. No front externo, a guerra comercial aberta pelo governo dos Estados Unidos e a perspectiva de alta dos juros americanos também sacudiram o Brasil.
Geralmente, momentos que combinam piora de indicadores fundamentais (inflação, câmbio, produção) e do clima econômico (otimismo, propensão ao consumo) desembocam em crescimento menor e desemprego. Os dados do Caged de junho pegaram o mercado no contrapé: a previsão era de abertura de pelo menos 12 mil vagas (na conta mais conservadora levantada pelo Projeções Broadcast) e houve o fechamento de 661 postos de trabalho. Agora, os bancos estão refazendo as contas para o desemprego.
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Para se ter uma ideia de como o cenário piorou, no início do ano o Santander já esperava uma taxa de desemprego de um dígito no fim de 2019. Em abril, revisou o número para 10% no fim do ano que vem e 11,4% no fim deste ano – com média de 12% ao longo deste ano e 10,9% no ano que vem (já corrigida novamente para 11,2%). O Itaú calcula que o desemprego estará em 12,3% no fim deste ano e 12,1% no fim do ano que vem, em linha com a recuperação lenta da economia. A taxa calculada pelo IBGE foi de 12,7% em maio e, se piorar em junho e julho, deve levar a mais uma revisão de perspectiva dos economistas.
Colocando de outra forma, o desemprego foi em média de 6,8% em 2014, subiu para 12,6% em 2016 e está caindo em um ritmo tão lento que não vemos quando ele voltará ao nível pré-crise. O banco Credit Suisse até chegou a estimar que isso ocorreria em 2022, mas isso em agosto do ano passado, quando ainda se acreditava que a retomada seria mais forte do que estamos vivendo.
Não bastasse a taxa alta de desemprego (estamos falando de 13,2 milhões de pessoas procurando trabalho), enfrentamos uma piora das condições de atividade de quem ainda tem alguma fonte de renda. O Dieese pulicou um estudo mostrando que, nos últimos dois anos, 5 milhões de pessoas migraram para o trabalho por conta própria. São pessoas que optaram por se virar, o que significa um trabalho com renda menor do que o das pessoas que estavam no trabalho por conta própria antes da crise. Segundo o IBGE, mais de 27 milhões de brasileiros não têm emprego ou trabalham menos do que gostariam, o que é uma medida mais ampla e talvez eleitoralmente mais precisa do problema.
É por causa do tamanho desse desemprego ampliado e da perspectiva medíocre da economia que o tema tende a ganhar espaço na campanha, principalmente nas regiões onde a recuperação está mais demorada – regiões Norte e Nordeste, além de algumas grandes áreas metropolitanas em outras regiões. E aí o debate tende a ficar nebuloso, porque não existe fórmula simples para a geração de postos de trabalho.
Duas vertentes principais devem entrar em campo nas eleições, uma mais liberal e outra estatista. Na primeira, a ideia é combinar grandes reformas para ajustar as contas públicas com microrreformas que melhorem o ambiente de negócios. Mente quem disser que é um processo indolor, já que o corte precisa ser real no gasto com o funcionalismo e Previdência. No outro campo estão os defensores do gasto público como “motor” do emprego. É a fórmula que ganhou corpo no segundo governo Lula e descambou na recessão do governo Dilma Rousseff.
A verdade é que governos não criam empregos, a não ser quando fazem concursos ou investem diretamente em obras públicas. Para isso, precisam ter caixa, ou seja, dinheiro sobrando dos impostos cobrados ou crédito na praça. Como o Brasil não tem nenhuma dessas duas coisas, parece claro que o caminho do ajuste do gasto público é o único viável. Mas essa pode não ser a solução que aparecerá com mais força no debate eleitoral. Candidatos tendem a fugir de projetos controversos e preferem números fáceis.
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