O governo Temer demorou para entender como a insatisfação dos caminhoneiros com o preço do diesel realmente levaria a uma mobilização incômoda. A greve chega ao terceiro dia e o governo não parece capaz de chegar a uma decisão consistente sobre como lidar com a situação. Mas duas coisas já ficaram claras: não são Temer e seus palacianos quem mandam no país, e um acordo com os caminhoneiros não vai sair barato.
A postura do governo beirou a indiferença antes de a greve começar. Na sequência, quando as rodovias começaram a ser fechadas e as consequências econômicas apareceram, o governo ensaiou fazer pressão sobre a Petrobras. O presidente da companhia, Pedro Parente, saiu na segunda-feira garantindo que a política de preços da empresa não muda. Se quisesse atender ao setor de transportes, o governo teria de mexer no próprio bolso.
Dentro da equipe econômica há resistência para uma redução nos tributos porque o orçamento deste ano conta com receitas que ainda não estão garantidas, como a reoneração da folha de pagamentos. Abrir mão de receita em um momento de tensão nos mercados, segue o argumento da Fazenda, seria dar mais força para a alta dos juros de longo prazo (eles estão em alta há algumas semanas e são sensíveis à política fiscal) e do dólar.
LEIA TAMBÉM: Governo propõe queda de 5 centavos no combustível para encerrar greve
Isso significa que Temer, o ex-candidato à re-eleição, não teria como capitalizar com a solução para o imbróglio nas estradas. Ele não conseguiria dobrar a Petrobras sem perder Pedro Parente – e com ele, a recuperação da confiança na companhia. E não conseguiria dobrar a Fazenda sem conseguir receita extra para repor o que for perdido com concessões aos caminhoneiros. Esse poder hoje está nas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que de repente decidiu que é possível votar a reoneração da folha, que vinha sendo empurrada com a barriga dentro do Congresso.
No fim, essa costura estava até saindo barato para o governo. A reoneração no longo prazo traz mais dinheiro para o caixa do que os cinco centavos por litro de diesel cobrados através da Cide. Temer sairia sem méritos, mas estariam atendidos os braços mais fortes na negociação: caminhoneiros, Fazenda, Petrobras e Congresso.
Só que a conta pode não fechar. Como a elevação no preço do diesel nas bombas foi de mais de 60 centavos em um ano, zerar os cinco centavos da Cide foi visto como uma concessão insuficiente – e que ainda depende de um Congresso preguiçoso em ano eleitoral. Por isso, é natural que o movimento grevista teste os limites da negociação com Brasília.
Enfraquecido, o governo pode se ver na situação de ter de entregar mais ou de ver a insatisfação dos caminhoneiros extravasar para quem deles depende. O preço pode ser mais impopularidade ou mais concessões ao presidente da Câmara, a quem coube anunciar o acordo da Cide antes do Palácio do Planalto.
O setor de transportes tem alguma razão em reclamar. Incapaz de fazer o ajuste fiscal sem elevar impostos, o governo no ano passado decidiu apertar a arrecadação sobre combustíveis. Era uma saída fácil, que não dependia do Congresso e não prejudicava um setor isolado. Mas esse movimento coincidiu com a elevação dos preços do petróleo e causou um descontentamento com efeitos preocupantes. A greve já paralisou fábricas, desabasteceu mercados e prejudicou a produção no campo, o que a torna injusta com o resto da sociedade.
Parece que o governo perdeu a mão ao ceder sem ter garantias de que conseguiria pôr fim à greve. Um constrangimento atrás do outro.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Triângulo Mineiro investe na prospecção de talentos para impulsionar polo de inovação
Investimentos no Vale do Lítio estimulam economia da região mais pobre de Minas Gerais
Conheça o município paranaense que impulsiona a produção de mel no Brasil
Decisões de Toffoli sobre Odebrecht duram meses sem previsão de julgamento no STF