A política monetária no Brasil entrou em terreno desconhecido no último ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic, até que ela chegasse aos atuais 6,5% ao ano. Temos hoje uma taxa real de aproximadamente 2,5%, muito baixa para o padrão histórico brasileiro. Mas pode não ser baixa o suficiente para a necessidade de crescimento do país. É por isso que tem ficado mais quente o debate em torno da tese de que ainda há espaço para a Selic cair em 2019.
A economia real não reagiu com muita força à queda dos juros. O crescimento no ano passado ficou em torno de 1,3%, segundo projeção média do mercado apurada pelo Boletim Focus do BC. Para este ano, o número está em 2,5%. Parece bom, mas não é. Economistas calculam que a enorme recessão de 2014-1016 criou uma ociosidade, o “hiato do produto”, que nesse ritmo só será preenchida em 2022. Fora o desemprego, que continua nos dois dígitos e só não é maior por causa da informalidade.
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O BC tem razões para não tomar uma decisão de redução da taxa já na próxima reunião, na semana que vem. Seus cenários ainda indicam que a atual taxa é adequada para manter a inflação na meta. Mas isso pode mudar dentro de 45 dias. Esse é o período em que o governo deve apresentar sua proposta de reforma da Previdência e no qual mudará a direção do BC.
Sobre a mudança de direção do BC, o mercado não vê sinais de guinada com a chegada de Roberto Campos Neto. E esse é um fator positivo para a taxa de juros, já que foi o perfil técnico semelhante de Ilan Goldfajn, atual presidente da autoridade monetária, que abriu espaço para atingirmos a menor Selic da história. Campos Neto certamente contará com a mesma confiança do mercado.
A reforma da Previdência é um fator crucial para os juros porque sinalizará a capacidade de equilíbrio da dívida pública no longo prazo. O mercado espera uma proposta com economia maior do que a proporcionada pelo texto que está no Congresso – proposto pelo governo Michel Temer e cortado no Congresso. Uma pesquisa da XP Investimentos com 87 agentes do mercado indica que 79% deles esperam uma reforma maior do que a de Temer.
Essa expectativa tem reflexo sobre com o mercado enxerga a taxa de juros. Em dezembro, 35% dos entrevistados viam risco de alta da Selic em 2019, e apenas 10% falavam em redução. Agora, esses percentuais se equivalem em 20%.
Nesta semana, o economista do Ibre-FGV Manel Pires escreveu um artigo defendendo a redução da Selic trazendo três argumentos principais: a taxa neutra de juros (em que ela não é nem estimulativa nem recessiva) caiu no pós-recessão; a inflação, principalmente a medida pelos núcleos, está abaixo do centro da meta; o hiato do produto é elevado e permite uma política mais estimulativa.
E ele não está sozinho. As taxas praticadas no mercado começaram a incorporar uma redução adicional e mais longa dos juros. Títulos públicos com vencimento em janeiro de 2020 já são negociados com uma taxa um pouco abaixo de 6,5%. A pesquisa da XP já indica uma expectativa de Selic em 6% com a reforma previdenciária
As reformas, começando pela da Previdência, vão permitir que o Brasil tenha taxas de juros decentes por um período longo. Mais importante, o espaço para redução da Selic indica que o crescimento da economia poderá se acelerar um pouco mais, desde que o mundo político não inverta novamente os sinais. A mesma pesquisa da XP indica a Selic em 7,75% sem a reforma.
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