Tanto o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso quanto o economista Paulo Guedes sondaram a possibilidade de ter o apresentador de TV Luciano Huck como candidato à Presidência. Diante de sua negatiava, foi cada um para um lado. Guedes colou no deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) para levar adiante seu plano econômico liberal. FHC, a contragosto, deixou que o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin se tornasse candidato pelo PSDB.
Os dois podem sair sem nada de uma eleição que era um prato cheio para o que vou chamar aqui de “centro reformista”, a ala política que defende um projeto de reformas para o país sem apelar ao populismo de direita ou esquerda. Mas faltava o candidato, tanto que Huck em algum ponto era a melhor alternativa no mercado. O apresentador, no entanto, não topou. E deixou como legado a pulverização do centro nesta eleição.
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Mais ágil que FHC, Guedes entendeu que poderia dar uma nova roupagem à candidatura de Bolsonaro. Entraram no plano de governo do capitão temas que não estão em sua história de parlamentar: privatizações, redução de benefícios do funcionalismo, reforma da Previdência e abertura comercial. Assim, sua candidatura se tornou um ser estranho, que fala para públicos distintos. Mesmo assim, com muitas chances de vencer em outubro.
O ex-presidente ficou amarrado a Alckmin e tarde demais decidiu escrever uma carta pedindo a união do centro. Não teve modéstia no pedido, já que o beneficiado seria o seu PSDB, partido hoje sem muita moral para pedir apoio de quem não aceitou negociar com o Centrão por mais tempo de TV.
É irônico que as pesquisas de intenção de votos estejam tirando o sono desses dois personagens que perceberam melhor do que muita gente o cenário eleitoral para 2018. O eleitor estaria aberto a uma alternativa a Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), o poste do lulismo encarcerado, desde que tivesse de fato uma característica aglutinadora. A realidade brasileira se assemelha ao que ocorreu na França, onde um movimento de renovação política venceu os polos de direita e esquerda. FHC e Guedes tiveram de procurar uma segunda melhor opção, sem nada a ver, afinal com a solução francesa.
As curvas das pesquisas eleitorais indicam que existe uma chance muito grande de Alckmin não chegar nem mesmo em terceiro nesta eleição. O PSDB perdeu votos da elite para seu competidor mais liberal, João Amoêdo (Novo), e votos da classe média insatisfeita para Bolsonaro. Abatido pela Lava Jato e seu apoio vergonhoso à salvação do presidente Michel Temer, o PSDB deixou de ser a primeira opção de quem não aceita uma saída de desenvolvimento via intervenção pesada do Estado. Talvez o partido nunca tenha se sentido confortável nesse papel e isso agora está cobrando um preço.
A sorte de Guedes ainda não é tão certa, mas há razões para se duvidar das chances de Bolsonaro em um segundo turno contra Haddad. O capitão perdeu o controle sobre sua campanha depois de sofrer um atentado no início do mês e viu surgirem críticas tanto no flanco econômico quanto no ideológico, representado pelo seu vice-presidente Hamilton Mourão. Sua tarefa, em um possível segundo turno, será fazer a ponte para o centro, indo além do discurso anti-PT. Ele precisa provar que terá capacidade política para construir soluções melhores do que o lulismo para o desemprego e a perda de renda. A saudade dos tempos de desemprego de 6% faz diferença e é pedir muito para que o eleitor se lembre de Dilma Rousseff como o primeiro poste de Lula.
O cenário eleitoral pode mudar muito na última semana, quando se cristalizam as decisões de voto, mas é certo que FHC já se arrepende de não ter levado adiante o Plano Huck. Seria muito mais palatável como alternativa de união nacional do que um ex-governador que não convence o eleitorado em seu próprio estado. A dúvida agora é se Guedes terá o mesmo destino. E isso poderá ocorrer de duas formas: com Bolsonaro perdendo no segundo turno, ou com ele vencendo com o sacrifício de se assessor econômico. Afinal, como ficou claro na última semana, o casamento entre os dois não é indissolúvel.
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