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Persistência e motivação: coisas além do conteúdo que escolas não ensinam

O papel central da educação no desenvolvimento de um país é reconhecido de forma unânime por especialistas na área, tanto do ponto de vista do conteúdo quanto das atitudes que as pessoas aprendem para a vida. Um estudo recente feito pelos pesquisadores do Insper Alex Hayato Sassaki, Giovanni Di Pietra, Naercio Menezes Filho, Bruno Komatsu usou dados do Pisa, o teste internacional de rendimento educacional, e ajuda a entender essa relação entre conteúdo e atitudes.

Os pesquisadores compararam o desempenho dos estudantes durante a prova e notaram que o rendimento cai ao longo das horas do teste. Isso acontece em todos os países, mas há diferenças importantes: os brasileiros estão entre os que têm as maiores taxas de decaimento, ou seja, perdem mais pontos conforme avançam na prova.

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A taxa de decaimento é natural porque o cansaço é um dos fatores que afetam o rendimento em uma prova. O problema detectado pelos pesquisadores é que há uma combinação perversa que afeta o desempenho dos estudantes brasileiros. Eles demoram mais do que a média para responder as primeiras perguntas (cerca de dois minutos e meio, contra um minuto entre os coreanos) e perdem mais pontos ao longo da prova (a taxa de acerto cai de 40% para cerca de 10% em cada uma das etapas da prova, que tem um intervalo), sendo que 60% nem chegam à última pergunta.

A partir desses dados, os autores levantam a hipótese de que não é só o conhecimento que atrapalha os estudantes brasileiros. Fatores como motivação e resiliência, a capacidade de enfrentar dificuldades, contribuem para que eles tenham um rendimento abaixo do de outros países. Sem o decaimento, o Brasil subiria oito posições no ranking do Pisa, ficando ainda na vexatória 57ª colocação. Ou seja, é um fator importante, mas não decisivo na prova segundo a conclusão dos autores.

Em artigo sobre o tema, o economista Naércio Menezes Filho chama a atenção para essa parte motivacional que deveria estar presente no processo educacional. Para ele, é parte importante do sucesso na vida depende da vontade de superar adversidades. Ele tem razão. Aspectos comportamentais que não essencialmente cognitivos são relevantes na forma como as pessoas encaram a vida.

Um dos trabalhos mais citados na área é o conceito de “mindset” criado pela psicóloga americana Carol Dweck. Ela diz que existem dois tipos básicos de mindest, um voltado ao aprendizado e crescimento, e outro fixo, pouco afeito ao risco e a mudanças. E para a psicóloga, as escolas têm um papel em desenvolver o mindset de crescimento ao não incutir nos estudantes o medo do fracasso e a desmotivação diante de desafios. Aspectos como a curiosidade, criatividade e a própria capacidade de aprendizado podem ser ensinados, segundo ela.

Essa é uma reflexão complementar, claro, mas que está intimamente ligada ao desempenho econômico de um país. Um estudo recente feito por economistas do Santander estimou que o Brasil poderia aumentar sua produtividade em 50% se conseguisse em dez anos atingir o desempenho no Pisa de países como Chile e Bulgária (que ainda estão entre os 25% piores na prova). É um salto capaz de elevar o crescimento da economia de 2,5% para 5% ao ano. E isso seria possível apenas com ganhos de eficiência educacional, já que a proporção do PIB gasta em educação no país já está em linha com outros países melhor posicionados no Pisa.

Eis algumas sugestões do estudo: elevar o tempo dedicado à aula (o professor brasileiro dá aula em 65% do tempo, contra uma média internacional de 85%), direcionar recursos do ensino superior para o ensino fundamental, replicar em nível nacional o modelo dos sistemas com melhores desempenhos e reduzir o absenteísmo. Há, portanto, um lado comportamental nas recomendações, como a ordem em sala de aula e a motivação daqueles que estão ficando para trás no aprendizado.

Algumas das experiências pesquisadas por Carol Dweck vão exatamente nessa linha. Seu argumento é o de que não existem alunos perdidos, mas sistema educacionais que não despertam habilidades voltadas ao aprendizado e ao crescimento. Em uma sala de aula cheia e com estudantes em pontos diferentes da curva de aprendizado, os professores tendem a privilegiar aqueles que já têm essas habilidades e aprendem com mais facilidade. Ou seja, sistemas educacionais fracassados, como o brasileiro, deixam alunos para trás, com deficiências tanto cognitivas como comportamentais. E sem que esses milhares de jovens aprendam, não existe conta de crescimento econômico de longo prazo que se sustente.

 

 

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