Manifestação de caminhoneiros: até nova greve entrou no grupo de riscos que inibem o crescimento mais rápido da economia. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná| Foto:

Nenhum governo recente do Brasil escapou de colher um ano de pibinho. Com o primeiro trimestre de 2019 encerrado, os economistas estão refazendo para baixo as suas projeções para 2019. Mantida a tendência, o presidente Jair Bolsonaro corre o sério risco de terminar 2019 com o mandato carimbado por mais um ano de economia andando de lado.

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Em janeiro, o mercado previa que a economia teria um crescimento de 2,5%, segundo o levantamento Focus do Banco Central. Nesta semana, a pesquisa do BC indica uma expectativa de expansão do PIB substancialmente menor, de 1,97%. Reportagem do Valor desta terça ouviu vários analistas e já tem gente no mercado falando em PIB de 1%.

Três fatores estão levando à revisão da projeção de crescimento: as indefinições do novo governo, as dificuldades da indústria e a desaceleração da economia global. O primeiro fator é o que Bolsonaro poderia controlar desde o início, com uma agenda com foco na reforma da Previdência e um mapa bem claro sobre produtividade. A indústria continua com problemas complexos de competitividade, que o governo indiretamente poderia ajudar a resolver. E o cenário externo está totalmente fora de controle do país. A desaceleração é coordenada, como aponta relatório do FMI, e tem por trás vários fatores em vários lugares, como o Brexit na Europa e a guerra comercial entre EUA e China.

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O fator político é central para entender a dificuldade que o Brasil está tendo para crescer depois da maior recessão da história. Mesmo com muita capacidade ociosa e juros baixos, o que permite um crescimento mais forte sem inflação, não há um indutor claro da demanda. Os governos federal e estaduais estão em situação fiscal frágil e a iniciativa privada quer um cenário mais nítido para ter confiança e investir – algo que foi inviabilizado no governo Michel Temer depois da divulgação da conversa do ex-presidente com Joesley Batista. Ao mesmo tempo, o consumo das famílias é limitado pelo desemprego ainda alto.

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A saída da recessão teria sido mais rápida se houvesse uma recuperação da confiança. Um estudo do Itaú divulgado há poucos dias mostra que há uma correlação forte entre confiança e crescimento. No modelo matemático do banco, um nível de confiança empresaria como o registrado em janeiro, de 98 pontos (no índice da FGV), está correlacionado a um crescimento do PIB de 1,7% ao ano. O índice caiu para 94 pontos em fevereiro, nível correlacionado a um crescimento de 0,8%.

A confiança empresarial é influenciada por fatores que vão da capacidade de gestão do governo, passam pela percepção de demanda do mercado e chegam a questões internacionais, como a indefinição do Brexit. Agora, até uma nova greve dos caminhoneiros entrou na agenda de riscos. É complexo, portanto, mas depende bastante de Bolsonaro neste momento, já que a tendência das contas públicas é a grande interrogação sobre o futuro próximo do país. Muitos empresários têm declarado que estão segurando seus planos enquanto não entendem como será a votação da reforma da Previdência, em especial.

A indústria teve um primeiro bimestre ruim. Além da demanda ainda fraca em vários segmentos, como construção civil, a tragédia de Brumadinho afetou uma das maiores empresas do país. A perspectiva para a produção industrial ainda é nebulosa porque o Brasil parece ter uma baixa competitividade crônica, que nem mesmo o câmbio mais competitivo tem ajudado a resolver. As reformas também são importantes para o setor, principalmente se reduzirem rapidamente custos com burocracia.

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A equipe econômica promete lançar em breve um pacote de desburocratização e de estímulo à produtividade, incluindo a capacitação através do Sistema S. São medidas esperadas pelo setor produtivo e podem ter efeito no médio prazo, mas não substituem a melhora nas contas públicas. O mercado precisa ter certeza de que não haverá aumento de impostos nos próximos anos e isso só é possível com a reforma da Previdência. Sem ela, as empresa vão trabalhar com um cenário no qual saberão que em algum momento a conta do déficit virá na forma de mais tributos ou mais juros (por causa da inflação).

Ao assumir, o governo Bolsonaro tinha a chance de acelerar reformas e fazer, inclusive, com que o crescimento neste ano fosse maior do que o esperado pelo mercado. Os tropeços dos primeiros cem dias foram suficientes para essa possibilidade ter sido descartada pelos economistas. O trabalho agora é para evitar que o crescimento esperado vire um pibinho de fato.