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Fila de pessoas procurando emprego na região de Curitiba: efeito da crise mais longa da história. Foto: Albari Rosa
Fila de pessoas procurando emprego na região de Curitiba: efeito da crise mais longa da história. Foto: Albari Rosa| Foto:

Esqueça a retomada. A questão que virou o tema central do debate econômico brasileiro é se estamos em uma recessão, estagnação ou depressão. Você pode marcar qualquer uma das alternativas e ter um tanto de razão. A economia brasileira está em seu pior ciclo da história e isso não parece ser suficiente para o mundo político funcionar direito.

Das três alternativas de interpretação do que está acontecendo no país, a tese da depressão é a mais polêmica. O conceito do que é uma depressão não é muito objetivo – ela se caracteriza por uma queda acentuada na geração de riqueza, acompanhada de desemprego alto e queda na renda per capita. Quem trouxe o tema à tona é o economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, com o argumento de que o país passa por um momento sem precedentes de lentidão na recuperação do PIB per capita.

Esse é um ponto de vista pertinente porque a retomada da última recessão é a mais lenta da história. O crescimento na faixa de 1% ao ano no período 2017-2019 faz com que o PIB per capita cresça a modestos 0,3% ao ano. Como esse indicador está 8% abaixo do pico antes da recessão, dá para perceber que vai demorar muito para a retomada se refletir em volta aos padrões de vida e consumo de antes da crise.

O PIB per capita é uma medida importante porque está fortemente correlacionado com o que mais interessa às pessoas: emprego e capacidade de consumir. A taxa de desemprego está persistentemente na casa dos dois dígitos – foi de 12,7% no trimestre encerrado em março – e as previsões para os próximos meses ficou menos otimista. O banco Itaú, por exemplo, projeta que a taxa de desemprego estará acima de dois dígitos até o fim de 2022, pelo menos.

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A economia brasileira vem criando empregos formais em um ritmo instável e a taxa de informalidade cresceu com a crise. Isso está relacionado com um crescimento mais lento da renda do trabalho e, por consequência, menor capacidade de consumo das famílias. O cenário, portanto, é de uma recessão que implicou em uma década perdida (a recessão começou no segundo trimestre de 2014 e terminou no quarto de 2016, mas seus efeitos vão até 2024).

O que nos leva a um segundo ponto: há sem dúvida uma estagnação econômica. O PIB per capita cresceu em média 2,4% ao ano no período 2001 a 2013. Isso mesmo com a recessão de 2001, provocada pela crise energética, e a de 2009, provocada pela crise internacional. A média de 2014 a 2016 (durante a recessão) foi de -2,9% e, na retomada, de 0,3% ao ano. Essas são médias simples que servem apenas para mostrar a distância entre os períodos, claro.

A resposta para a terceira interpretação vamos descobrir quando saírem os números do PIB do primeiro trimestre. Vários economistas preveem que ele virá negativo, com a possibilidade de uma revisão para baixo no PIB do quarto trimestre de 2018, o que levaria ao diagnóstico de uma recessão técnica, ou seja, dois trimestres consecutivos de encolhimento do PIB na comparação com o trimestre anterior.

Essa é apenas uma convenção. A avaliação do que é uma recessão leva em conta outros fatores, como o momento em que a desaceleração se acentua e seu impacto sobre a economia real. Mas não deixa de ser sintomático o fato de o Brasil correr o risco de entrar em uma recessão técnica. No início do ano, economistas de mercado previam um crescimento de 2,5% em 2019. Essa previsão está caindo para perto de 1%. É uma deterioração rápida e em sintonia com o cenário político complicado.

A expectativa do início do ano era a de que haveria a tramitação acelerada de reformas estruturais, em especial a da Previdência. Ela virou um impasse no Congresso, onde deve ser reformulada com o aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Analistas otimistas preveem sua aprovação até o fim do ano, com algum efeito nas contas públicas a partir de 2020. Esse é o mínimo necessário.

Há outras coisas que precisam acontecer para o cenário não piorar. O Banco Central teria boas razões para baixar ainda mais os juros, mas está há quase um ano em compasso de espera porque avalia riscos negativos para a inflação. Juros menores ajudariam, pelo menos, a estabilizar as expectativas. A economia também precisaria da injeção de mais investimentos, o que depende da predisposição das empresas em correr riscos, algo em baixa no momento por causa das incertezas políticas e fiscais. Outra saída seria uma melhora via exportações, algo mais difícil em um momento de estagnação do comércio internacional e de guerra comercial entre grandes países.

Temos, enfim, uma estagnação entremeada por uma recessão e com cara de depressão.

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