O mercado dá como certo que o Banco Central (BC) vai reduzir os juros na próxima reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom), que termina na quarta (31). Na verdade, o mercado está praticamente mandando o BC cortar a taxa básica da economia - títulos públicos com vencimento em janeiro estão sendo negociados com juros de 5,6% ao ano, quando a taxa básica hoje é de 6,5%. E muita gente espera que venha uma "pedrada" que vai acelerar a retomada econômica.
As previsões sobre o comportamento dos juros nos próximos meses ainda variam bastante e o que vai ditar as contas dos economistas de bancos e afins é a decisão de quarta-feira. Um corte mínimo, de 0,25 ponto percentual, indicará que o BC será cuidadoso e só irá mais longe quando estiver mais seguro sobre o andar das reformas e o comportamento da inflação. Mas é possível que a sinalização seja de um BC mais ativo, com corte de 0,5 ponto.
Até onde o BC vai? Há quem acredite que o movimento seja intenso e rápido. O Bank of America Merrill Lynch aposta em corte de 0,5 ponto agora e um total de 1,75 ponto até dezembro. Teríamos, na virada do ano, juros básicos de 4,75% ao ano. É um tipo de estímulo monetário inédito na história recente da economia brasileira.
O Itaú tem uma aposta intermediária. Corte de 0,5 ponto agora e outros dois do mesmo tamanho até o fim do ano, com juros de 5% em dezembro. Ainda é um estímulo muito significativo. O Bradesco, para dar um exemplo mais conservador, vê o BC ainda desconfiado a respeito do ritmo das reformas, iniciando o ciclo de corte de juros com 0,25 ponto e juros no fim do ano em 5,5%. O ritmo do início do ciclo de cortes, portanto, é uma dimensão crucial da interpretação do mercado sobre o que o BC pretende.
Existem bons argumentos dos dois lados. O ciclo mais leve de estímulo monetário estaria ligado à necessidade do novo presidente do BC, Roberto Campos Neto, manter no mercado a noção de que a meta de inflação continua sendo seu único alvo. Por essa linha de raciocínio, ele e a nova direção da autoridade monetária condicionariam cortes maiores a uma entrega real de ajuste fiscal via reformas e à consolidação do cenário inflacionário para 2020 e 2021.
Quem aposta em um corte mais forte deixa um pouco de lado essa questão comportamental da decisão e olha para os dois pontos da economia real mais importantes neste momento. A inflação parece comportada, fechou junho em 3,37% na medição anualizada e os dados iniciais de julho são positivos. É um número consideravelmente abaixo da meta de 4,25% deste ano e de 4% do ano que vem. O outro fator é a atividade econômica muito fraca, com grande capacidade ociosa, o que reduz a chance de repique inflacionário.
O BC costuma olhar para outros fatores, entre eles o câmbio e as contas públicas. A cotação do dólar vem recuando nas últimas semanas, respondendo a uma melhora de percepção interna por causa da aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara, e à perspectiva de redução dos juros na Europa e nos Estados Unidos (o Fed, inclusive, toma decisão horas antes do BC aqui). As contas públicas, apesar das dificuldades no lado da receita, continuam dentro da meta orçamentária para 2019 - estão, na verdade, do lado contracionista da equação, já que o governo federal está contingenciando gastos.
Havia já razões para o BC ter baixado antes os juros. Mas o ritmo da votação da reforma da Previdência foi um fator fundamental que atrasou o relaxamento da política monetária. É uma precaução compreensível que pode persistir devido ao fato de o projeto ainda ter de passar em segunda votação na Câmara e em duas votações no Senado. Só que os dados da inflação e do relatório Focus (pesquisa semanal feita com o mercado) indicam que o risco hoje é de o BC não atingir o centro da meta antes de 2021 (quando ele cai para 3,75% ao ano).
O ministro da Economia, Paulo Guedes, já indicou que o governo federal não fará estímulos fiscais - fora a liberação do saque do FGTS, que pode ter um efeito leve sobre a atividade e não entra no orçamento. Sua aposta está em mudanças regulatórias, como a MP da Liberdade Econômica, e estímulos monetários (juros mais baixos), permitidos pela gestão cuidadosa das contas públicas.
A bola nesta semana foi passada para o Banco Central.