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Guilherme de Carvalho

Guilherme de Carvalho

Guilherme de Carvalho é teólogo público e cientista da religião, com foco na articulação entre cristianismo e cultura contemporânea. É Pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte e diretor de L’Abri Fellowship Brasil. Foi diretor de Promoção e Educação em Direitos Humanos no Governo Federal.

O “apocalipse de palha” e a religião do bolsonarismo para Yago Martins

Ernesto Araújo
Discurso de posse de Ernesto Araújo levou Yago Martins a entrar no debate sobre o bolsonarismo. (Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil)

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“Apocalipse de palha” é uma expressão empregada por Yago Martins em seu novo livro, A religião do bolsonarismo, para descrever o coração espiritual desse movimento. O livro ganhou rapidamente o interesse do leitor: foi lançado na última terça-feira, 11 de maio, e dois dias depois se tornou o mais vendido nas categorias “Política”, “Religião” e “Ensaios de religião e espiritualidade”, e o quinto mais vendido na loja Kindle da Amazon (de acordo com dados desta sexta-feira).

Mas que apocalipse de palha seria esse? Yago usa a expressão para descrever a mescla de conspiracionismo, anseio por uma conflagração nacional iminente, um sentimento de guerra espiritual contra o mal e o discurso messiânico do movimento – resumindo, uma paródia da escatologia cristã. Daí que o autor vê no bolsonarismo um fenômeno não apenas político, mas também religioso. O livro expõe a questão de forma objetiva, clara e fundamentada, e na minha opinião é leitura indispensável para todos que pretendam votar nas eleições presidenciais em 2022 – especialmente os cristãos!

Yago, a essa altura há vários livros disponíveis sobre o fenômeno do bolsonarismo e de sua guerra cultural, como os de Martim Vasques da Cunha, Ricardo Alexandre e Thais Oyama. É claro que o assunto é quente e o momento ajuda; mas por que você escreveu esse livro? Que contribuição você quer dar ao debate?

Entendi que tinha o que contribuir para a discussão sobre o governo Bolsonaro quando assisti ao discurso de posse de Ernesto Araújo como ministro das Relações Exteriores do Brasil, em janeiro de 2019. Duas coisas me constrangeram profundamente. Primeiro, o tom de homilia do discurso, que se fundou na exposição de um dos mais famosos versículos sobre Jesus; segundo, pelas aplicações do texto messiânico ao projeto de poder de Jair Bolsonaro. Foi ali que eu percebi que o presidente não apenas usou da religião como meio de conseguir votos – como é comum a outros candidatos – , mas capitaneou votos para a criação de uma pseudorreligião. Outras obras explicam como Bolsonaro foi eleito e analisam pontos específicos de sua jornada até aqui, mas me atento ao uso do religioso no político e no uso do político no religioso. Ricardo Alexandre, em E a verdade os libertará, certamente faz um trabalho paralelo ao meu, mas segue uma via jornalística, e com muita competência. Em A religião do bolsonarismo escrevo como um teólogo e pastor, o que acredito ser um ângulo novo para o debate.

“O presidente não apenas usou da religião como meio de conseguir votos – como é comum a outros candidatos – , mas capitaneou votos para a criação de uma pseudorreligião”

Yago Martins

E o que é, afinal, essa “religião do bolsonarismo”?

Em No alvorecer dos deuses, eu desenvolvi bíblica e teologicamente as bases da minha análise acerca do fenômeno da idolatria. Nessa obra, eu tento mostrar como as religiões do coração se manifestam. A saber: não exclusivamente no relacionamento com um Deus pessoal, mas também em relacionamentos variados com elementos da realidade. Vários autores fizeram isso, como Auguste Comte (1798-1857), Ludwig Feuerbach (1804-1872), Søren Kierkegaard (1813-1855), William James (1842-1910), Sigmund Freud (1856-1939), Henri Bergson (1859-1941) e Max Scheler (1874-1928), para não citar os mais conhecidos pelas comunidades evangélicas, como Herman Dooyeweerd (1894-1977), Rudolf Otto (1869- 1937) e Viktor Frankl (1905-1997). Ao longo do livro, principalmente na segunda metade, esforço-me para demonstrar como a idolatria forma relacionamentos, de modo que cidades, nações, políticas e ideologias podem ser frutos daquilo que adoramos no coração. Assim, e isto eu argumento mais delongadamente naquela obra, nós identificamos falsas religiões percebendo que os ídolos são senhores erguidos no interior do homem a quem se presta serviço exclusivo, entesourados como dotados de valor superior e tidos como receptáculos de preocupação exagerada. São projeções de si que recebem glória e são vistas em esplendor, e por isso são manifestas como desejos desordenados por algo. Os ídolos mudam a forma como se vê o mundo, e movem o homem à militância, uma atividade frenética que se manifesta como um estado de espírito intencionalmente fixo.

Em A religião do bolsonarismo, então, aplico este desenvolvimento ao modo como nos engajamos politicamente na defesa de um político ou ideologia específicos, enxergando um projeto de apocalipse em resultados eleitorais. A partir do momento em que Bolsonaro é visto como uma dobradiça da história, onde ou ele era eleito ou o mal total nos alcançaria, ele passa a assumir características de culto. Isto se dá nas formas mais militantes de engajamento político, mas também nas relações sociais mais simples.

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Como digo no livro, isso aparece no modo como as pessoas ergueram Bolsonaro e a ideologia bolsonarista, a ponto de prestar serviço exclusivo às pessoas e aos ideais que fomentam a agenda de Bolsonaro; pela forma como a política bolsonarista passou a ser dotada de valor superior a qualquer outro valor de vida, convertendo-se num tipo de cosmovisão em que toda a existência se submete aos próprios ideais (inclusive na escolha de remédios e tratamentos médicos); a partir do momento em que essas questões políticas em volta do presidente são alvos de preocupação exagerada e se tornam objeto central das conversas, do que é compartilhado no WhatsApp, das reuniões em família e das leituras diárias; a partir do momento em que muita glória e esplendor são envolvidos na figura de um governo messiânico e os desejos acabam se tornando desordenados, a ponto de gerar violência; a partir do momento em que o mundo é visto como oportunidade de militância em uma atividade fixa pelos conflitos da política partidária e abominações e iniquidades são justificadas, e até praticadas, em nome do presidente, em uma dedicação por vezes doentia, enquanto Bolsonaro se torna sua glória e a concretização da sua política se torna sua motivação; quando parece que tudo isso está em primeiro lugar como um tipo de paixão, de desejo descontrolado, e a vida acaba resumida a isso, a ponto de torcer e profanar os elementos bíblicos em nome de um presidente – enfim, não há outro nome que possa ser dado a esse fenômeno que não seja religião.

Impressionou-me particularmente, em seu livro, o peso da imaginação escatológica e apocalíptica no apoio cristão, tanto católico quanto protestante, e no próprio discurso do núcleo ideológico bolsonarista. No mundo evangelical falamos muito sobre a importância de cultivar a “cosmovisão cristã” no sentido de uma representação da realidade – da natureza e da história – fundada na autorrevelação de Deus em Cristo, e na metanarrativa Criação-Queda-Redenção. Mas uma parcela significativa dos cristãos foi arrastada pela apocalíptica bolsolavista; renderam-se a uma imaginação messiânica e apocalíptica. Daí uma pergunta teológica: precisamos revisar nossas discussões sobre “cosmovisão cristã” a partir disso?

Estou propondo aos meus alunos desde 2018 que a escatologia cristã calibre nossa cosmovisão cristã. No livro Idolatria política, ainda não publicado, tento explicar que a utopia política se manifesta como a escatologia secular e uma esperança política, nada mais que uma projeção na história de uma esperança transcendental, de forma que muitos autores têm relacionado o pensamento utópico com a escatologia cristã. Mesmo o sociólogo húngaro Karl Mannheim (1893-1947), que não cria em realidades para além do imanente, já disse que “a utopia não se deixa encerrar na esfera do político”, pois “assemelha-se à [...] religião”.

Há um paralelo entre messianismos socialistas e nacionalismos messiânicos – e Bolsonaro assumiu isso como parte de sua narrativa política, ao ponto de convencer muitos cristãos. Uma das grandes características religiosas das promessas políticas estaria no sonho da integração da humanidade em uma coletividade definitivamente harmônica, o que pressupõe uma transformação nas relações de conflito e violência que parecem tão comuns ao devir humano. Por isso a anatomia das revoluções sempre traz as utopias como movimentos que propõem saltar pelo abismo entre o que os homens são e o que os homens querem ser e ter.

“A partir do momento em que Bolsonaro é visto como uma dobradiça da história, onde ou ele era eleito ou o mal total nos alcançaria, ele passa a assumir características de culto.”

Yago Martins

Em sua pregação da plenitude pela política, a utopia seculariza a teologia da Providência divina e procura categorias materialistas para naturalizar a paz eterna do Senhor. Para o revolucionário comunista Josip Vidmar (1895-1992), em diálogo com o socialista cristão esloveno Edvard Kocbek (1904-1981), o cristianismo não conseguiu transformar o homem e o mundo porque não ofereceu “recursos encarnacionais adequados”, e que o comunismo era agora necessário “porque só ele poderia satisfazer as condições necessárias para fomentar as qualidades espirituais do homem”. Creio que isto seja falso por um lado, mas os movimentos políticos souberam se aproveitar deste cenário em sociedades que ainda têm influências profundas de um cristianismo cultural.

O bolsonarismo se vendeu como uma utopia, uma “imanentização falaciosa do eschaton”, como dizia Eric Voegelin, ou uma “secularização socialista da escatologia” que gera um “messianismo desapossado” e uma “escatologia despojada”, como disse o filósofo austríaco Martin Buber (1878-1965), ou mesmo uma “parousia degradada”, nas palavras de Cioran, ou ainda uma “escatologia intramundana”, para o teólogo sistemático alemão Wolfhart Pannenberg (1928-2014). Na mente idólatra, há uma experiência de transfiguração política, onde os atos políticos passam a ser vistos como atos glorificados, capazes de mover a história, trazer o Reino, avançar o milênio, transformar a humanidade e concretizar o apocalipse. Isso significa que, se não tivermos um olhar correto para a história humana, a partir de uma escatologia bíblica robusta e uma teologia do Reino exegeticamente coesa, seremos alvos fáceis para qualquer utópico que faça propaganda do fim dos tempos em benefício próprio.

Outro assunto de meu interesse é o “dominionismo” cristão tupiniquim. Parece que nosso fenômeno deve pouco ao dominionismo teológico reformado dos EUA; a versão da “teologia dos sete montes” e a de Edir Macedo estão bem distantes dele. Você tem uma opinião sobre como proteger as comunidades cristãs desse discurso?

Aqui, o discurso fica profundamente pastoral: precisamos de mais missiologia. O problema das teologias de domínio está no abandono do modo como os cristãos enxergam sua influência na sociedade, a saber, mais pela via do convencimento que da imposição. Trabalhamos na pregação do evangelho mais que na implementação de agendas políticas morais. Explico isto com mais detalhes na obra.

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Um dos pilares do núcleo ideológico do governo era certamente seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Seus discursos, profanando a teologia cristã para adequá-la ao projeto bolsonarista, eram absolutamente chocantes! Mas agora o homem é carta fora do baralho, aparentemente. Mudou alguma coisa, em sua opinião? Você vê um giro pragmático no governo Bolsonaro ou o messianismo continua sendo o eixo de seu discurso?

Existe um “núcleo ideológico” no governo Bolsonaro que luta para permanecer influente nos ministérios, mas que sofre com a subserviência do presidente ao “Centrão” e aos militares. O sistema dá o pé para a salvação da cabeça, e os mais fracos vão sendo deixados de lado. Sacrifício humano sempre foi presente em cultos pagãos. Esta desconexão entre a ideologia bolsonarista e a política prática dos ministérios de Bolsonaro não são novidade. É a velha “governabilidade” que faltou a Dilma e que Jair luta por conquistar, e não parece muito receoso de deixar pelo caminho quem precisar, com poucas exceções.

“A pedra não pensa, ela voa”. Apenas mais uma das pérolas de Abraham Weintraub, mas me parece incrivelmente reveladora. Você cita o “aforisma” weintraubiano no livro. Seria um exagero dizermos que alguns cristãos bolsonaristas se reduziram a isso?

Nem todo eleitor é isso, mas todo idólatra que assumiu não poder raciocinar criticamente o é. A idolatria afeta nossa mente de modo muito profundo, fazendo com que nossa razão se fundamente na adoração. Pensamos estar lendo os fatos de modo frio, mas estamos apenas exercendo com toda a sinceridade um louvor ao que consideramos fundamental. O pensamento não é neutro, e às vezes ele se obscurece em nome da fé. O fideísmo civil se manifesta como uma fé cega no projeto de poder, como pudemos ver nas declarações de agentes do governo.

Como essa “fé cega no poder” se constituiu me parece uma questão urgente. Na introdução do livro você observa que a igreja evangélica é uma das responsáveis pela eleição de Jair Bolsonaro – isso é fato reconhecido, moeda comum hoje em dia. É o caso de dizermos que essa responsabilidade pesa especificamente sobre uma liderança cristã evangélica? Quem alimentou isso? Se não quiser dar nomes, pinte um quadro (risos)...

Muitos nomes podem ser apontados – e o são no livro –, mas identificar meia dúzia de figurões não é justo com um cenário descentralizado como o evangelicalismo. A responsabilidade está nas pequenas lideranças locais que reproduziram discursos prontos, acreditaram em informações falsas ou simplesmente viram no Bolsonaro a resposta total ou apenas um remendo momentâneo para a possibilidade de retorno do lulopetismo.

“A idolatria afeta nossa mente de modo muito profundo, fazendo com que nossa razão se fundamente na adoração. Pensamos estar lendo os fatos de modo frio, mas estamos apenas exercendo com toda a sinceridade um louvor ao que consideramos fundamental.”

Yago Martins

Terrível, no entanto, foi o nível de perseguição intraeclesiástica que foi possível observar neste período. Conheço pastores críticos ao governo que foram excluídos de ministérios e tiveram seus empregos cassados depois que reprovaram publicamente o governo. Muitos sites e páginas cristãs entregaram seus espaços como oferta a Bolsonaro, e pararam de produzir conteúdo teológico. Alguns pastores outrora conhecidos por suas publicações teológicas se rebaixaram a comentaristas políticos e agitadores sociais. É uma pena. Satanás tem muitas formas de destruir bons ministérios.

A certa altura no livro você menciona também que, além de neopentecostais e católicos tradicionalistas, pastores reformados se envolveram no apoio ao bolsonarismo. Evidentemente, mesmo não legitimando o bolsonarismo per se, eu mesmo dei apoio tácito a Bolsonaro ao participar de seu governo. Daí eu ter me sentido na obrigação de retirar esse apoio publicamente (como fiz em março de 2020). Em sua opinião todos deveriam fazer isso também? Há uma obrigação moral aqui?

Eu não acho que participar do governo necessariamente represente apoio ao governo. Nem todo funcionário de uma empresa gosta do lugar onde trabalha, e permanece lá tanto para pagar as contas quanto porque acredita produzir algo de bom por meio daquele ofício. Podemos ser críticos do governo da ocasião e mesmo assim trabalharmos nele para tentar melhorar aquilo que criticamos. Claro que, na prática, é comum que quem não se submete fielmente acabe deixando suas atuações, como foi seu caso. Por isso o que você escreveu sobre bolsonarismo é tão importante e eu tenha citado tão amplamente no primeiro capítulo do livro. Não acho que todo eleitor se encaixe nisso, mas qualquer um que tenha feito defesas publicas e apaixonadas do presidente precisa usar seu espaço de comunicação de modo equivalente, quando aquele que foi apoiado se mostra reprovável. Talvez uma motivação oculta para este livro seja por eu ter declarado que votaria no Bolsonaro: ninguém tem mais obrigação de ser oposição que os eleitores. É o que eu disse antes mesmo do primeiro turno nas minhas redes: “eu não sei quem vai ganhar, mas sei que dia primeiro eu estou na oposição”.

Taí uma frase que vou tomar pra mim! Mas, insistindo nesse ponto... você já deve ter sido acusado – como eu mesmo fui – de fazer um exercício autoexpiatório desnecessário e até desonesto, com essas críticas ao governo. Não só por bolsonaristas, mas pela esquerda também. Tem algo a dizer a respeito?

Estou criticando Bolsonaro desde antes de ter votado dele. O que as esquerdas fingem não entender é que voto não significa apoio irrestrito e incondicional. Um número limitado de candidatos é posto diante de nós, e precisamos escolher dentre eles. Se me fosse dado liberdade para votar em qualquer brasileiro, talvez pudessem interpretar que meu voto é indicativo de compromisso. Este não é o caso, e votei em Bolsonaro com muito lamento. Tudo permanece público em minhas redes sociais. As esquerdas que deveriam se questionar: “onde erramos para que o brasileiro honesto tenha votado em uma figura tão claramente tacanha como o seu Jair?” Certamente, as esquerdas não deram alternativas – nem os movimentos conservadores ou liberais. Culpar todo e qualquer eleitor ou fazer campanhas para um presidiário solto por uma jogada jurídica não vai ajudar em nada.

“Como pastor e teólogo, eu estou muito mais preocupado em impedir que sejamos devotos a políticos do que motivar votos em quem quer que seja.”

Yago Martins

E falando nas esquerdas... concordo com sua observação, no livro, de que elas não conseguem se comunicar com boa parte dos cristãos e eleitores de Bolsonaro porque não levam a sério suas demandas. E no fim do livro você apresenta como único caminho possível uma direita com liberais e conservadores genuínos (já que Bolsonaro é um revolucionário). Mas isso não deixa a esquerda democrática de fora? Por que a esquerda democrática está mais longe do equilíbrio que os liberais e os conservadores? O apoio de grande parte deles a Bolsonaro sugere que todos estão igualmente paralisados.

Por causa do modo como se associaram a pautas morais muito progressistas, as esquerdas brasileiras têm muita dificuldade de serem aceitas pelo brasileiro comum. Ainda que sejam politicamente democráticas, as questões morais serão um gargalo, a meu ver, intransponível. Em um sentido econômico e político, qualquer social-democrata é ouvido e pode até ser aceito, vide Fernando Henrique Cardoso, mas as discussões éticas e morais vão continuar inundando o debate. Isto é tão certo que o PT precisava constantemente trair as próprias crenças no discurso presidencial, com Dilma falando contra o aborto, enquanto os deputados do partido discursavam a favor. Claro que minhas propostas de solução não são neutras e, como pastor economicamente liberal e politicamente conservador, não acho que os movimentos progressistas consigam ser resposta para o que quer que seja. Eu prefiro esperar por um presidente que também seja conservador e liberal, e não apenas no discurso de campanha.

Agora uma colher de chá para nossos leitores: em quem votar em 2022? Ou, ao menos, com quais critérios?

Eu não sei. Quem disser que sabe, um ano antes das eleições, provavelmente está sendo apaixonado. Nosso papel hoje é pautar o debate, criar demandas políticas e esperar que surja quem supra essas necessidades. Bolsonaro era um político particularmente inexpressivo, e chegou aonde chegou por saber jogar com o cenário que estava dado. Sabe-se lá quem pode surgir para 2022. Como pastor e teólogo, eu estou muito mais preocupado em impedir que sejamos devotos a políticos do que motivar votos em quem quer que seja. Que Deus nos ajude nisso.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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