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Há poucos dias Thiago Amparo, professor da FGV e colunista da Folha de S.Paulo, publicou um artigo no qual acusa o interesse de Jair Bolsonaro, no tocante à nomeação para o STF, de “afagar o submundo da carreira jurídica como a Anajure”, referindo-se à Associação Nacional de Juristas Evangélicos (acusação evidentemente refutada no Diário Oficial desta sexta-feira).
Não ficou claro se a “submundanidade” atribuída à Anajure residiria em seu método ou em seu caráter religioso; mas tanto faz: os leitores deitaram e rolaram na segunda opção. A observação evocou a costumeira avalanche de lamentos, injúrias, piadas e outras expressões de preconceito com as quais o evangélico típico está bem adaptado. Ele logo se retratou em sua conta pessoal no Twitter, retomando os hábitos democráticos: “Discordo da Anajure, mas não quis diminuir seu trabalho”; as desculpas foram imediatamente aceitas, e o jogo seguiu.
Ocorre que essa falta é repetida por aí ad nauseam e sem cartão vermelho; um se desculpa aqui, outro repete acolá, e não temos sossego em nenhuma semana do ano. Poucos dias depois, a BBC Brasil publicou um artigo sobre missionários dekasseguis que espalham o evangelho no Japão. O tuíte da BBC foi seguido por uma multidão de comentários preconceituosos. É uma espécie de feijão-com-arroz que os crentes têm de ingerir regularmente em mídias sociais, a ponto de fazer pensar se não há mesmo, ao menos entre o público da tuitosfera, uma espécie de evangelicofobia.
É verdade, e sou obrigado a reconhecer, que metade dessas chateações é causada por estripulias e pés-na-jaca de evangélicos públicos. Mas essa “estatística”, mesmo que assim, no olho, não existe para outros grupos sociais que se agrupam por credos e práticas e que erram de modo similar. Penso que há uma espécie de viés de disponibilidade, acentuado por uma cobertura enviesada da própria imprensa, no sentido de destacar a presença evangélica e seus erros em certos lugares.
Esse viés tem uma fonte objetiva: há, inegavelmente, uma ascensão cultural evangélica. Não, ainda, em termos de contribuições culturais líquidas, mas em termos de presença social e política bruta. Essa ascensão gerou ou reforçou um medo-de-crente. Inconfessado, reprimido e freudianamente exposto em chistes e atos-falhos como o do ilustre professor.
Enfim, como se diz, “precisamos falar sobre isso”. Há motivos para o medo-de-crente? Eu penso que sim; e que isso não se deve a um defeito intrínseco ao evangelicismo, mas ao deslocamento histórico que ele sinaliza.
Desenraizados
Vou começar com uma crítica interna. Há alguns anos dom Robinson Calvalcanti, falecido bispo anglicano do Recife, publicou na revista Ultimato uma interrogação crítica sobre o protestantismo tupiniquim: “Brasil: um protestantismo neoanabatista?” O anabatismo, também chamado de “reforma radical”, foi uma das grandes correntes da Reforma Protestante. Mas, à diferença do luteranismo, do calvinismo e do anglicanismo, o anabatismo assumiu uma atitude mais claramente conflitiva com a ordem social estabelecida, variando entre uma renúncia sectária e conventicular e a agitação revolucionária, como em Thomas Munzer.
O anabatismo é uma respeitável tradição eclesiástica e teológica, mas é compreensível que dom Robinson, contemplando a cena brasileira como anglicano, desça à questão de mérito sobre o modelo de engajamento de fé e cultura representado pelo anabatismo e seu impacto no país. E a leitura dele não é simpática.
Para dom Robinson, o ethos anabatista incorporado no protestantismo brasileiro tem uma séria dificuldade com a caminhada histórica da igreja, desprezando as denominações tradicionais em um espírito primitivista, restauracionista, “presentista”, negando o passado e a tradição eclesiástica; padecendo de uma prática eclesial dualista e minimalista, rejeitando a beleza, a arte, a liturgia e o ícone; uma espécie de “igreja mínima”. Ele observa com acerto:
Será que as pessoas mais refinadas, artisticamente sensíveis, terão de ficar presas aos extremos da idolatria e da iconoclastia, sem lugar para uma igreja reformada valorizadora da história, do consenso dos fiéis, da reverência e da beleza na adoração, incluindo os símbolos e a liturgia?
Há motivos para o medo-de-crente? Eu penso que sim; e que isso não se deve a um defeito intrínseco ao evangelicismo, mas ao deslocamento histórico que ele sinaliza
Nesse sentido, o evangelicismo brasileiro seria uma espiritualidade desenraizada e em conflito com a história. Tal desenraizamento o tornaria alienado e carente de perspectiva para responder de modo esclarecido às demandas do processo histórico.
Os reclames de dom Robinson podem ser lidos como protestos de um eclesiástico tradicionalista; mas ele sempre foi respeitado pela juventude universitária cristã, dos anos 80 aos anos 2000. Não é necessário ser adepto de uma denominação histórica e tradicionalista para reconhecer que há algum sentido na fala do homem.
Entretanto, isso que ele aponta, por um lado, como uma fraqueza, num outro sentido pode ser... a força da religião evangélica.
Modernos e... competitivos
Uma das razões por que o evangelicismo é tão incômodo para a moderna sociedade secular encontra-se exatamente em sua proximidade. Trata-se de uma religião do indivíduo, da expressão emocional, da inovação, da competitividade no mercado das crenças, do “agora” e não da tradição. Isso coloca o evangelicismo perto demais.
De certo modo, trata-se de uma religião extremamente adaptada ao processo de centramento subjetivo e de sentimentalização que caracteriza a modernidade, segundo Charles Taylor. É assim que o evangelicismo rapidamente desenvolve versões da indústria cultural secular e promove a cultura do individualismo religioso, mas com um importantíssimo bônus: um grau de experiência comunitária, de validação identitária e de estabilidade moral que o secularismo não é capaz de emular.
O evangelicismo, nesse sentido, é uma ponte; encontra-se bem no meio, entre um cristianismo tradicionalista e um secularismo líquido, como uma espécie de mediação. Não é segredo pra ninguém, por exemplo, que o romanismo lentamente absorve muitas contribuições protestantes e evangélicas, inclusive no estilo de piedade. De um ponto de vista missiológico e religioso, o evangelicismo pode ser visto, sim, por tradicionalistas como um confuso campo de batalha, no qual há muitas “baixas”; mas, num outro sentido, pode ser visto como uma cabeça-de-ponte da presença cristã em uma sociedade altamente secularizada. Ele sobrevive nesse ambiente inóspito para a fé, numa atmosfera na qual a religião “não deveria sobreviver” – ao menos segundo a narrativa das elites culturais.
Consideremos o embate entre evangélicos e os representantes dos campos afetivos modernos (Eva Illouz), com seu discurso da autoatualização e autoexpressão, da busca da felicidade sexual e da autenticidade identitária, com sua “nova família” e agendas como a LGBTQIA+. O poder e a competência afetiva e ética dos timoneiros desses campos afetivos são atribuídos a psicólogos, educadores, jornalistas, produtores culturais e artistas, juristas e sociólogos militantes: todos com credenciais secularistas devidamente reconhecidas. Os evangélicos (e católicos praticantes), embora reproduzindo diversos conceitos e padrões da propaganda oficial, e consumindo alguns de seus produtos, tendem a recusar esse paradigma moral, simplesmente por ser incompatível com a Imitatio Christi. É egoísta e sentimental demais.
Mas isso não seria um problema se os evangélicos não constituíssem modos de vida alternativos, com elementos terapêuticos modernos (adaptando discursos de sucesso, felicidade, afetividade e autorrespeito), mas ao mesmo tempo ressignificando-os a partir de valores e práticas cristãs tradicionais. Mas eles o fazem, e esse é o problema. E o fazem sistematicamente, dispensando o imprimatur secular. Maldita religião!
Trata-se, então, daquela pedra que realmente incomoda: a pedra que se encontra dentro do sapato. Para muitos, a fé evangélica fornece categorias para julgamentos sentimentais, éticos e políticos, interferindo no consumo de cultura popular, no mercado editorial, nas mídias, nas regras do comportamento sexual e na política. Para os timoneiros dos modernos “campos afetivos”, é claramente um competidor, uma alternativa que não respeita a divisão partidária tradicional. Uma espécie perigosa e perfeitamente adaptada à selva do capitalismo de hiperconsumo.
Outsiders
A isso acrescente-se o fato de que os evangélicos são uma espécie de novidade no Brasil. Embora estejamos há mais de 200 anos assombrando essas terras, é notória a surpresa e preocupação que nossa crescente influência provoca em meios jornalísticos, na produção cultural e na universidade. Evangélicos são “eles”, uma espécie de terceira-pessoa bastante remota, como hindus ou muçulmanos.
Nossa experiência é muito diferente da experiência norte-americana, por exemplo. Lá existe um protestantismo vibrante em ambos os lados da disputa bipartidária, e o movimento dos direitos civis tem entre suas raízes um protestantismo negro e, ainda, batista. O evangelicismo, problemático como seja hoje, pertence à sociedade e à história dos EUA.
Mas há um sentido em que o crente realmente não pertence ao Brasil. Ou melhor: a certo imaginário estabelecido sobre a brasilidade. As bases da civilização brasileira foram lançadas como uma combinação de catolicismo ibérico, positivismo e outros valores seculares europeus, e elementos de culturas africanas e indígenas. A baiana vendendo acarajé é uma instituição brasileira, celebrada em canto e pena. Mas e a mulher assembleiana, que dança no círculo de oração e trabalha como doméstica? Ela não existe, ainda, a não ser para sociólogos do protestantismo e para a sua patroa. Especialmente se for negra e eleitora de Bolsonaro.
Embora estejamos há mais de 200 anos assombrando essas terras, é notória a surpresa e preocupação que nossa crescente influência provoca em meios jornalísticos, na produção cultural e na universidade
O evangelicismo espalhou-se, assim, como um limo sobre a rocha da brasilidade até o ponto em que, por um milagre divino ou uma diabrura da história, virou árvore e começou a rachar a pedra.
Mas para certo establishment ainda é só o limo. Os homens que pensaram o Brasil cristalizaram seu imaginário da brasilidade sem incluir evangélicos em suas equações. A esquerda local, por exemplo, não ensaiou seus movimentos historicamente contando com os crentes. É uma dor de cabeça dos diabos.
A realidade é que, sob as críticas, às vezes corretas, de um impulso fundamentalista ou integrista na religião evangélica, e mal escondendo a vontade da estereotipação sistemática, oculta-se no mais das vezes o medo de um novo jogador que joga outro jogo.
É claro que não podemos minimizar, aqui, o fato de que o evangelicismo integrou-se a um amplo processo de revolta das classes trabalhadoras e médias contra uma elite cultural que controla a produção simbólica e, naturalmente, o dinheiro. Isso é realmente um problema, uma vez que a força espiritual da religião pode ser completamente absorvida por uma guerra terrena por poder. E um dos efeitos disso é esse pavor que, ao menos nas mídias sociais, parece onipresente, e que reforça a negação de cidadania.
Mas, gostem ou não seus desprezadores cultos, os evangélicos têm modos próprios de pensar, têm autoridades religiosas que são levadas a sério, e têm direitos. O direito de abrir escolas, de ensinar seus filhos, de dar palpites, de promover sua própria ética sexual, de influenciar o mercado musical; e o direito de votar. É a democracia.
Fundamentalistas, mas nem tanto
É claro que não poderíamos falar de evangélicos sem mencionar a pecha infame. Os desafetos da fé evangélica a empregam sem parcimônia. Fala-se até em “talibã evangélico” diante dos avanços de crentes na política, e há quem fantasie evangélicos lançando pessoas LGBTQIA+ em campos de concentração.
Não é preciso dizer que tais pavores psiquiátricos não têm nenhum fundamento. O termo “fundamentalismo” surgiu de um movimento conservador e, sob certos aspectos, reacionário, de recuperação das bases doutrinárias do cristianismo protestante nos EUA, em princípios do século 19, quando eles lançaram uma série de panfletos intitulada The Fundamentals.
Mas o movimento nada tinha de violento ou iliberal, nem planejava lançar o país de volta a uma ordem primitiva. Tratava-se de um fenômeno muitíssimo distinto do projeto wahabista, por exemplo, e nunca intencionou uma teocracia. Pelo contrário, seus defensores eram exemplos de devoção ao establishment político dos EUA (até demais). É verdade, no entanto, que o projeto se tornou cada vez mais reacionário e introvertido, até ser desafiado pela abertura evangelical, a partir dos anos 1950.
Gostem ou não seus desprezadores cultos, os evangélicos têm modos próprios de pensar, têm autoridades religiosas que são levadas a sério, e têm direitos
O emprego de um único termo para descrever fenômenos muito diferentes faz milagres na arte da manipulação cognitiva. E, assim, muitas pessoas de mente secularista têm sido enganadas com o pensamento de que todo aquele que desafia o seu modo de vida hedonista seria, consequentemente e necessariamente, um fundamentalista. Ou que todo religioso que leva a sério a sua religião seria per se um fundamentalista!
São bobagens bastante populares. Como observou o amigo Francisco Razzo, em certa ocasião, ser absolutamente fiel à própria fé não torna alguém um fundamentalista ou um radical perigoso. Considere, por exemplo, São Francisco: amigo dos animais, servo dos pobres, confrontou amorosamente o papa e os mulás. Seria ele um “fundamentalista”? É claro que não. Embora tenha sido, a seu modo... “perigoso”.
Não é a fidelidade de alguém a um valor o que o torna fundamentalista; do contrário, todos os movimentos de crença e moralidade em toda a história humana seriam fundamentalismos, o que seria um contrassenso patente. Ademais, como Manfred Svensson, filósofo e professor da Universidade dos Andes, argumentou num artigo recente (“Fundamentalismo: por que é importante descrevê-lo bem”), a fidelidade e o sadio enraizamento de uma tradição pode até ser um antídoto contra o fundamentalismo.
Para chegarmos a um fundamentalismo no sentido próprio, como vício espiritual e comunitário, outros elementos devem ser adicionados à fidelidade: o ressentimento, a mentalidade reativa, o reducionismo unidimensional e a recusa da pluralidade social. E, mesmo assim, haveria graus e graus de fundamentalismo.
Evangélicos têm certamente muito pouco de São Francisco; especialmente pastores da ala neopentecostal, com sua “teologia da prosperidade”. Mas isso ajuda a reforçar um ponto anterior: evangélicos podem realmente ser fundamentalistas, no tocante a algumas de suas crenças, mas são modernos demais para serem fundamentalistas teocráticos. Bem mais provavelmente, muitos deles concordam com os dogmas do individualismo e do sucesso pessoal esposados por seus críticos.
Se eles são “perigosos”, é apenas por serem uma alternativa viável ao secularismo militante.
O evangelicismo espalhou-se como um limo sobre a rocha da brasilidade até o ponto em que, por um milagre divino ou uma diabrura da história, virou árvore e começou a rachar a pedra
Por outro lado, eu temo que muitos secularistas, de tão apavorados com a influência da religião na vida pública, estejam a esconder algum tipo de fundamentalismo. Recorro a Peter Berger, em Os Múltiplos Altares da Modernidade:
O fundamentalismo é um esforço para restaurar a certeza ameaçada. O termo é geralmente aplicado a movimentos religiosos, mas é importante compreender que há muitos fundamentalismos seculares – políticos, filosóficos, estéticos e mesmo culinários (como no caso de alguns vegetarianos) ou atléticos (como na fidelidade a algum time esportivo). Praticamente qualquer ideia ou prática pode se tornar o fundamento de um projeto fundamentalista, em níveis muito diferentes de sofisticação – como, por exemplo, nas semelhanças e diferenças entre um teórico marxista e um fanático crente na redução do peso.
O fundamentalismo religioso é um fenômeno bastante moderno, de reação ao pluralismo secular, e de busca ansiosa por certeza. Nesse sentido, há tendências fortemente fundamentalistas em diversas igrejas evangélicas, manifestas numa relação ressentida e negativa em relação ao pluralismo e às demandas da vida contemporânea.
Mas, isso dito, há uma enorme variedade de fundamentalismos, com objetos diferentes e graus diferentes, e não há por que pensar que secularistas desesperados com o crescimento evangélico não sejam eles mesmos fundamentalistas de algum tipo; especialmente com o grau neurótico de preocupação e a necessidade permanente de desqualificação.
Alienados?
Essa acusação não seria injusta, desde que corretamente colocada. Não penso que a fé evangélica seja intrinsecamente alienante, de modo algum, e exemplos históricos disso não faltam. O historiador George Marsden, por exemplo, tem entre seus méritos o trabalho de mostrar o quanto a Revolução Americana é devedora do Segundo Grande Despertamento evangélico, nos EUA.
Mas, se empregarmos aqui a noção de alienação de Robert Nisbet, em The Quest for Community, como uma experiência de desenraizamento e falta de sentido decorrente da corrupção do tecido social, então está claro que o evangelicismo brasileiro é, em parte, um resultado e, em parte, um remédio para o fenômeno da alienação. Pois na medida em que a inexorável lógica do liberalismo moderno realiza seu trabalho revolucionário, por meio do mercado, do Estado e da educação, o indivíduo perde sua rede de suporte social e encontra-se desamparado. Em uma sociedade cada vez mais líquida, o indivíduo aspira por suporte social e ordem. E o evangelicismo fornece a mediação: nem totalmente moderno, nem pré-moderno. Trata-se de uma alternativa paramoderna.
Os liberais não gostam de se ver limitados e questionados pela alternativa evangélica
Isso nos ajuda a entender o mal-estar que o evangelicismo provoca nas esquerdas. O imenso potencial revolucionário da criação de alienação, produzido pelo liberalismo, é canalizado de volta e indisponibilizado pelo evangelicismo. Por outro lado, os liberais não gostam de se ver limitados e questionados pela alternativa evangélica. Mas assim, desagradando uns e outros, o cristianismo segue salgando a terra.
De modo que o evangélico herda e também cultiva um sentimento de alienação em relação ao direcionamento da cultura secular; e o fato de boa parte dos adeptos dessa religião provir de classes invisibilizadas pela elite cultural reforça ainda mais esse processo. Tal alienação pode significar, mas não significa, necessariamente, algo ruim. O desajuste é necessário se o que se busca é uma alternativa ou ao menos deixar claro que o mainstream não é um axioma, um destino cósmico.
Infelizmente, como já mencionamos acima, essa alienação torna o evangelicismo uma presa potencial. Um projeto populista pode absorver sua força para introduzir uma ruptura. É o risco da mudança: uma vez introduzida a instabilidade, ela poderá resultar em um salto, ou em uma queda.
Nossa segurança está em Deus, e ele não é nem Evangélico, nem Brasileiro
Penso que a diferença dependerá em parte da lógica interna da religião evangélica. Ela está de certo modo sob teste. Pessoalmente, vejo no evangelicismo uma carência espiritual fundamental, no campo da imaginação teológica e moral: uma síntese inacabada entre “Natureza” e “Graça”, entre o ordinário mundano e o extraordinário divino. Talvez esse descolamento possa ser reparado; se não for, ao menos parcialmente, o evangelicismo poderá se reduzir na prática a uma força alienadora.
Diante dessa possibilidade, eu também tenho certo medo de crente; mas não mais do que tenho medo de brasileiro. Mantenho minha oração para que o evangelicismo recupere a sua catolicidade e cumpra a sua missão histórica, e que o Brasil chegue aonde deve chegar. Afinal, nossa segurança está em Deus, e ele não é nem Evangélico, nem Brasileiro.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos