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Guilherme Fiuza

Guilherme Fiuza

2020 é parado na blitz

Ano novo, vida velha. Com o futuro do Brasil reaberto pelo saneamento das contas públicas, os heróis da resistência preferiram ficar no passado. Num ato de rebeldia contra a monótona marcha da História para frente, eles entraram em 2020 de marcha à ré. Subversão total.

Desprezando corajosamente as projeções de retomada sólida do crescimento – indicador que ameaça melhorar a vida de todo mundo e, pior que isso, foi obtido pelo governo malvado das trevas de belzebu – a resistência cenográfica resolveu negar tudo (possivelmente orientada pelo advogado do Lula): de volta ao apocalipse.

Este é hoje, de fato, o único lugar seguro para essa brava gente catastrófica que não desiste nunca. No apocalipse – assim como era a barriga da baleia para Jonas – a vida é bem mais fácil. Ali não é preciso fazer nada. Basta acordar, chorar, gritar, espernear e voltar tranquilamente para o cândido sono dos tolos. O lugar é seguro porque, como dito acima, tem gente trabalhando duro por você, arrumando a casa e reforçando o telhado contra as intempéries – de forma que os seus maus presságios possam ser redigidos com toda calma e segurança do mundo. É ou não é um vidão?

Os efeitos especiais são similares, ou até superiores, aos da lendária cascata de fogos de Copacabana – e de cascata esse povo entende. Por isso é que se viu, ao raiar de 2020, quando mal se dissipara a nuvem de paz e esperança do réveillon, as cassandras já cacarejando contra tudo, espalhando frustração, falsidade e recalque de forma olímpica e exuberante lá do ventre do apocalipse, onde tudo é cheiroso e confortável.

O fundão eleitoral criado pelo trio-ternura PT-OAB-STF e engordado pelo Rodrigo Maia é culpa do Bolsonaro. Toffoli é o vilão do acordão, mas é lindo de morrer quando derruba o corte do DPVAT com uma canetada ditatorial. A carne e o dólar subiram por causa do Bolsonaro. A carne e o dólar caíram apesar do Bolsonaro – que não faz nada para salvar as florestas australianas e acabou com a Lava Jato, junto com o Sergio Moro, que assim virou aliado do Lula, num acordão para salvar a narrativa dos espíritos de porco.

A nova tendência do verão 2020 é emagrecer a eleição de 2018. Segundo especialistas, os 57 milhões de votos da maioria que elegeu o presidente da República viraram minoria de uns 30%. Não entendeu? É simples: a realidade hoje é muito dinâmica, e as grandes decisões da democracia vão sendo corrigidas conforme o humor dos institutos de pesquisa – o que faz todo o sentido porque, já que foram contrariados acintosamente pelas urnas, eles têm todo o direito de se vingar.

Essa dieta democrática é um sucesso e tem sido repetida por dez entre dez trombeteiros do apocalipse para lipoaspirar os votos de Bolsonaro, que estavam nitidamente acima do peso. Não ouse portanto repetir, nunca mais, o resultado eleitoral que constituiu este governo. O número que vale é o do DataLula de ontem.

Como se vê, 2020 começou em alta fertilidade no ventre do apocalipse. Enquanto o Carnaval não chega, o negócio é ir matando o tempo com manchetes exclusivas sobre a escalada fascista na mente da intelectualidade ociosa. Seguem sugestões:

Tarcísio asfaltou o jardim do meu amor

Paulo Guedes privatizou minha boquinha e meu caô

Bolsonaro censurou as pedaladas da Dilma

PCC acusa Moro de ferir a liberdade de expressão

PT concorda e bota fé

OAB diz que tamo junto

Greta diz que Bolsonaro ameaça seus bichinhos de pelúcia

Jane Fonda denuncia falta de ditadura no Brasil e pergunta a Lula como faz para ser presa

PIB acima de 2% é crime de responsabilidade, diz leitor da Folha

Divirta-se. O ano está só começando, mas já é possível afirmar que, para os heróis da resistência esferográfica, o fim do mundo nunca acaba.

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