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O Facebook baniu dezenas de contas em sua ofensiva contra a onda de ódio. Como todos já sabem, o que essas páginas tinham em comum era o fato de serem simpatizantes de Bolsonaro, ou de defenderem as pautas do presidente. E também é certo que a maioria não recebeu aviso ou justificativa alguma sobre que tipo de postagem motivou o cancelamento.
A plataforma é privada e administra seu negócio como achar melhor. Nesse caso, ela aparentemente achou melhor apresentar um critério falso. Talvez fosse melhor – e mais honesto – assumir que o critério era de foro íntimo e ninguém tinha nada com isso. Botar a culpa no ódio não vai colar.
Se o critério fosse esse, o Facebook teria de banir uma infinidade de páginas que já apresentaram postagens acusando o presidente de nazista e desejando sua morte. Teria de encerrar todas as contas que instigaram quebradeira de antifas, black blocs e congêneres, assim como todas as expressões de apoio a ações violentas com pretexto de defender sem-terra, sem-teto e outras supostas causas humanitárias. Teria de cancelar tudo quanto é perfil que faz proselitismo progressista apoiando ditadura venezuelana, perseguição a cidadãos na pandemia, etc.
Basta um rápido passeio pelo Facebook para constatar, a partir dos exemplos acima, que o problema da plataforma não é com o ódio. Qual é o problema, então?
Nenhum. Não é problema. É cálculo. E o cálculo é o seguinte: investir nessa bolha burguesa que quer comprar verniz de consciência política a 1,99. O progressista de butique é um público colossal. O mercado das embalagens humanitárias é hoje multibilionário. Isso não tem nada a ver com ideologia, não há filosofia ou doutrina alguma por trás dessa afetação de consciência. O negócio é poder e grana, fim de papo.
O problema será quando uma parte considerável do público começar a notar que combate ao ódio baseado em censura é como gato escondido com o rabo de fora. No Brasil, essa ação do Facebook está de mãos dadas com uma CPI desmoralizada e um inquérito vergonhoso do STF, ambos calçados no mesmo pretexto de combater fake news. Criaram a tal tese do gabinete do ódio para empreender uma caçada mal disfarçada à liberdade de expressão e à democratização da opinião – carimbando como mentira e violência tudo que não passar nesse filtro totalitário do politicamente correto.
Ninguém sabe se governos como de Trump e Bolsonaro terminarão bem ou mal. Mas quem não se divorciou da realidade para vender lendas sabe que, até aqui, nem Estados Unidos, nem Brasil estão sendo conduzidos por políticas públicas contrárias à liberdade. Qualquer indicador de funcionamento institucional e direito à livre expressão constata o respeito à democracia em ambas as nações. O que virá pela frente, não se sabe. O que se sabe é que reforma da Previdência não é ataque direitista e salva o país do colapso. Também se sabe que a lenda “progressista” encarnada pelo PT encobriu o maior assalto já sofrido pelo povo brasileiro.
Repetindo aos que ainda não entenderam: não existe ideologia alguma em disputa. O assunto é poder e grana. O tempo dirá se a estratégia do Facebook ampliará ou encolherá a empresa nesses dois aspectos. Quanto mais cinismo, melhor. Só não venham falar em bandeiras políticas. Ninguém aí tem um fio de cabelo branco por causa disso.