O ex-prefeito Fernando Haddad, hoje mais conhecido como candidato a Lula, deu uma declaração moralizante em sua própria defesa. Disse que na ação de improbidade administrativa que corre contra ele, o Ministério Público “tem nas mãos a palavra de um bandido” (o plural é nosso).
O bandido em questão, ou apresentado como tal pelo dicionário Haddad, é um daqueles empreiteiros que privatizaram o Lula e o PT – no baile de gala exibido pela Lava Jato em que todos enriqueceram, menos você.
Não chega a ser um sinal de gratidão tratar como bandido um ex-amigo de fé que encheu a sua gangue de dinheiro e propiciou a maior colheita de votos da história, botando uma longa sequência de eleições no papo. Deve ser a isso que andam chamando de onda de ódio e destruição de amizades por causa de política.
A declaração de Fernando Haddad não teve a menor repercussão – pelo simples fato de que o Brasil está dodói e virou uma grande sucursal do Facebook. A pouco mais de um mês da eleição presidencial mais complicada do século, o senso comum é formado por um campeonato de tiradas. A supremacia moral emana do placar de likes.
Se o país não tivesse virado essa cracolândia digital (obrigado, Ana Paula), ele estaria, como diria a companheira ex-presidenta (que não só está solta, como é candidata), es-tar-re-ci-do.
Vamos escrever o que tem de ser escrito, vai que o Brasil sai do transe: Fernando Haddad, este que deu o brado ético contra o bandido, é hoje o representante do maior bandido nacional (ou melhor: multinacional, como sabemos pelas triangulações regidas por ele entre Odebrecht, BNDES e ditaduras associadas). Esse criminoso está na cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro, condenado a ficar trancado lá por 12 anos, enquanto os outros seis processos em que é réu não estendem a temporada.
A carreira política de Fernando Haddad & companheiros solidários foi fermentada anos a fio pelo dinheiro roubado do maior assalto já visto num regime democrático. O Brasil está recém-saído da maior recessão de sua história, tentando se soerguer a duras penas, graças a esse estupro das contas públicas liderado pelo bandido que Haddad representa – não num baile funk, mas na eleição para a Presidência da República.
O Brasil é uma mãe – atualmente viciada em crack – e permite não só que um personagem desses pose de bom moço (contando ninguém acredita), como aceita que a orgia montada nas principais instituições nacionais ao longo de década e meia simplesmente suma do debate eleitoral.
Não é que o escândalo revelado pela Lava Jato devesse ser o tema central da campanha presidencial: ele é o único. Repetindo: o único tema.
Pelo seguinte: política, esse assunto abominável que só agrada aos que vivem dele, tem uma única finalidade – organizar a bagunça. A vida em sociedade é muito complicada e precisa funcionar – e a política serve para isso, só para isso. Quem falou mais alto que política é paixão, e charme, e carisma, e fé, etc, está vendo o sol quadrado e hoje é um sem-urna.
A catalepsia brasileira permitiu que esse personagem viesse para o centro do debate eleitoral como injustiçado ou não injustiçado, candidato ou não candidato – quando deveria ser apenas o modelo vivo e monstruoso da política que não organiza, destrói.
A eleição 2018 é isso: o país aprendeu (ou deveria ter aprendido, pois lhe foi esfregado na cara, noves fora o esfolamento) o que é o populismo parasitário com verniz progressista. Ok. O impeachment sustou o crime (quase) perfeito do PT e resgatou as instituições centrais (e principais indicadores) – não por obra do MDB, mas de técnicos notáveis que o Brasil, por incrível que pareça, ainda tem.
Deu para entender? É mais ou menos isso: uma coisa ou outra. Como foi no Plano Real contra tudo e contra todos os parasitas de esquerda, de direita, de centro, de cima e de baixo. Ou você organiza, ou você suga.
O problema é que agora, pela baixa popularidade do governo Temer, quase todos os candidatos resolveram fingir que não viram a recuperação da Petrobras, o esforço fiscal para corrigir o festival de pedaladas, a salvação da política monetária do delírio populista com resultados inegáveis na redução dos juros e da inflação.
Não. Todo mundo é novinho em folha, ninguém viu nada do que já estava aí e portanto é velho. Nada presta – só os salvadores de cartilha que nunca viram o Brasil mais gordo. É assim que se apaga as pegadas do escândalo do PT e da luta pós-impeachment para tirar o país da recessão.
Até aqui, é a eleição da conspiração. Num país sem passado, até Haddad pode gritar pega ladrão.
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