Manifestante pede o impeachment do ministro Gilmar Mendes em ato público no último domingo (17).| Foto: Andrea Torrente/Gazeta do Povo

– E aí, foi pra rua contra o Gilmar?

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– Claro que não.

– Por quê?

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– Não sou gado.

– Quem disse que aquilo era gado?

– Você foi?

– Não.

– Então você também não quer ser gado.

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– Nada a ver. Não acho que era manifestação de gado.

– Era manifestação de que, então?

– De robô.

– Deixa de ser ignorante. Robô fica na internet. Gado é que se espreme nas muvucas por aí.

– Errado. Gado não tem inteligência pra perceber manobra de gênio como a do Gilmar pra soltar o Lula no grito. Só robô capta isso.

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– Já viu robô suado? Já viu robô mancando? Tô falando que é gado.

– Engano seu. A robótica evoluiu muito, eles simulam tudo. Eu vi robô grisalho, robô em carrinho de bebê... Só não vi robô sangrando porque é tipo procissão, não tem porrada, não tem pneu... Totalmente robotizado mesmo.

– Aí eu tenho que concordar. Não tem alma.

– Tédio absoluto. Nem entro mais em rede social. Ali é o berço da robotização.

– Conseguiram criar o gado robotizado.

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– Não tinha pensado nisso. Tá aí, pode ser.

– Só uma dúvida: como você viu tanto detalhe assim se não apareceu quase nada na televisão e você não vê mais rede social? Tu foi ou não foi na manifestação?

– Claro que não fui! Tá me estranhando? Acha que eu vou entrar em rebanho?

– Rebanho? Não era robô?

– Ué, se é gado robotizado eu posso dizer que era rebanho de robô...

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– Tem razão. São muitos conceitos, a gente até se perde.

– Conceito é tudo.

– É o que nos diferencia da boiada. Nós dominamos a conceituação dos estados do ser que denotam a escalada protofascista nas mentes obscurecidas pela tentação totalitária.

– Exato. Foi assim que o Alexandre Frota conquistou o Dória.

– Assim como?

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– Postulando a conceituação implacável como arma letal dos civilizados contra os brutos.

– Foi assim?

– Foi. Lembra do Rodrigo Maia aos prantos com as palavras do Frota, sob o olhar comovido do Dória?

– Claro que lembro. Foi o flagrante mais eloquente da democracia brasileira depois da foto do Itamar com a Lilian Ramos sem calcinha no Sambódromo.

– Pois é. Ninguém acertou a legenda daquela foto. Falaram em heróis da dissidência fascista, primavera do Centrão, desbunde tucano... Mas o certo seria: “lágrimas da conceituação”.

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– Me emocionei agora.

– Aí você entende o choro do Maia.

– Total. Mas voltando à minha pergunta: como você soube dos detalhes da manifestação que não houve?

– Não é que não tenha havido. É que era tudo gado, robô e milícia, e isso não é gente, entendeu? Quantas vezes vou ter que te explicar?

– Entendi. Mas como é que você soube dos...

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– Porra! Que insistência! Sei lá como eu soube! Já falei que não vejo mais rede social. Deve ter sido WhatsApp. Tenho uma tia miliciana que vive me mandando fake news.

– Ah, então foi por isso que não se viu quase nada no noticiário... Era fake news!

– Exatamente! Eu dando aqui mil voltas pra explicar e você resume em duas palavras... Obrigado!

– Imagina, parceria intelectual é assim. Achamos o conceito juntos.

– Representamos a razão contra o ódio. E desculpe a minha exasperação, é que não aguento mais tanta intolerância e mentira.

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– Compreendo totalmente. É angustiante viver no meio de autômatos. Além de viver ameaçado por uma tia miliciana, você ainda deve estar tendo que aguentá-la comemorando a aprovação da prisão em segunda instância na CCJ da Câmara.

– Exatamente. A milícia robotizada forjou uma manifestação nacional e assim forçou os representantes do povo a agir contra a democracia.

– Escandaloso. Todo mundo sabe que democracia é o que o Gilmar disser que é.

– No fundo o que eles querem é encarcerar os guerreiros do povo brasileiro que ficaram ricos roubando honestamente.

– A boiada robotizada detesta quem dá certo.

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– Chega de ódio!

– Chega de mentira!

– Viva eu!

– Viva eu também!