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Já começou a resistência contra o fascismo. Só falta o fascismo chegar, mas isso é problema dele. Até porque o fascismo, autoritário como é, pode resolver nem chegar, só para contrariar seus oponentes imaginários. Definitivamente, não dá para confiar em fascista.

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Um dos principais fronts escolhidos pelos heróis da resistência é a universidade. E para a alegria dos bravos combatentes, a polícia andou entrando em instituições de ensino, por solicitação da Justiça, para mandar remover propaganda eleitoral e – alegria suprema – faixas contra o fascismo.

Foi bonito de se ver os brados por liberdade de expressão nas universidades. Deu até vontade de contar aos gladiadores da democracia o que aconteceu nas salas de aula do Brasil inteiro nas últimas décadas.

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Vocês não iam acreditar, intrépidos guardiões do mundo livre: professores em tudo quanto é canto fazendo comício petista disfarçado de lição pedagógica – e não pensem que foi só naquelas missas patéticas fantasiadas de aula de História, não: até no ensino de Química andou cabendo sermão de sindicalista do PSOL. É chocante, nós sabemos. Desculpem, mas vocês precisavam saber também.

Imaginem se essas vibrantes brigadas libertárias tivessem tomado conhecimento dessa longa, abrangente e implacável transfusão de lixo ideológico para mentes em formação? (não dá para chamar de lavagem cerebral, porque não se lava nada com lixo) Várias gerações já teriam sido salvas da picaretagem intelectual – essa que se espalhou sem dó nem piedade por diversos círculos de transmissão de conhecimento. Que pena que os libertadores não repararam em nada disso.

Agora vejam o tamanho do problema: numa sociedade com tanta gente catequizada para se filiar às mentiras certas, o país se vê num certo embaraço sempre que quer dar um passo em frente.

Por exemplo: o Plano Real era um estelionato, uma jogada política da elite branca, um golpe neoliberal. Acabou sendo a maior ação de combate à pobreza da história contemporânea do país, mas só não foi dinamitado no nascedouro porque travou uma guerra sangrenta contra a narrativa dos coitados profissionais – e porque botou dinheiro no bolso do povo.

A privatização da telefonia também era um atentado elitista contra o patrimônio nacional – e o povo só chegou a receber os imensos benefícios dela depois de uma batalha campal (literal) contra vocês, queridos heróis da resistência contra o fascismo capitalista.

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Como se vê, é um truque fajuto que por algum mistério insondável continua dando voto, grana e status progressista (!). Ou talvez não seja tão misterioso assim, se voltarmos ao que tem se passado nas salas de aula do país nas últimas décadas. Aliás, até hoje aparecem questões de provas no ensino médio onde a resposta certa é associar o período do Plano Real à crise econômica e social.

(Nota do autor: naturalmente isso não é chute, é fato, pois apesar de reconhecermos a formidável eficácia da máquina de hipocrisia, não temos a senha. Aos interessados, ver “Não é a mamãe” e “Manual do Covarde” – editora Record).

Se você sai da escola com essa habilidade para torturar a verdade, e ninguém te diz com todas as letras que isso é hediondo, você vai fazer isso vida afora e ainda vai se orgulhar. Plano Real é golpe das elites, Lula é perseguido político, controle fiscal para tirar o país da recessão é maldade do mordomo denunciado pelo bravo Joesley, resultado eleitoral é conspiração do WhatsApp.

Você é uma fake news ambulante, mas ainda vão te defender em nome da liberdade de expressão.

Parêntese semântico (com a sua licença, professor eloquente): defender jornalismo de cabresto é defender a liberdade ou atacá-la?

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Os heróis da resistência não responderão, pois estão ocupados no banheiro descobrindo mais uma suástica dessas que o fantasma de Hitler anda pichando por aí. A esperança desses democratas intrépidos era um ladrão condenado, passou por um boquirroto destemperado (que agora está atacando o tal ladrão), derivou para um suplente de presidiário – com o qual morreu na praia – e agora quer ressuscitar contra o fascismo imaginário.

Eles já mostraram que resistem a tudo. Menos ao ridículo.