O ministro da Educação fez uma citação equivocada de Cazuza que ensejou uma reação curiosa. Querendo defender o princípio da autoridade, Ricardo Vélez disse que liberdade não é “passar a mão no guarda” – o que na verdade era uma piada do Casseta & Planeta. O ministro se desculpou com a mãe de Cazuza pelo engano, mas o plantão da resistência já estava com todas as suas baterias em ação.
Para você ter uma ideia do nível da coisa, no pelotão de frente da indignação estava ninguém menos que Fernando Haddad – que talvez você não se recorde, mas desempenhou com destaque na última eleição o papel de suplente de presidiário.
E o que esse personagem estava fazendo numa pendenga sobre uma citação incorreta de um compositor?
Acertou, seu danado: Haddad estava exercendo sua principal especialidade – puxar o saco de artista para fazer demagogia contra o fascismo imaginário. Entendeu a simplicidade do cálculo? Finja que o Brasil está de volta aos anos de chumbo, pegue uma fala de um ministro dessa ditadura terrível que você inventou e saia heroicamente em defesa do artista popular citado pelo monstro. Só tem um problema.
Fernando Haddad e o restante da resistência de auditório que posou de defensora de Cazuza não combinam muito com os versos do compositor. Especialmente pelo apito que tocaram na última década e meia na política nacional, apoiando flagrantemente o maior assalto da história do país – país este ao qual Cazuza perguntou, num de seus maiores hits, “qual o nome do seu sócio”.
Essa você pode responder com autoridade, prezado poste sem luz: Odebrecht, OAS, JBS e toda a quadrilha que vocês montaram para, como diria o poeta, transformar o país inteiro num puteiro.
Os catadores de lixo ideológico andam cortando um dobrado para tentar alimentar a lenda que os sustenta. Roger Waters acaba de chegar ao ponto de defender o ditador sanguinário que destruiu a Venezuela para retocar sua maquiagem “progressista” – num idioma onde “progresso” significa andar para trás. Ninguém segura os progressistas reacionários.
Mas a realidade anda tripudiando dessas almas penadas. Nesse exato momento vem à tona a fortuna enfiada pela Odebrecht, a mando do PT, no chavismo assassino. Cazuza queria ver “quem paga pra gente ficar assim” – e a resposta está aí, em toda a sua obscenidade: os financiadores da ruína, os cafetões do puteiro, são justamente aqueles que diziam e ainda dizem ter sensibilidade social. Os monopolistas da virtude prostituíram a bondade.
E eis que Lula é condenado pela segunda vez por corrupção, no processo do sítio de Atibaia. Aí se dá a alquimia revolucionária.
Você não viu, nem verá, nenhuma dessas subcelebridades fantasiadas de democratas aplaudindo a condenação do maior ladrão do país a ¼ de século de prisão – sentenciado por uma mulher a quem ele tentou intimidar. Alguém avise à resistência cenográfica que a maquiagem progressista dela está toda borrada.
Nenhum pio dessa patrulha que passa a vida panfletando o empoderamento – justamente quando uma jovem juíza enfrenta um dos maiores criminosos da história. “Se continuar nesse tom a gente vai ter problema” – a frase de Gabriela Hardt a Lula quando ele tentava constrangê-la – teria virado um troféu da causa feminina se houvesse um pingo de honestidade nesse papo de empoderamento.
Aí a venda da refinaria de Pasadena revela que a negociata chancelada por Dilma Rousseff significou um rombo de 2,3 bilhões de reais. Como você não haverá de ter esquecido, Dilma é a empoderada número um dessa revolução de festim, a presidenta mulher ungida e tutelada pelo ogro. Nenhum pio também dos progressistas reacionários sobre o desfalque da musa. Saiu tão barato que ela ainda está pedindo indenização pela bolsa ditadura.
Faz sentido. Se você bate a carteira e ninguém te prende, você volta lá para pegar a bolsa.
Se ainda não deu para entender o truque demagógico, fique com esta: sabe quem era o candidato desses heróis da resistência democrática à presidência do Senado? Ninguém menos que ele – Renan Calheiros.
Bravos progressistas de butique: como diria Cazuza, a sua piscina está cheia de ratos.