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Guilherme Fiuza

Guilherme Fiuza

Redes sociais

“Desinformação”, a nova senha da censura

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Redes sociais censuraram postagens da conta oficial de campanha de Donald Trump. As postagens tratavam da baixa incidência de contágio do coronavírus entre crianças. De fato, as estatísticas situam a ocorrência da doença na infância, em termos percentuais, próximo do zero. Nenhum representante da medicina nega esse fato.

Mas quem afirmou isso foi a campanha de Trump, a poucos meses da eleição presidencial nos Estados Unidos. Traduzindo: o pecado detectado e punido por Facebook e Twitter não foi científico, foi político. Essa instituição dos “checadores da verdade” é o fenômeno mais reacionário do século 21. A censura em pele de corregedoria democrática é o crime perfeito.

A campanha de Trump se referiu ao fato de que crianças muito raramente pegam covid-19 (ao ponto de praticamente sumirem das estatísticas) como uma “quase imunidade”. Foi isso que não passou na censura. Os arautos da quarentena burra, das especulações sobre segunda onda, das mistificações sobre o pico e da ideologização da cloroquina são assim mesmo. De vez em quando eles têm uns surtos de rigor científico. E resolveram decretar que “quase imunidade” era uma expressão inapropriada que levaria à “desinformação”.

Essa é a outra palavrinha mágica: desinformação. Qualquer ponto de vista que desagrade aos senhores da verdade é suficiente, hoje em dia, para acusar qualquer um de desinformar. Aquela antiga cadeia de comunicação livre – expressão, avaliação, discernimento, contraposição, conclusão – foi abolida. Os iluminados cortam o Mal pela raiz. Quantas postagens de médicos sobre a terapia da cloroquina – que divide a comunidade científica – já foram vetados ou classificados como desinformação? Inúmeros. A ciência se faz com troca de conhecimento. Mas os senhores da verdade já conhecem tudo previamente – e decidem o que pode ser dito. É a ciência da negação.

O fenômeno é especialmente intrigante porque Facebook, Instagram, Twitter e YouTube significam uma autêntica revolução democrática. São instrumentos inteligentes e agregadores que amplificaram a opinião pública para além do que era consolidado pela grande imprensa. A tentação dessas plataformas geniais de parecer “progressistas” – por puro cálculo mercadológico, nada a ver com ideologia – é um erro e um paradoxo. Elas estão traindo a si mesmas, atentando contra seu próprio DNA libertador.

Todas as notícias sobre a retirada das postagens de Trump vêm embaladas com as palavrinhas mágicas de sempre: a campanha “conservadora”, “de direita”, etc. Trabalhar pela paz mundial é ser “de direita”? Foi isso que o governo Trump fez na redução das tensões com a Coreia do Norte. Mas aí o avanço diplomático é negado e vira “amizade com o ditador”. Os hipócritas têm sempre um jeito de retocar suas verdades de laboratório.

Caros Twitter, YouTube, Instagram e Facebook, vocês não estão lidando bem com fenômenos como Trump e Bolsonaro. Eles são de fato bastante caricaturáveis – e, aliás, vocês deixaram circular muitas suásticas ultimamente em seus ambientes, não é mesmo? Mas caricaturas à parte, o que a imensa maioria de usuários das redes identificados com pautas de Trump ou Bolsonaro quer é viver fora da bolha politicamente correta – que é antidemocrática e patrulha todo mundo para vender virtude a 1,99.

Acreditem: vocês têm nas mãos um mercado muito mais potente e saudável do que esse curral cheiroso que andam cultivando.

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