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Guilherme Fiuza

Guilherme Fiuza

Empatite

(Foto: BigStock)

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A contagem de casos de Covid na Copa América segue firme. Na Copa Libertadores ninguém viu essa contagem. Você viu? “Número de casos de Covid entre as delegações que disputam a Libertadores chegam a...” Não, não tivemos um contador tão diligente e meticuloso. Estranho. Na Copa América, o Brasil recebe nove equipes. Nove delegações do continente. Na Copa Libertadores – só na fase de grupos – o Brasil recebeu 21 equipes. 21 delegações desse mesmo continente. É um mistério profundo a diferença entre os alertas de empatia para a Copa América e a Libertadores.

A duração da disputa é praticamente a mesma (fase de grupos da Libertadores foi ainda mais longa que a totalidade da Copa América). A extensão territorial ocupada por ambas as competições no Brasil também é quase idêntica. A Copa América começou duas semanas depois do fim da fase de grupos da Libertadores – ou seja, não se pode dizer que esteja sendo disputada num período de maior gravidade da pandemia no país. O período é praticamente o mesmo.

Na Copa América, nove delegações chegaram ao país e se instalaram nas suas concentrações, só saindo para jogar. Na Libertadores, 21 delegações chegavam e saíam do país alternadamente, passando por aeroportos e hotéis variados, cada vez um grupo diferente – tornando o monitoramento mais complexo.

Os indignados com a Copa América – que chegou a ser apelidada previamente de “Cova América” pelos mais criativos – não demonstraram uma fração dessa preocupação com a Libertadores. Estranho.

Será que “as cepas” que poderiam ser importadas pela Copa América, segundo os especialistas importados por veículos de comunicação, não acometem seres humanos envolvidos em outra competição – no mesmo continente e no mesmo momento? Podemos estar diante de uma revolução na epidemiologia.

Claro que, se o assunto é segurança sanitária, todos os participantes de uma competição esportiva são mais monitoráveis que as multidões aglomeradas nos ônibus e metrôs do país. Mas voltemos à lógica dos denunciantes. O técnico Tite puxou o coro da empatia ocasional com a “atabalhoada” Copa América no Brasil. Fala, Tite:

“Colocamos essa situação que não gostaríamos, pelo respeito, por tudo que estava envolvendo, por um lado sentimental. Ficamos à mercê”.

Esse sentimento todo não apareceu em Tite – nem como esportista, nem como cidadão – com alguma forma igualmente enfática de repúdio à realização dos jogos da Libertadores no Brasil. Repetindo: podemos estar diante de um fenômeno epidemiológico raro que não se manifesta por regiões, nem por populações, mas por competições.

Ainda Tite:

“Quando um campeonato é feito de forma atabalhoada, rápida, excessivamente como a Conmebol fez, ela está sujeita a isso”. Uma acusação grave à referida instituição, como você pôde notar, pela conotação de descuido com a vida humana, dado o contexto pandêmico. E o arremate fatal: “Colocamos que somos contrários à realização da Copa América e não vai ter desculpa agora. Não tem bengala, muleta. Vai jogar”.

É impressionante. Difícil distinguir qual é a maior bravura – condenar a realização de uma competição porque ela coloca vidas em risco ou declarar que vai disputar essa mesma competição para ganhar. E ainda dizer que vai disputar porque tem “orgulho do país e de representar a seleção”. E as vidas supostamente ameaçadas por essa competição? Como resolver essa equação de terceiro grau entre orgulho, empatia e demagogia?

A Conmebol resolveu a parte dela multando Tite em 5 mil dólares. Resolve aí a sua parte, para não ficar preso nesse sanduíche de bravura e covardia.

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