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Guilherme Fiuza

Guilherme Fiuza

Fake news – modo de usar

O que acontece quando um membro do gabinete do ódio vai pedir emprego no gabinete do amor. (Foto: Pixabay)

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– Você é do gabinete do ódio?

– Sou. E você?

– Gabinete do amor.

– Ah, que sorte.

– Pois é. Por que você não vem pra cá?

– Ué, me convida que eu vou.

– Você tem experiência?

– De amor?

– É.

– Não. Só de ódio.

– Ah, então não dá. Que pena.

– É. Imaginei.

– Mas tenta uma formação, tem uns cursos bons por aí.

– Se eu conseguir um certificado, será que consigo entrar no gabinete do amor como estagiário?

– Depende. Você vai ter que passar por um processo seletivo.

– É muito difícil?

– Vão te fazer umas perguntas sobre fake news. Se você der as respostas certas, tá dentro.

– Show. Vou começar a estudar.

– E joga fora tudo que você aprendeu no gabinete do ódio. Nada vai servir pra cá.

– Isso é que me deixa tenso. Será que eu vou conseguir uma mudança tão radical?

– Tudo é bom senso. Se você tiver bom senso, a transformação vem naturalmente.

– Quero muito isso. Será que você pode ir me dando umas dicas?

– Que dicas?

– Do que eu respondo no processo seletivo.

– Sobre fake news?

– É. Só uma ideia geral.

– Bom: em primeiro lugar, você precisa ser capaz de checar fatos.

– Aí é que o bicho pega. Não entendo nada disso.

– Não é difícil. Um bom começo é você ir separando as fontes confiáveis.

– Pode dar um exemplo?

– Ah, tem vários. O STF, por exemplo.

– Como assim?

– Não é uma bíblia, mas é um bom guia. Se o Alexandre de Moraes, por exemplo, disser que o Dias Toffoli não é o amigo do amigo do meu pai, é porque não é.

– Seu pai?

– Não, querido. O pai do Marcelo Odebrecht.

– Ah, tá. No caso, então, fake news seria dizer que o Toffoli era conhecido na Odebrecht como amigo do Lula.

– Exatamente.

– Se eu responder isso, consigo vaga no gabinete do amor?

– Não só isso. O processo seletivo é rigoroso.

– Pode dar outro exemplo de fonte confiável?

– Não posso falar muito. Mas vou te deixar alguns nomes-chave.

– Obrigado.

– Pensa sempre em Rodrigo Maia, Randolfe, Molon, Wyllys, Ciro Gomes...

– Como referência de fake news?

– Não. De verdade.

– Ah, tá. É que no gabinete do ódio é tudo ao contrário.

– Claro. O ódio é o contrário do amor.

– Isso. Eu devia ter deduzido.

– Não se preocupe. Você vai recuperar capacidade de dedução quando parar de odiar.

– Sério?

– Científico. Segundo a OMS e o Instituto Butantã, cerca de 90% dos...

– Espera. Já estou com informação demais. Vou começar a me confundir.

– Tudo bem, eu entendo. Aqui no gabinete do amor você vai conseguir armazenar muito mais.

– Na nuvem?

– Nas nuvens.

– Que lindo. Então você acha mesmo que tenho chance?

– Não sei. Precisaria fazer um teste pra verificar o seu potencial.

– Tudo bem, pode fazer.

– Ok. Me responde o seguinte: o que há em comum entre o impeachment da Dilma e a eleição do Bolsonaro?

– Foi golpe.

– Perfeito! Como você captou com tanta exatidão?

– Segui a lógica. É tudo ao contrário do que eu achava, né?

– Exato. Você tem chance. Só faltou uma coisa.

– O quê?

– A pronúncia. O certo é gópi.

– Ok. Também faltou te dizer uma coisa.

– O quê?

– Enfia esse gópi no...

– Êpa! Calma aí! Tá pensando que isso aqui é gabinete do ódio?

– Não. Isso foi uma declaração de amor.

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