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Sharon Stone disse que os EUA são “arrogantes e ignorantes” por elegerem Donald Trump. Já ela é um poço de humildade e sabedoria ao decretar, sozinha, como um país deve votar.
Na verdade, a ex-musa de Hollywood não está sozinha. Foi só uma das vozes mais desinibidas entre seus colegas para repudiar o jogo democrático - em pele de defensora da democracia, claro. E onde está mesmo a escalada fascista que ela aponta?
Está em vários lugares. Na boca do Robert De Niro, por exemplo. Em cômico comício nas ruas de Nova York, o glorioso “taxi driver” disse que Trump iria destruir a América e o mundo se retornasse à Casa Branca, de onde nunca mais sairia até consumar seu plano apocalíptico. Alguém viu De Niro ser punido por discurso de ódio ou desinformação?
Sharon e Robert estão vivendo seu momento Alberto Roberto. É preciso ser canastrão além da conta para construir um inimigo imaginário em bases tão precárias
É preciso fingir que não houve quatro anos de Trump na Casa Branca - período sem qualquer sombra de gestão autoritária, por qualquer aspecto que se queira analisar: social, cultural, econômico, humanitário.
Trump saiu da Casa Branca após uma das eleições mais acidentadas da história do país, em plena pandemia. Quase quatro anos depois, quando escapou de um atentado por milímetros, manteve o mesmo princípio de não colocar os americanos contra suas instituições. É um político de retórica agressiva, mas o chamado à divisão nacional não faz parte da sua mensagem.
É claro que a bolha hollywoodiana usa e abusa da dualidade etérea “direita x esquerda” para fingir que está numa trincheira “progressista” e “humanitária” contra o “extremismo antidemocrático”, etc. Não há nada no comparativo das gestões Trump e Biden que confirme essa miragem - nem mesmo a medição das tensões internacionais, que esse tipo de demagogia adora utilizar. Exemplo: Meryl Streep, outra estrela profética, chegou a dizer ainda em 2016 que Trump levaria o mundo à Terceira Guerra Mundial.
Sucedeu-se então o período mais estável nas relações com a Coreia do Norte e demais líderes da beligerância internacional. Aí Meryl mudou de assunto. Eles mudam de assunto como quem muda de roupa (dependendo da complexidade do figurino, mudar de assunto fica bem mais fácil).
Ao chamar uma sociedade inteira de “arrogante e ignorante”, Sharon Stone implora por um espelho. Mais cedo ou mais tarde, essa imagem refletida chegará não só a ela, mas a toda uma casta que passa pela imprensa, pelos meios acadêmicos e outros focos de teses furadas e virtudes de laboratório. Aí talvez todos se lembrem da mensagem histórica do humorista Ricky Gervais e entendam que nunca estiveram em condições de dar lição de vida a ninguém.