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– Opa, tudo bem?
– Tudo indo. E com você?
– Tudo indo também. Quer dizer: indo é bondade. Tudo meio parado.
– Aqui no ônibus pelo menos a gente anda.
– Isso é verdade. Você sobe sempre nesse ponto?
– Sim. Moro aqui.
– E vai saltar onde?
– Aqui mesmo.
– Como assim? Você mal entrou e já vai saltar?
– Não, agora não.
– Você não disse que saltaria aqui mesmo?
– Isso. Daqui a duas horas mais ou menos.
– Ah, tá. Mas antes de voltar ao seu ponto daqui a duas horas e ir pra casa você vai saltar onde?
– Lugar nenhum.
– Não entendi. Pra onde você tá indo agora?
– Pra casa.
– Mas você acabou de sair de casa e pegar esse ônibus!
– Eu sei. É que o lugar pra onde eu iria não posso ir.
– Que lugar?
– Praia. Eu vendo biscoito na praia.
– Certo. E hoje você não vai vender.
– Não.
– Por causa do vírus?
– É.
– Não tem gente na praia pra comprar.
– Tem.
– Então não entendi.
– Tá proibido vender biscoito.
– Ah... Descobriram que o biscoito é contagioso?
– Não sei. Só sei que não pode vender.
– Então você saiu de casa pra voltar pra casa?
– Acho que foi mais ou menos isso.
– Desculpe perguntar: se não pode trabalhar, por que você saiu de casa e se meteu num ônibus lotado?
– Porque lá em casa tá lotado também.
– Ah, é?
– É. Todo mundo é ambulante. O meu mais velho botou uma música e já veio um guarda perguntar se era festa. Que não pode festa.
– O que vocês responderam?
– Nada. Falei pro garoto desligar a música e foi todo mundo pegar ônibus.
– Ônibus não tem problema, né?
– Não. Ônibus é tranquilo.
– Pelo menos isso.
– É. Acho que esse vírus tá mais é certo.
– Por quê?
– Eu também prefiro biscoito que ônibus.
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