Fabio Assunção avisou que o texto que circula nas redes com sua assinatura, sobre seus problemas de dependência química, não é dele. O suposto desabafo de uma vítima do vício tinha sido repassado por muita gente, célebre ou não, especialmente como repúdio ao uso de uma máscara de carnaval com o rosto do ator. Essa solidariedade ao Fabio é tão autêntica quanto o desabafo que ele não fez.
O clube dos condoídos com o drama do artista sabe bem por quem sofrer. Alexandre Borges – tão talentoso quanto Fabio, ou mais – passou por problema semelhante, foi avacalhado de todas as formas e ficou à míngua. Onde estava o clube dos condoídos?
Esse mundo onde determinada pessoa pública não pode ser satirizada não existe. Especialmente para as pessoas que usam seu apelo público como poder (legítimo) sobre os outros – fazendo julgamentos, provocações, campanhas e eventualmente apologia, de cara limpa, aos ladrões mais simpáticos da nação, como foi o caso de Fabio Assunção com o PT.
Você foi invadido por toneladas de notícias do Fabio barbarizando por aí, dando defeito na rua, no trabalho, na política – e tudo bem, o cara tem um problema que todos querem que ele supere. Mas a caricatura do porralouca à solta quem criou foi ele próprio – com a ajuda dos que gostam dele e não souberam preservá-lo do derrame.
Não adianta o clube dos condoídos seletivos querer decretar que uma caricatura não existe – por mais prepotentes que esses ungidos sejam. Aliás, vale registrar que a caricatura do Fabio tem seu lado simpático (sempre há certo carisma na porralouquice) e o meme “sextou” com a foto dele de barba bíblica já é uma tradição entre os que irão botar alegremente o pé na jaca.
De boêmio para boêmio: vai pro crime? Bota a foto do Fabio. Muito maluco beleza deve até considerar isso uma homenagem. Daí a querer embargar uma máscara de carnaval alegando tratamento desumano a uma vítima, só com uma dose caprichada de hipocrisia on the rocks. Ou melhor, cowboy.
E lá foram os indignados de ocasião espalhando por aí o falso texto do Fabio para patrulhar, basicamente, todo mundo.
É um espírito bem resumido por essa nova geração de humoristas que, na era petista, se notabilizou pelo sofisticado exercício do humor a favor – haja coragem – e vive fingindo que o Brasil detesta minorias. Mas quando um Jean Wyllys (o meme ambulante) declara que “Lula está livre em mim”, esses bravos comediantes ficam sérios e batem continência. E olha que a piada já estava pronta, bastava rir.
É típico dessa casta politicamente correta, do alto do seu edifício de valores postiços, querer decidir quem pode rir de que. Vivem de apontar o dedo para os outros, de criar supostos conflitos morais para poder chamar alguém de racista, machista ou fascista – enfim, são os novos moralistas fantasiados de libertários. Eles não têm a menor graça.
Chegaram a comparar uma dessas filmagens de celular mostrando Fabio Assunção dando defeito em público aos que filmaram o acidente fatal do Boechat sem ajudar. Um disparate desses, cometido logo após a morte terrível do jornalista, não é só uma falta grave de senso de proporção. Em primeiro lugar, é um atestado de sangue de barata. Em segundo lugar, é uma prova de que o solidário de laboratório não vê nada na sua frente quando a missão maior é puxar o saco da pessoa certa.
Fabio Assunção (com a complacência dos eventuais responsáveis por ele) assumiu riscos altos na forma de lidar com seu vício. Expôs outras pessoas, agrediu, exorbitou de várias formas, transformou notoriedade em prepotência, reincidiu diversas vezes, cansou a beleza da plateia e construiu, milimetricamente, a sua própria caricatura. As obras completas são dele – sem coautor.
Amy Winehouse morreu aos 27 anos porque virou espetáculo não só de porralouquice, como de falsa solidariedade do seu meio. Não teve ninguém que gostasse dela o suficiente para dar-lhe a dura definitiva que o Fabio deve estar pedindo aos céus para levar de alguém. Infelizmente os amigos e simpatizantes virtuosos estão muito ocupados confeccionando sua máscara humanitária para o carnaval.
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