Palocci incluiu no seu acordo de delação garantia de vida para si e para sua família. Ele não quer ser Celso Daniel. Ao mesmo tempo, começou o lobby em favor de prisão domiciliar para Lula. Não podem ser notícias vindas do mesmo planeta.
O homem bomba é Palocci. Durante um bom tempo, muito inocente de boa fé apostava numa delação premiada de José Dirceu. Veja como é falha a compreensão geral do que se passa no Brasil do século 21.
Delação de Dirceu não existe, por um motivo muito simples: ele não tem o que ganhar em troca. Tudo ou quase tudo que se dispuser a revelar aumentará sua pena – porque ele estava no comando de quase tudo. A não ser que diga que foi tudo culpa do Temer, como fez Joesley com a cobertura de Janot e da imprensa FreeBoy.
Mas não adianta. Como se viu no caso acima, mentir para a polícia vai, mais cedo ou mais tarde, piorar a situação do mentiroso.
José Dirceu não fez e não fará delação nenhuma pelo motivo exposto e porque está, inacreditavelmente, solto. O único que terá o condão de corrigir esse disparate é o homem bomba. E mandar Lula para casa a essa altura – com as investigações prestes a comprovar o esquema dele em toda a sua amplitude – só poderia ser entendido de duas formas: esquizofrenia ou bandidagem.
Outra aberração prestes a ser corrigida pelas revelações de Palocci é a impunidade de Dilma Rousseff. Janot e o STF passaram quatro anos rebatendo, na mão grande, toda a torrente de indícios criminais contra Dilma – proporcionando a ela uma impressionante virgindade judicial.
Agora ela finalmente é ré no tal “quadrilhão do PT” – processo oriundo de uma denúncia confusa, retórica e dissimulada, como tudo que provém da lavra de Rodrigo Janot. Trata-se de uma peça oportunista, apresentada pelo ex-procurador geral no apagar das luzes do seu mandato, quando sua conspiração com Joesley, Miller e Facchin (e cobertura de Cármem Lúcia) tinha ido para o brejo – após o vazamento do áudio bêbado de Joesley entregando toda a armação.
Aí o companheiro Janot, que foi uma mãe para Dilma e o PT, deu sua pirueta estratégica no melhor estilo engana trouxa (o que não falta na sua plateia). Ofereceu uma denúncia carnavalesca que faz um cozidão (termo mais adequado que quadrilhão, já que o autor mancheteiro curte um adjetivo) de delitos de Lula, Dilma, Palocci, Mantega, Dirceu, Vaccari e companhia. Um trabalho porco feito por um personagem que meses depois estaria declarando, publicamente, seu voto em Haddad.
Como você talvez ainda se lembre, Haddad é Lula.
O juiz da 10ª Vara Federal de Brasília aceitou esse monstrengo certamente como ponto de partida para conduzir o processo na linha que for mais consistente. De saída, o status de ré para Dilma Rousseff ajuda a quebrar a redoma de hipocrisia em torno da presidenta mulher golpeada – que ainda está passeando pelo mundo com dinheiro do contribuinte para inventar história triste.
Mas é a bomba, ou as bombas de Palocci que virarão de fato esse jogo.
A negociata de Pasadena, a cobertura para o tráfico de influência de Erenice, as tentativas de obstruir a Justiça e a Lava Jato tentando comprar o silêncio de Cerveró e blindar João Santana e Monica Moura, a operação criminosa para tentar salvar Lula da Justiça nomeando-o ministro, toda a condescendência explícita com o banditismo dos diretores da Petrobras prepostos do PT, etc…
Para não falar no crime das pedaladas, no qual acabam de se tornar réus Mantega, Bendine (BB) e Augustin (Tesouro), entre outros. É uma floresta de crimes, todos supervisionados e abençoados por Lula – esse pobre homem perseguido e injustiçado que os áulicos de sempre querem mandar para casa.
Diferentemente do cozidão de Janot, há investigações eficientes e focadas, como a da lavagem de dinheiro na negociata com a Guiné Equatorial (Lula acaba de ser denunciado pelo MPF de São Paulo), que se somarão aos processos igualmente bem conduzidos do triplex do Guarujá e do sítio de Atibaia. Palocci pode ajudar muito a elucidar as triangulações entre BNDES, ditaduras amigas e empreiteiras idem.
A Justiça só pôs a mão numa fração do maior escândalo da história.
É interessante ver o ex-chanceler de Lula, Celso Amorim, preocupado com os rumos da política externa do novo governo. Diplomacia boa é a que dá cadeia – e a que faz espirrar sangue no quintal dos facínoras gente boa como Nicolás Maduro.
O Brasil está entrando numa conjuntura em que, se Palocci não virar Celso Daniel, essa página infeliz da nossa história começará de fato a ser virada.
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