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O Brasil levou um susto neste 15 de novembro. Em meia à celebração da data histórica, veio a bomba: a Proclamação da República estava revogada. Foi um Deus nos acuda. Boataria, confusão, informações desencontradas e a crise de identidade já pairando sobre o povo brasileiro quando veio a confirmação oficial: o Supremo Tribunal Federal anulou o ato que inaugurou o regime republicano no país.

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Crise. O dólar só não foi à Lua por ser feriado – mas bem que o STF tentou decretar dia útil para dar mais uma apimentada no mercado de câmbio, o que só não foi possível porque o ministro Marco Aurélio Mello já tinha feito o check in e declarou não ia correr o risco de passar o 15 de novembro no Brasil nem a pau. “Só fico aqui para azucrinar”, sustentou sua excelência. “Para relaxar existe lugar melhor”.

Teve a concordância imediata do presidente da corte, Dias Toffoli, encerrando a questão: “Você tem razão”. Marco Aurélio voou enfurecido no pescoço de Toffoli, aos gritos de “você” é a p… q… p… Muito hábil, Toffoli acalmou o colega em 30 segundos com uma resposta brilhante: “Minhas profundas, condoídas e perpétuas escusas, excelência, fulgurante excelência. Jamais voltarei a me dirigir à sua magnífica, soberana e inalcançável pessoa por meio de tratamentos incompatíveis com a exuberante divindade da sua aura”.

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“Aura sacerdotal”, corrigiu Marco Aurélio, já mais calmo. “Exato, foi o que eu quis dizer”, encerrou Toffoli.
Na saída do plenário a imprensa estava alvoroçada com a decisão surpreendente do STF que revogava a Proclamação da República. Os jornalistas cercaram o ministro Gilmar Mendes para ouvir a explicação sobre os motivos da medida revolucionária. Ex-vilão favorito da mídia nacional, Gilmar tinha se tornado o queridinho dela, por essas mágicas da vida, e estava até sorrindo pela primeira vez em várias décadas de existência.

Com o carisma e o alto astral sintonizados ao momento épico, Gilmar Mendes esbanjou clareza e eloquência na fundamentação da decisão histórica do Supremo.
Ele explicou que o ato de 1889 foi anulado por um motivo simples: na ocasião, os advogados de Lula e de José Dirceu não tiveram respeitado seu amplo direito de defesa do regime que pretendiam implantar em lugar da República – a Cleptocracia – o que, no entender do STF, torna ilegítima a Proclamação pelo princípio da presunção de mortadela (já que ninguém vai gastar presunção de presunto com massa de manobra, muito menos a presunção de lagosta do Supremo).

Salvo algumas exceções fascistas, a euforia da imprensa com a declaração do companheiro Gilmar foi indisfarçável. Quiseram saber quanto tempo, a partir da decisão histórica do STF, seria necessário para a tão sonhada implantação da Cleptocracia no Brasil. A resposta foi um banho de esperança: na verdade, o regime dos cleptocratas (baseado no assalto institucionalizado ao contribuinte para o bem comum da quadrilha) já estava testado e aprovado pela suprema corte – só faltando remover do caminho o inimigo número um dos ladrões honestos, Sergio Moro, responsável pela interrupção da vigência cleptocrática. Um detalhe.

Mas que ninguém se preocupasse com esse incidente, porque o STF já estava em contato com os melhores hackers do país para julgar a suspeição de Moro com base numa cadeia impecável de intrigas montadas a partir de material roubado absolutamente transparente e confiável. Moro e os fascistas não contavam com a tecnologia de primeiro mundo da quadrilha do bem para defender a democracia trans.

Imediatamente começaram a aparecer as pesquisas indicando que, se as eleições fossem hoje, Lula seria eleito Imperador da Cleptocracia em primeira instância, sem chance de habeas corpus. Impaciente, um estrategista de mídia objetou: “Vamos parar com esse papo de ‘se as eleições fossem hoje’. Vamos dizer que as eleições são hoje!” A ideia foi prontamente levada ao STF, que aceitou legalizá-la no grito desde que tudo fosse feito com a máxima segurança pelo Método Evo Morales de escrutínio assistido. “Todo cuidado é pouco”, explicou Lewandowski.

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Para criar um clima positivo visando a recleptocratização do país, a elite intelectual importou uns black blocs do Chile e a música popular reproduziu a sonoridade dos fuzileiros do Maduro – tudo em paz e harmonia para que a destruição do Brasil não afrontasse, em nenhuma hipótese, os direitos humanos do povo massacrado. A ONU aprovou – e soltou um comunicado internacional com a foto de Dilma Rousseff fazendo um coraçãozinho com as mãos.

Foi difícil, mas finalmente o bem triunfou. Hoje se agiganta no Eixo Monumental a estátua imponente do herói Gilmar Mendes – visível de qualquer fila do papel higiênico que você esteja.