A cantora Lady Gaga fez uma parceria com a Organização Mundial da Saúde para a realização de um show virtual com o slogan "Juntos em casa". Foi uma ação para reforçar a mensagem do isolamento social e para arrecadar fundos para populações carentes atingidas pela epidemia. Na véspera do seu agradecimento à cantora pela iniciativa, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que o isolamento social total (horizontal) é uma medida que não serve necessariamente para todas as regiões do mundo.
A OMS nunca tinha sido tão explícita na relativização do lockdown. Algumas semanas antes, Tedros fizera referência aos problemas da medida para os que precisam circular diariamente para cavar sua subsistência. Os defensores de medidas de circulação controlada – lockdown vertical – citaram a fala do diretor da OMS para reforçar seus argumentos, mas a entidade desautorizou essa interpretação – indicando que o problema dos trabalhadores informais deveria ser compensado emergencialmente pelos governos.
O novo "statement" de Tedros Adhanom sobre o assunto, porém, veio modificar a diretriz do isolamento social em favor da sua flexibilização – e dessa vez a entidade não desautorizou os entendimentos nesse sentido. Ou seja: a OMS agora afirma que o distanciamento total não é a medida recomendável para todas as regiões – devendo ser flexível naquelas (especialmente nos países emergentes) onde, por exemplo, crianças e adolescentes ficarão sem sua refeição diária se não puderem ir à escola. Ou onde haja um contingente significativo de pessoas dependentes de circulação física para obter o seu "pão diário" (palavras de Tedros).
As ressalvas ao lockdown estão, naturalmente, inseridas no contexto das medidas de higiene e distanciamento pessoal, não aglomeração e isolamento dos grupos de risco – essas incondicionais e intocáveis. Ou seja: dependendo das condições sociais e da evolução local da epidemia, a OMS diz que o confinamento não só pode como deve ser parcial.
Até recentemente, quem propusesse esse tipo de flexibilização do confinamento tendia a ser tratado como inconsequente, no mínimo. Em boa medida ainda tem sido assim. Pode-se dizer que o tabu em torno do "fique em casa" radical e inegociável provém da própria postura anterior da OMS – cuja mensagem estabelecia o lockdown total como a única diretriz cientificamente responsável. Esse rigor absoluto foi sedimentado com a adesão das populações assustadas – e, portanto, determinadas à tolerância zero com riscos – e também de governantes locais, divididos entre os realmente comprometidos com a segurança da população e os que viram aí uma oportunidade de exercício autoritário do poder (e, eventualmente, de manipulação orçamentária).
O show de Lady Gaga e outras celebridades (como qualquer evento desse tipo) reforçou uma única mensagem, que é a do "fique em casa" – naturalmente sem espaço para esclarecer a flexibilização proposta pela OMS. Essa flexibilização é necessária justamente para as populações socialmente vulneráveis – aquelas às quais a campanha dos artistas pretende ajudar. Ou seja: a boa arrecadação do evento "Juntos em casa" possivelmente não irá suprir nem uma fração das perdas provocadas pelo confinamento total (e a decorrente asfixia social) que o show ajudou a perpetuar.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas