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Votar na liberdade
| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O segundo turno da eleição municipal em Curitiba é bastante representativo para a política nacional. Não só para a política: para a vida nacional. Aos que estiverem preocupados com liberdade no país - e quem não está, deveria - a disputa pela prefeitura da capital paranaense traz demarcações essenciais.

Deltan Dallagnol disse que a jornalista Cristina Graeml não tem perfil de gestão. Ele poderia ter procurado uma justificativa melhor para sua opção. Se cargos executivos devessem sempre ser ocupados por pessoas experientes em administração pública, a renovação política que o próprio Dallagnol pretende representar seria impossível.

A posição do ex-procurador da Lava Jato tem peso por ser ele conhecido como uma espécie de guerreiro anti-sistema. Seu papel na maior operação contra corrupção da história do país embasa com justiça essa fama. Por outro lado, Dallagnol nem sempre esteve posicionado, por assim dizer, no enfrentamento ao “sistema”.

Quando o “sistema” tentou virar a mesa contra o então presidente Michel Temer, o procurador da República não estava entre os críticos das ações espetaculosas do procurador-geral Rodrigo Janot. Ao contrário, Dallagnol estava bem sintonizado com a imprensa que tratava o cerco a Temer como mais um capítulo da Lava Jato. Hoje o ex-deputado tem tido papel relevante na crítica à judicialização da política pelo “sistema”.

Frequentemente é difícil estabelecer quem esteve do lado certo da história - especialmente da história recente

Por isso mesmo algumas premissas não podem aparecer como definitivas - ainda mais em momentos complexos como o da pandemia, que tem oposto Cristina Graeml e o candidato apoiado por Deltan, o vice-prefeito Eduardo Pimentel. 

A administração municipal de Curitiba esteve entre as mais rigorosas na aplicação de diretrizes sanitárias que hoje têm sido bastante discutidas no mundo todo. Os critérios para as regras especiais de convivência e de enfrentamento ao vírus naquele período acabam de ser questionados de forma significativa, por exemplo, no Congresso dos EUA - com a maior autoridade de Saúde do país na pandemia, Dr. Anthony Fauci, admitindo que várias das diretrizes impostas não provinham de estudos científicos. 

Cristina Graeml fazia os questionamentos que estão sendo feitos pelos parlamentares norte-americanos. O ex-deputado Paulo Martins, candidato a vice de Pimentel, também discutiu durante a pandemia a eficácia das medidas de segurança sanitária adotadas majoritariamente pelas autoridades na época. Eventuais erros ou abusos têm de ser revistos para o aprimoramento das políticas públicas - especialmente numa emergência global de saúde - e não transformados em tabu e instrumento de estigmatização de um lado ou de outro. 

Os apoiadores de Cristina Graeml frequentemente se referem a ela como representante da “verdadeira direita”. A própria jornalista sempre usou bastante essa conceituação (“direita x esquerda”) - uma simplificação bastante questionável dos valores em jogo, embora possivelmente ajude a captar votos. A disputa pelo apoio do ex-presidente Bolsonaro mobiliza os dois lados e até o polêmico furacão Marçal também entrou nessa - tudo com o pano de fundo da definição de quem é a “verdadeira direita”.

A disputa não deveria ser sobre quem é a direita. Muitos aventureiros já usaram esse crachá. A pergunta é: quem de fato esteve e estará do lado da liberdade - que vem sendo aviltada de várias formas, em escala crescente? Para a eleição e para a vida, esse é o critério mais seguro de escolha.

Conteúdo editado por:Aline Menezes
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