De acordo com portal, Luciano Hang (foto) está entre os empresários que trocaram mensagem de apoio a um eventual golpe militar.| Foto: Anderson Riedel/PR
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Na semana passada, as arcadas da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo testemunharam mais uma celebração à democracia. Inspirados no professor Goffredo da Silva Telles Junior, que em 1977 denunciou a ilegalidade do golpe e do regime militar, juristas, acadêmicos, empresários, políticos, artistas, profissionais liberais, num conjunto de mais de um milhão de pessoas, subscreveram a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito.

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Apesar de o documento não ter referências à políticos ou partidos, acabou sendo tomado como um ato eleitoral por Jair Bolsonaro e seus esbirros. Em entrevista para uma rádio no Rio Grande do Sul, o presidente disparou: “Esse pessoal que assina esse manifesto é cara de pau, sem caráter, não vou falar outros adjetivos, porque sou uma pessoa bastante educada”.

Enquanto democratas usam espaços públicos para se mobilizar em defesa do Estado de Direito, golpistas usam o submundo das redes sociais para exercitar o desejo insano por uma quartelada.

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Permanece o desafio: que se identifique como e quando a referida carta é partidária, em qual trecho ela manifesta preferência por candidaturas ou ideologias. Nada ali sugere isso. Faz, isso sim, a devida crítica aos ataques que nossas instituições vêm sofrendo, bem como ressalta a necessidade de preservação dos valores republicanos que estão sendo esgarçados na esteira do contínuo questionamento da lisura do processo eleitoral. Apontei aqui na Gazeta do Povo que nunca antes uma ode à democracia “gerou tanta controvérsia, tanto ruído, tanto alvoroço e tanta contrariedade entre sedizentes democratas”.

Essa gente que subiu nas tamancas por conta do documento lido na USP agora silencia, relativiza ou até defende o que foi dito por empresários bolsonaristas em um grupo de WhatsApp. Mensagens reveladas pelo portal Metrópoles mostram figuras como Luciano Hang, da Havan, André Tissot, do Grupo Sierra, Porongo, da Mormaii, Meyer Nigri, da Tecnisa, Ivan Wrobel, da W3, Afrânio Barreira, do Coco Bambu, José Koury, do Barra World Shopping, e José Isaac Peres, da shoppings Multiplan, defendendo um golpe de Estado em caso de derrota de Jair Bolsonaro na eleição.

“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes”, disse Koury. Por sua vez, outro empresário, Wrobel, defendeu a intimidação militar como forma de evitar a suposta fraude das eleições: “Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”, escreveu. Já Tissot foi além, e defendeu que o golpe deveria ter acontecido no início do governo: “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo. (...) 2019 teríamos ganhado outros 10 anos a mais”.

Havia alí até quem propusesse a luta armada em nome do presidente. Foi o caso de Morongo, que postou: “Se for vencedor o lado que defendemos, o sangue das vítimas se tornam [sic] sangue de heróis! A espécie humana SEMPRE foi muito violenta. Os ‘bonzinhos’ sempre foram dominados… É uma utopia pensar que sempre as coisas se resolvem na boa”.

Questionado sobre o teor das mensagens de seus simpatizantes, Bolsonaro reagiu atacando o colunista Guilherme Amado: “Você tá de brincadeira, esse cara é o fim do mundo, uma fábrica de Fake News”, disse. Ao invés de repudiar que alguém use sua figura política para a defesa de uma intervenção militar ilegal, o presidente preferiu atacar o jornalista responsável pela informação. É uma escolha moral, seguida também por muitos dos apoiadores do presidente.

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Procurados para comentar suas mensagens, os empresários bolsonaristas passaram panos quentes no teor do que publicaram. Afinaram ante a cobrança. Enquanto democratas usam espaços públicos para se mobilizar em defesa do Estado de Direito, golpistas usam o submundo das redes sociais para exercitar o desejo insano por uma quartelada.