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A essa altura dos acontecimentos, não surpreende que Damares Alves e Marcelo Queiroga tenham protagonizado uma patuscada antivacina por conta da ocorrência em Lençóis Paulista, município que registrou um caso de parada cardíaca em criança após imunização. Informados da situação, a titular do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e seu colega da Saúde embarcaram imediatamente em um avião com destino a Botucatu. Em seu Twitter escreveu que foram “abraçar a família, prestar solidariedade e garantir o acompanhamento de perto do caso além do atendimento das necessidades imediatas”.
Em dois anos de pandemia, Damares Alves nunca teve a preocupação de prestar solidariedade às famílias de crianças vítimas da Covid-19. Segundo dados do sistema Sivep-Gripe, plataforma que reúne informações de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave, entre março de 2020 e dezembro de 2021 foram registradas 1.449 mortes nas faixas etárias entre 5 e 11 anos. É a segunda causa mortis nesse grupo, na frente de gripe comum, pneumonia, doença circulatória e câncer no cérebro.
A ida de Damares e de Queiroga até Botucatu atendia um propósito exclusivamente político, já que se tratava de um caso de potencial reação adversa à vacina. Ocorre que não se tratava de efeito colateral do imunizante. O Centro de Vigilância Epidemiológica apresentou laudo concluindo que a menina tinha uma síndrome cardíaca rara. Buscou-se analisar se havia causalidade entre a parada cardíaca e a aplicação do imunizante, o que acabou descartado pelos integrantes do Grupo de Trabalho em Eventos Adversos Pós-vacinação da Comissão Permanente de Assessoramento em Imunizações.
Ainda que com o devido esclarecimento técnico, os ministros não apenas não se manifestaram como as postagens originais de Damares continuam em suas redes sociais. Queiroga, que foi presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, deveria ter a decência de, como autoridade máxima da saúde, reforçar a não associação entre a vacina e a parada cardíaca.
Mas o que esperar de quem falsifica o número de mortes associadas ao processo de imunização? Em entrevista para a Jovem Pan, o Ministro da Saúde deu informações que conflitam com os dados epidemiológicos de sua pasta. Desmentido pelos fatos, apelou à dissimulação, confundindo deliberadamente notificações de óbitos ainda sob investigação com aqueles com ligação devidamente comprovada.
O que se viu em Botucatu foi a tentativa de se armar um circo, um espetáculo grotesco de exploração política para usar o caso de uma criança doente de modo a reforçar o discurso contra a imunização infantil. As condições ideais para isso estavam postas, inclusive com a decisão precipitada da prefeitura de Lençóis Paulista em suspender a vacinação. Felizmente os caçadores de mal súbito viram frustradas suas expectativas. A menina está bem, e a vacinação continuará.